Você se surpreendeu ao saber que houve corrupção numa estatal? E que envolveu funcionários pagos com seu dinheiro?
Nenhum se arrependeu. Nenhum sentiu vergonha. Desmentiram
Freud, para quem a vergonha, ao causar uma reação involuntária no corpo — o
rubor — mostra ser tão forte quanto o desejo sexual ou o asco, que não
conseguem controlar as reações físicas que despertam. Mas nossos “heróis” não
têm vergonha, não se arrependem, não reconhecem que fizeram nada errado. São
juízes de si mesmos e se absolvem.
Isso é surpreendente. Mas os escândalos em série não
chegaram a surpreender ninguém. Você se surpreendeu ao saber que houve
corrupção numa estatal? Ou ao saber que ela envolveu empreiteiros e
funcionários pagos com seu dinheiro? A ingenuidade brasileira não chega a
tanto. Aceitava essa existência como parte do aparelhamento. Algo inevitável,
que se varre para baixo do tapete ou se faz de conta que não há. Quando agora
se fala em corrupção espantosa, o espanto não é porque ela existiu. É com o
montante dos valores, o caráter sistemático, a alta hierarquia dos envolvidos,
a sua ligação direta com quadros partidários. E com a investigação equilibrada
que não entornou antes da hora, não fez estardalhaço prematuro antes das
eleições de modo a tumultuar o pleito, administrou bem as delações premiadas,
se escorou em informações confiáveis sobre o dinheiro, checou dados com o
exterior, talvez recupere parte do prejuízo. E parece caminhar por partes, um
passo de cada vez, só indo para a etapa seguinte quando já amarrou a anterior
com alguns nós bem apertados.
E os que mandam em tudo? Não têm mesmo culpa nenhuma? Nenhuma responsabilidade? Não sabiam de nada? Reconhecem que perderam a autoridade e foram enganados por subalternos que lhes davam relatórios fajutos enquanto praticavam malfeitos? Serão culpados apenas de incompetência e boa-fé? Ou sinceramente acreditavam que em nome de interesses mais altos para o país deviam fechar os olhos? Que interesses? Seu projeto de poder? A infalibilidade da causa e do projeto que defendem? Querem que o povo aceite que há um teto de corrupção inerente ao sistema e propõem uma espécie de franquia para isso? De quanto acham que seria palatável? Ou será que se envergonham?
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