O lago, de Antonio Parreiras (1860-1937) |
domingo, 31 de agosto de 2014
Lula e o segundo mandato de Dilma
O que se viu no primeiro governo do ex-presidente foi a
manutenção da política macroeconômica que vinha sendo adotada.
No primeiro programa de propaganda eleitoral do PT, há uma
parte em que Lula reconhece tacitamente que Dilma tem pouco a mostrar. E tenta
convencer o eleitor a lhe dar outra chance: “...Eu quero falar especialmente
para você, que está em dúvida se deve votar ou não na Dilma. Eu lhe peço, vote
sem nenhum receio. Fique certo de que você não vai se arrepender.”
O que desperta interesse é a argumentação utilizada. Lula
começa por alegar: “O meu segundo mandato foi melhor do que o primeiro. Com
Dilma, tenho certeza de que vai ser assim também. No meu segundo mandato, eu
tive mais segurança, mais experiência e mais apoio para acelerar projetos que
estavam em andamento e para lançar muita coisa nova.”. E, em seguida, pergunta:
“Já imaginou o prejuízo que o país teria sofrido se eu não tivesse um segundo
mandato? Se outro qualquer tivesse chegado querendo inventar a roda e parado
quase tudo?”
Chama a atenção que, a essa altura dos acontecimentos, Lula
ainda queira fazer crer que seu segundo mandato foi melhor do que o primeiro.
Do ponto de vista do desempenho da política econômica, o primeiro mandato de
Lula foi muito melhor do que o segundo.
Lula pode até ter preferido seu segundo mandato, mas foi exatamente nesse período que a política econômica petista começou a descarrilar. O que o país tem presenciado, desde então, é o inexorável desenrolar do desastre, como num grande acidente ferroviário filmado em câmara lenta. E Lula ainda acha que Dilma merece outra chance.
Na bucha
Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
-“Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie(escritor José Roberto Torero, na seção Inquérito do jornal Rascunho)
sábado, 30 de agosto de 2014
A reeleição de Dilma está nas mãos de Lula
O desafio do ex-presidente seria desconstruir a imagem de Marina, vista pelo brasileiro como sua reencarnação
Há apenas dois meses, analistas políticos do Partido dos
Trabalhadores (PT) tinham certeza de que nem os maus resultados da economia
seriam um obstáculo para uma nova vitória da candidata Dilma Rousseff. O motivo
de tal esperança era a força outorgada ao apoio com que contava o carismático
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Existia a convicção de que em plena campanha a presença do
ex-sindicalista, que continua sendo o motor do PT e seu líder mais ouvido,
poderia ser definitiva para convencer sobretudo o eleitorado de renda mais
baixa, mas até mesmo empresários e banqueiros, de que um segundo mandato de sua
pupila seria melhor do que o primeiro. Mais ainda: que em tal segundo Governo
sua presença seria mais forte e decisiva.
Tudo isso acabou sofrendo uma reviravolta e até posto em
dúvida depois da chegada do furacão Marina Silva, nas asas do avião-fantasma da
tragédia que acabou com a vida do líder socialista, Eduardo Campos.
As últimas notícias negativas sobre o estado de saúde da
economia brasileira, como a entrada em recessão técnica e as previsões de um
PIB que poderia beirar o zero, estão convencendo os últimos otimistas do PT, e
alguns de seus aliados de Governo mais fiéis, de que a esperança agora de uma
vitória de Dilma no segundo turno dependeria exclusivamente da capacidade de
Lula, de sua força real para conseguir para ela os votos suficientes para não
chegar à segunda tragédia destas eleições, desta vez não sangrenta, mas, sim,
com gosto amargo de catástrofe, a de uma derrota histórica do PT.
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Analfabeto político e faminto
Petista roxo de hoje, assim como foi peemedebista ontem e
sempre esteve com os governos, mesmo autoritários, está à solta. Analfabeto
funcional, ouve cantar o galo nem sabe onde, quem, como, quando e por que.
Enfim, um perfeito cidadão adequado a qualquer situação. Desde que possa tirar
sua casquinha, ter algum privilégio.
Para esses cidadãos e cidadãs, todos são criminosos, mas só
os seus eleitos são menos bandidos. Iguais aos outros, com a diferença de poder
oferecer uma dádiva qualquer. Da dentadura, do saco de cimento, ou ao máximo de
um carguinho para familiares.
Essa cretinice é de um país ainda marcado pelo coronelismo,
do qual muitos falam que saímos, mas não deixemos de lá ter raízes. A maior
parte dos eleitores são satélites de um nome político, de uma sigla, de uma
ideia sem pé nem cabeça, mero esboço do que nem se sabe o que é. Não importa,
qualquer farelo, no caso, serve para contentar. Engolem com satisfação as
migalhas, lambem os beiços, levam a vida satisfeitos na acomodação da
miserabilidade moral e ética. Como não têm nem uma nem outra, qualquer governo
serve para seus instintos, porque não passam de animais querendo tirar proveito
mesmo da porcaria.
Sebastianismo brasileiro
Marina Silva, a herdeira da candidatura de Campos, é a figura mais perigosa com a qual o PT se poderia chocar
Em 4 de agosto de 1578, Sebastião I, de Portugal, morreu na
batalha de Alcácer-Quibir. Assim nasceu o sebastianismo, um movimento que
profetizava o retorno do monarca morto para conduzir a nação. O mito se
arraigou no Nordeste brasileiro e adquiriu com os séculos diversas modulações.
A confiança em que a morte possa prover a política de uma redenção messiânica
parece visitar de novo o Brasil nestes dias. As emoções desatadas pelo trágico
desaparecimento de Eduardo Campos, o candidato presidencial do Partido
Socialista Brasileiro (PSB), revolucionaram a campanha. Campos é, post
mortem, o representante de muitos cidadãos que mal o conheciam quando estava
vivo. Essa canonização agiganta a sua vice, Marina Silva, que ocupou o seu
lugar. Dilma Rousseff nunca suspeitou que sua reeleição enfrentaria um desafio
tão arriscado, tão inesperado.
A fórmula inicial do PSB tinha a extravagância de que Marina
era muito mais conhecida do que Campos. Em 2010, ela havia conseguido 20
milhões de votos como candidata a presidente. E em meados de 2013 superava
Dilma nas pesquisas. Com a morte de Campos o risco para Dilma se multiplicou.
Segundo o Datafolha, Marina deslocou Aécio Neves, do PSDB, para o terceiro
lugar. O PSB passou de 8% para 21%. Em um eventual segundo turno contra Dilma,
Marina triunfaria.
A herdeira de Campos é a figura mais perigosa com que o PT
se poderia chocar. Não é, como Aécio, um antibiótico. É uma vacina. É composta
de uma substância parecida com a de seu rival.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Sem sonhos, a vida seria ensaio para a morte
O Brasil pode estar na véspera de alçar sem medo o voo para novos caminhos de esperança
O Brasil é um país que dificilmente saberia viver sem
sonhos, talvez porque durante muito tempo os teve frustrados. E são os jovens
os que estão resgatando mais os sonhos perdidos, incluindo na política. Eles
gostariam das palavras do cantor catalão, Manuel Serrat: “Sem sonhos, a vida
seria somente um ensaio para a morte”. E os brasileiros preferem ensaiar para a
vida.
A neurociência está demonstrando o que já nos ensinavam na
Faculdade de Psicologia da Universidade da Sapienza de Roma: se não sonhássemos
várias vezes a cada noite, ficaríamos loucos.
Mas se é certo que o organismo humano precisa sonhar a cada
noite para sobreviver, não precisamos também sonhar de olhos abertos para ser
felizes?
Sacudidos pela morte trágica do candidato socialista,
Eduardo Campos, voltou a ecoar nas eleições brasileiras a possibilidade de
sonhar também na política.
A fábula dos que sobem
O general americano Colin Powell, ex-secretário de Estado,
era filho de imigrantes jamaicanos, fazia questão de dizer que na medida em que
ascendia em posições de relevo sua origem cada vez era mais humilde e o Bronx,
bairro de classe média baixa de Nova Iorque, mais miserável.
A história se repete no Brasil aos milhares, ainda mais em
tempos eleitorais. Os políticos, preparados por marqueteiros, apresentam
biografias as mais bizarras. Querem mostrar ao eleitor, como se todos fossem
pobres e miseráveis, que se fizeram vindo do nada, do limbo, do lixo. São
iguais e pelos seus iguais irão lutar nas câmaras e governos. História da
carochinha que ainda a muitos embala.
A maioria passou longe da pobreza e agora só a frequenta por
motivo de votos. O mais é fantasia de propaganda como aquela do suposto pobre,
miserável que catava rã e barrigudinho no rio para comer. Salvo por batráquios
e peixes, subiu na vida e pôde se mostrar o mais canalha aproveitador dos
pobres. Seu fiel companheiro, e padrinho, não pode fazer o mesmo agora como
candidato. Filho de usineiro veio pra “capitá” se tornar um estudante
profissional até conseguir mostrar a cara pintada na política.
Biografia sempre foi um prato onde cabem quaisquer
fantasias. Fica a critério do freguês. E deve-se ter o cuidado de temperar na
medida ou acaba por lá na frente dar a maior indigestão. Como aconteceu com
aquela candidata que era doutora da Unicamp sem nunca ter sido ou daquela
catadora de latinhas, numa época que nem existia latinha.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Política dá dinheiro
Um dos melhores negócios do mercado brasileiro é ser dono de
partido político. Convive-se com 32 deles, dos quais duas dezenas têm bancadas
no Congresso. Na essência, diz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, se transformaram
num “agregado de pessoas que querem um pedacinho do orçamento”.
Partido político no Brasil se tornou ativo financeiro de alto retorno, sem risco e com recursos públicos garantidos por lei, elaborada e votada pelos próprios interessados.
Em ano de eleição, as doações de empresas representam cerca
de 60% das receitas declaradas, mas é do orçamento federal que sai o
financiamento das despesas regulares da estrutura e da propaganda partidária (o
horário eleitoral gratuito só é gratuito para partidos e candidatos, quem paga
a conta é o público, telespectador ou não, via isenção fiscal).
Nunca os partidos brasileiros receberam tanto dinheiro
público como neste ano: R$ 313,4 milhões, dos quais 57% já repassados.
O Fundo de Assistência Financeira, que sustenta as máquinas
partidárias, aumentou 184,5% nos últimos dez anos. Seu valor nesse período
subiu em ritmo muito acima da inflação, da correção da poupança e do salário
mínimo, da valorização da Bolsa de Valores (Ibovespa) e do Certificado de
Depósito Bancário (CDB).
Os contribuintes vão pagar, além disso, mais R$ 600 milhões
como compensação fiscal às emissoras de rádio e televisão pelo horário de
propaganda eleitoral.
Cuidado com a fúria
A ministra Carmem Lúcia, vice-presidente do STF, fez um alerta contundente durante o foro da Associação dos Advogados de São Paulo, quando disse que parece que se está “maquiando cadáver” com o problema da fúria que toma as ruas. “Este estado como está estruturado há 25 anos não mais atende mais a sociedade. O que era esperança na década de 1980 se transformou em frustração. O risco social é de se transformar em fúria. E quando a fúria ganha as ruas nenhuma justiça prevalece”
Duas esquerdas disputam o poder
As eleições presidenciais de outubro no Brasil perfilam-se
como um previsível duelo entre duas mulheres e já se fala das candidatas em
“branco e preto”, não somente pela raça, mas por suas trajetórias, uma o
contrário da outra.
As personalidades da presidenta, Dilma Rousseff, e da candidata socialista, Marina Silva, são uma espécie de assíntota de hipérbole, duas linhas que se aproximam sem nunca se encontrar. São de esquerda, mas de tonalidades diferentes. A primeira, mais da esquerda estatal, e a segunda, da esquerda verde.
Rousseff, branca, de origem europeia, queimou sua juventude
na luta violenta contra a ditadura militar brasileira. Foi torturada e acabou
abraçando os valores democráticos. Silva, negra, com sangue de escravos
africanos e imigrantes portugueses, se forjou na luta política e social desde
muito jovem ao lado do líder sindicalista e ecologista Chico Mendes,
assassinado por sua defesa da Amazônia.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Promessas requentadas para galinheiro
'Inimigos', um usa o que o outro deixou de fazer |
Candidato ao governo do Rio conhecido pela alcunha de
“Lindinho”, cercado por uma malta de asseclas do pior que já o PT obrou,
inclusive a “princesinha” Lurian, esteve na última semana em carreata em
Maricá. Era de se esperar que um candidato a governador levasse propostas. Como
não tem qualquer criatividade para administrar o que seja público, defeito
comum nos políticos brasileiros, mas perito em colecionar processos, aproveitou
o feijão com arroz com que o prefeito Quaquá conquistou seus dois mandatos.
Certo de que migalhas servem para angariar votos, não
precisa se esmerar em ser alguma coisa a mais do que nunca será. E aí despejou
com a máxima magnificência o que pretende, no cargo, dar como dádivas aos seus
súditos daquela municipalidade. Espantados todos os cidadãos, com mera inteligência
e nenhum bolso comprado. A oferta do nobre senador e candidato é acabar com o
dito monopólio da empresa de ônibus, insistir com a Cedae para enfim abastecer
o município e, por último, melhorar a educação.
Os três temas, como foram propostos, são mais uma dessas
mascaradas que os políticos nem ligam se são surradas, mas creem piamente que
são suficientes para fisgar votos dos imbecis como ordinariamente acontece. Importa
pouco se parecem espalhar apenas milho para atrair as galinhas em seu
galinheiro.
As propostas são o mesmo tipo de escracho que o próprio
prefeito faz desde a campanha de 2008 com o anunciado fim do monopólio de
transporte. Nada conseguiu em seis anos e tem acenado nos últimos meses com uma
mirabolante empresa chapa branca de ônibus, comprados com dinheiro público, que
fornecerão transporte gratuito (sic) em dois anos, às custas do próprio Erário.
Os lucros e dividendos eleitorais logicamente serão computados em campanhas como
a de agora. Afinal está em jogo a vaga da própria mulher, ou consorte, à Câmara
estadual.
A tal empresa, também encampada como proposta, será
controlada por uma outra empresa criada por um secretário comissionado. E o
candidato a governador não tem qualquer vergonha em achar natural a maracutaia,
desde que renda os votos.
Os ônibus estão comprados e apodrecendo num aeroporto interditado sem que a empresa sequer possua garagem ou funcionários. É essa muvuca, aprovada de cara pelo candidato petista, que virou proposta. Ou seja, apropriação de uma ideia cretina. Bom começo para um candidato, que talvez até concorde em avalizar a empresa dos companheiros.
A outra proposta é outra indecência. A educação municipal é
um escândalo com a secretaria do setor funcionando como reduto familiar do
vice-prefeito, que já foi secretário de Educação e passou o cargo para a
mulher. Um fato que já demonstra claramente como se cuida bem dos serviços
públicos entre os do PT.
A revolução do setor, anunciada pelos “fessores”, não passou
de uma maquiagem com reforma de pintura de algumas escolas, criação de outras
em casa alugadas e a farta distribuição de laptops – 17 mil para uma população
escolar de 13 mil alunos e professores, numa região que não tem internet
gratuita.
Mas ainda falta a questão da água, que tanto serviu de
plataforma em 2008 e 2012. “Lindinho” se apropria de um problema que o próprio
Quaquá teria resolvido com Cabral e Pezão, quando estiveram na cidade sem água
para inaugurar uma elevatória (seca) e propalar a chegada da água para 2014 em
todo o município. Tudo sob aplausos do prefeito que agora passa a bola como uma
realização do seu candidato, mas que em momento algum defendeu o município
junto à Cedae, atitude e dever de quem é prefeito. Mas preferiu se acomodar com
acusações que agora transforma em proposta de Lindinho.
Assim caminha o PT, sempre camuflado, enredado em tramas, repetindo
ações criminosas que deveria colocar seus integrantes há muito no xilindró.
Explique!
A política é a arte de pedir votos aos pobres, pedir recursos aos ricos e mentir para ambos depoisAntônio Ermírio (1928-2014)
O furacão Marina
Ventania não é. Ciclone? Tampouco.
Está mais para furacão a recém-lançada candidatura de Marina Silva a presidente da República no lugar da candidatura de Eduardo Campos, do PSB. O que precisa ser confirmado é se estamos diante um furacão de nível 1, 2, 3, 4 ou 5.
Por ora, ele parece ter força suficiente para fazer de Aécio Neves, candidato do PSDB, sua primeira grande vítima. E assustar Dilma.
Há duas semanas que Marina ocupa sozinha a boca do palco da sucessão. Os holofotes convergem para ela. Aécio e Dilma viraram meros coadjuvantes.
Na primeira semana, Marina se impôs como candidata natural do PSB e dos partidos nanicos que Eduardo conseguira atrair para seu lado. Na segunda, dedicou-se a sossegar os espíritos mais inquietos com o risco de uma eventual vitória sua sobre Dilma.
Amiga de Marina e porta-voz dela junto ao mercado financeiro, a herdeira do Banco Itaú, Neca Setúbal, garantiu que a candidata, se eleita, respeitará os fundamentos da política econômica herdada por Lula de Fernando Henrique.
Marina preferiu falar ao mundo político. Disse que governará só por quatro anos. E prometeu fazê-lo com as melhores cabeças do país. Citou José Serra, candidato ao PSDB ao Senado, como uma delas. Acenou com um governo de união nacional.
A força do furacão chamado Marina há uma semana pelo Instituto Datafolha. Na pesquisa de intenção de voto, ela empatou com Aécio. Na simulação de segundo turno, derrotou Dilma.
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segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Legenda
No princípio
Houve treva bastante para o espírito
Mover-se livremente à flor do sol
Oculto em pleno dia
No princípio
Houve silêncio até para escutar-se
O germinar atroz de uma desgraça
Maquinada no horror do meio-dia.
E havia, no princípio,
Tão vegetal quietude, tão severa
Que se entendia a queda de uma lágrima
Das frondes dos heróis de cada dia.
Houve treva bastante para o espírito
Mover-se livremente à flor do sol
Oculto em pleno dia
No princípio
Houve silêncio até para escutar-se
O germinar atroz de uma desgraça
Maquinada no horror do meio-dia.
E havia, no princípio,
Tão vegetal quietude, tão severa
Que se entendia a queda de uma lágrima
Das frondes dos heróis de cada dia.
Havia então mais sombra em nossa via.
Menos fragor na farsa da agonia,
Mais êxtase no mito da alegria.
Agora o bandoleiro brada e atira
Jorros de luz na fuga de meu dia -
E mudo sou para cantar-te, amigo,
O reino, a lenda, a glória desse dia.
Menos fragor na farsa da agonia,
Mais êxtase no mito da alegria.
Agora o bandoleiro brada e atira
Jorros de luz na fuga de meu dia -
E mudo sou para cantar-te, amigo,
O reino, a lenda, a glória desse dia.
Mário Faustino dos Santos e Silva (1930 - 1962)
domingo, 24 de agosto de 2014
Paradoxo
Se Dilma entende que não deve comentar decisões de outro poder por que acha natural que seu ministro da Justiça não apenas comente, mas tente influenciar decisões de outro poder?
Cidades mortas
Há cidades que se suicidam pelo esquecimento dos próprios
habitantes. Há outras, à margem das estradas modorrentas, que não têm onde
oferecer uma água ao viajante. As portas se fecham com o calor do verão e se
trancam com as chuvas do inverno. Sorte é passar ali na época certa, quando no
amanhecer, sem chuva, há frutas para vender estendidas em varais. Há ainda
aquelas que foram esquecidas à beira dos grandes caminhos. Passam muitos, olham
e seguem o caminho. Só os olhos de quem lá vive são parados como relógios a
quem o tempo deixou de dar corda.
]Viver em beira de estrada, para as cidades, é uma eterna
esperança. Todos esperam. O comércio espera um freguês; o político espera a
promessa do governo capital; o jovem sonha com o dia da partida; o velho treme
com a data do descanso.
Se o viajante parar um pouco em cada uma, descobrirá, entre
um trago de outro, os motivos do desânimo. Para os de fora, tanta calma
significa paz, que está bem longe de acontecer. Cidades pequenas, quase
esquecidas, vivem em eterna guerra. Em todas queima dia-a-dia o combustível
político.
Em vez das mudanças, que carros e carretas buzinam pelas estradas, preferem o ranger das nobres carroças do passado, o estrilar dos filhos da terra na rinha das Câmaras, o chicote do disse-me-disse, a mentira, o nepotismo, o concubinato com o poder.
Em vez das mudanças, que carros e carretas buzinam pelas estradas, preferem o ranger das nobres carroças do passado, o estrilar dos filhos da terra na rinha das Câmaras, o chicote do disse-me-disse, a mentira, o nepotismo, o concubinato com o poder.
Cidades assim proliferam. No ar, se respira apenas os
últimos perdigotos políticos. Entre uma e outra eleição, não há uma aragem que
leve para longe a fumaça política. São senhores de sangue podre, vomitando
artimanhas contra adversários, que bem podem ser os correligionários de amanhã.
A ética é determinada pela melhor aliança mesmo que seja com o inimigo de
ontem.
São cidades de naturezas encantadoras, um tantinho só virginais, mas com a vida poluída pela discussão dos escândalos e descalabros. Os cabos eleitorais proliferam; os políticos não se contentam em descansar depois das eleições.
Estão sempre aprontando o próximo movimento eleitoral. Os
sinos das igrejas dobram todas as tardes, inúteis. As mulheres se cobrem de
véus negros e os homens se descobrem nessas horas. Rezam o “Venha a nós” sob a
benção paroquial. E saem na escuridão das ruas que acoberta novas maquinações.
Cidades viciadas em voto eterno, picadas pela inércia,
apodrecendo no ranço de uma política envelhecida, ulcerosa, purulenta, que
empesteia. Imunes, os diferentes, que pensam em como mudar. Salvos estão os
agostinianos, que rezam na doutrina da iniciativa e da criatividade, fermentos
da esperança. Alquimistas do tempo, dosam a revolta contra a situação com a
raiva para mudá-la.
sábado, 23 de agosto de 2014
Brasil não está pronto
Mais de 60% dos brasileiros são contra a obrigação de votar. Mas analistas avaliam que corrupção eleitoral e despreparo da população ainda são obstáculos no país, um dos 31 do mundo que sustentam a imposição.
Para analistas, permitir que o eleitor decida se quer ou não
votar é um risco para o sistema eleitoral brasileiro. A obrigatoriedade,
argumentam, ainda é necessária devido ao cenário crítico de compra e venda de
votos e à formação política deficiente de boa parte da população.
"Nossa democracia é extremamente jovem e foi pouco
testada. O voto facultativo seria o ideal, porque o eleitor poderia expressar
sua real vontade, mas ainda não é hora de ele ser implantado", diz Danilo
Barboza, membro do Movimento Voto Consciente.
O voto compulsório é previsto na Constituição Federal – a
participação é facultativa para analfabetos, idosos com mais de 70 anos de
idade e jovens com 16 e 17 anos.
Falta vergonha
Os ricos tendem a ter vergonha de ser ricos. Mas os
políticos nunca se envergonham de si mesmos, embora não lhe falte motivo
Woodrow Wyat
Os índios
Na ilha de Vancouver, conta Ruth Benedict, os índios
celebravam torneios para medir a grandeza dos príncipes. Os rivais competiam
destruindo seus bens. Atiravam ao fogo suas canoas, seu azeite de peixe e suas
ovas de salmão; e do alto de um promontório jogavam no mar suas mantas e
vasilhas.
Vencia o que se despojava de tudo
Eduardo Galeano
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Pare para pensar nas semelhanças
O chavismo, que nacionalizou até a produção de arroz e feijão, agora caminha para privatizar o ativo estratégico mais importante do país
(...) Exemplo que ilustra, mais uma vez, que os
fatos não importam e a realidade não existe, que tudo pode ser reduzido ao
relato, a uma narrativa esotérica que viola qualquer possibilidade de sermos
objetivos. Os bolivarianos falam tanto sobre a economia estatal, mas destroem o
Estado. São vítimas das conspirações do império, mas renunciam a conservar o
poder dentro do território do próprio. São humildes socialistas, mas possuem
contas em bancos internacionais com uma inimaginável quantidade de zeros em
seus saldos.
(...)
O chavismo, que expropriou até o fornecimento de
arroz e feijão, agora caminha para privatizar o ativo estratégico mais
importante do país. Finalmente, entende-se porque falam de socialismo do século
XXI. O socialismo do século XX fazia exatamente o contrário.
Lembrai os sem-nome
A multidão de trabalhadores pobres que passam ao nosso lado sem que pronunciemos seu nome também é carne e sangue da nossa sociedade
Alguém escreveu que somos salvos ou nos perdemos juntos, os
batizados e os sem-nome. Talvez não seja inútil lembrar disso nestes tempos em
que novamente se põem a caminho, fugindo da violência, as dolorosas caravanas
de gente sem presente e sem futuro.
Quando colocarmos o nosso voto nas urnas não faria mal se
lembrar que deveria servir também e sobretudo a essa caravana de invisíveis em
uma sociedade onde o que parece contar é o brilhar mais e aparecer.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Falta pudor na política brasileira
Alguns candidatos, mesmos suspeitos de corrupção, reaparecem nas eleições
Voltam as eleições no Brasil e com elas reaparecem
candidatos que demonstram carecer de um mínimo de pudor político. Eles não têm
escrúpulos ao se apresentarem ou ao serem representados, apesar de que paire
sobre eles a suspeita de corrupção. Lhes falta um mínimo de pudor que é a
antessala da dignidade.
A ciência ou a arte da política é antiquíssima. Plutarco, o
filósofo e historiador de origem grega que acabou sendo cidadão romano,
alertava com aquela frase que ficou famosa: “À mulher de César não basta ser
honesta, deve parecer honesta”. Hoje, dois mil anos mais tarde, se diria que
nossos políticos foram muito mais além, mas para o mal.
Não somente não se preocupam em parecer honrados como não se
preocupam em sê-lo, nem que se saiba que não são. Isso explica porque muitos
candidatos que se apresentam pedindo votos já foram condenados pela Justiça, ou
estão sob processo ou sob suspeita de delitos de corrupção.
Talvez exista algo pior, e esses políticos que nem se preocupam em ocultar seus delitos ou acusações sobre eles costumam ser os mais votados pelos cidadãos e os que recebem mais dinheiro para suas campanhas.
Amarcord
Trilha sonora de Nino Rota para o filme "Amarcord",
de Federico Fellini (1973), com Frida Boccara
Nada de confusão
Estamos todos surdos
Se, no plano individual, estar aberto à opinião do outro,
não para aceitá-la cegamente, mas para servir de contraponto às nossas crenças,
é necessário, no plano coletivo mais se faz imprescindível o estabelecimento do
diálogo. A democracia, que, como disse um estadista, é das formas de governo a
menos pior entre todas as que já foram tentadas, exige de nós a humildade de
aceitar que, nossa opinião, por mais que a prezemos e a consideremos a mais
sensata, a mais correta, a mais inteligente, é apenas mais uma num universo de
pensamentos, o mais das vezes bastante divergentes do nosso.
Se queremos construir uma verdadeira democracia, é
obrigatório que defendamos o direito de todos se manifestarem publicamente,
sejam quais forem seus pontos de vista. Mas, para que isso se efetive de
verdade, temos antes que aprender a ouvir o outro, a ser tolerantes com ideias
que divirjam das nossas. Coisa que, infelizmente, nesse momento, não temos
sabido fazer.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
O califado petista
Eles não confiam na 'sociedade'; só pensam no Estado, na interferência em tudo
As eleições para presidente não serão “normais” — apenas uma
disputa entre dois partidos para ver quem fica com o poder. Não. Trata-se de
uma batalha entre democratas e não democratas. Está na hora de abrirmos os
olhos, porque está em curso o desejo de Dilma e seu partido de tomar o governo
para mudar o Estado. Não tenho mais saco para tentar análises políticas sobre a
“não política”. Não aguento mais tentar ser “sensato” sobre a insensatez. Por
isso, só me resta fazer a lista do que considero as doenças infantis do
petismo, cuja permanência no poder pode arrasar a sociedade brasileira de forma
irreversível.
O petismo tem a compulsão à repetição do que houve em 1963;
querem refazer o tempo do Jango, quando não conseguiram levá-lo para uma
revolução imaginária, infactível. Os petistas querem a democracia do Comitê
Central, o centralismo democrático, o eufemismo que Lênin inventou para
controlar Estado e sociedade. Eles não confiam na “sociedade”; só pensam no
Estado, na interferência em tudo, no comportamento dos bancos, nos analistas de
mercado e principalmente no velho sonho de limitar a liberdade de opinião.
Assinam embaixo da frase de Stálin: “As ideias são muito mais poderosas do que
as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, por que
deveríamos permitir que tenham ideias?”. Nossa maior doença — o Estado
canceroso — será ignorada e terá uma recaída talvez fatal. Não fazem
autocrítica e não querem ser criticados.
Leia mais o artigo de Arnaldo Jabor É preciso matar o medo
Só tem medo quem receia perder as regalias ou teme ver seus crimes desvendados
Qualquer eleitor com credibilidade, honesto em seu voto, renega
essas arapucas que só fazem imenso mal. Nossas eleições não destacam o valor
político, suplantado pela arrumação de profissionais da maquiagem. Se tornou um
vício, condenável, o eleitor se socorrer nas pesquisas e marquetagem para
definir-se.
Foi-se o tempo da discussão livre, leve e solta, do debate
para se concluir. Resta-nos acompanhar marionetes, quando não têm o que dizer,
manipuladas por publicitários. Uma visão aterradora para qualquer democracia
que se considere séria por mostrar que tudo não passa de uma mascarada para
apenas manter o que já está.
Uma das “armas” arquitetadas para o combate será uma falta
de preparo que o PT pretende imputar a Marina, uma cidadã formada em História,
integrante das lutas de Chico Mendes, ex-queridinha de Lula, ex-ministra e
atual senadora. Como o eleitor honesto, não corrompido pela lavagem petista,
pode alegar falta de preparo diante de tal currículo?
Evangelismo também é cotado para diminuir o potencial da candidata. Mas o que fazem tantos evangélicos, altamente participantes e captalizadores de votos fiéis, que não seja catecismo politiqueiro, e estão aí disputados a tapa pelos próprios petistas?
Qualquer eleitor que deseje sinceramente acompanhar uma
eleição, escolher seu candidato sem o excesso de maquiagem das campanhas,
precisará se livrar desses chavões surrados que marcam as últimas eleições.
E principalmente deve rejeitar o medo, esse fantasma que
usam como se assustassem criancinhas, e o eleitor assim se deixa levar como um
cidadão infantil. O uso do medo é mais um jeito fascista de dirigir as
eleições, que se tem que rejeitar com veemência. Nenhum cidadão pode ter medo
de votar em quem acha o mais preparado. Se apropriar do medo como ingrediente
para afugentar eleitores de um determinado candidato, é uma das maiores
cafajestadas seja contra quem for.
Está no direito do eleitor errar ou acertar. Como nos
últimos 12 anos quando por duas vezes errou feio, e sem medo. E está pagando
caro por dar com os burros n’água. Mas vai aprender um dia sem precisar ser um
medroso incapaz como querem os marqueteiros do continuísmo.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Estrela se apagando
Quando há dois anos Lula colocava a campanha nas ruas, era o
cappo de tutti cappi e idolatrado como a mais sagaz raposa política do país.
Único mestre dos mestres no tabuleiro político brasileiro a antecipar campanha
para assegurar de pronto a reeleição de seu poste, então iluminado por uma
economia que caminhava bem, ainda que com poucos passos.
E esse deus se preparava para acender novos postes como um
funcionário da antiga Light, o acendedor de candeeiros. Acendeu um que já quase
se apagou e outro sequer ainda conseguiu sair do chão. Mas o maior deles mantém
acesso através de manobras, manipulações e mentiras.
O bruxo do PT articula por trás dos panos ou no próprio
palácio presidencial, no maior achincalhamento do símbolo que é o prédio,
tornado um comitê petista. De onde, inclusive, foram feitas alterações em
perfis de jornalistas. Os hackers comissionados dentro de palácio não seriam
imagináveis sequer em tempos de Watergate. Mas tudo pode na terra do sacode.
O país seguia como por ordem magnânima do grande chefe
tupiniquim. Mas veio o destino e fez o que quis. Há um poder mais forte que
ninguém pode afrontar ainda mais um mortal petista, mesmo idolatrado.
Lula não é mais aquele que pode tudo, acima de tudo, contra
tudo e todos. O coronel que pretendia fazer do país um único curral eleitoral,
manobrando a bel-prazer os ungidos, ainda está na luta contra os fados. E a
História será implacável com quem quer ser mais do que foi.
Os anos de ódio, corrupção, nepotismo, do nós contra eles –
versão lulista da Inquisição e das tiranias – parecem com os dias contados. E o
grito de “Chega” vem do próprio berço do endeusado coronel. Aquele que seria o
“poste” de 2018, para festejar os 20 anos de poder, disse não e, morto, pode
espalhar ainda mais e melhor os novos ventos. A ditadura pelega, que há 12 anos
toma os ares brasileiros, pode começar a se diluir. O deus da taba verá, enfim,
que nada mais foi e é do que um nome da História, e olhe lá, com as poucas
cinzas que deixará no futuro.
As páginas lá na frente podem ser mais duras, mas bem
realistas, do que foi e ainda é o reinado do coronelismo pelego. E não serão
reescritas por marqueteiros.
Enquanto a luz não vem
Nunca gostou de livros. É um fato. “Ler dá um sono danado”,
sempre disse. Em seu benefício, nunca mentiu, pelo menos no que se tratava de
seu desprezo natural, quase patológico, pelos livros.
O destino, sendo irônico e talvez carecendo de bom gosto,
quis que a vida lhe entregasse o poder. Caminho difícil, possivelmente admirável,
durante o qual teve o apoio justamente daqueles que tiveram na leitura a razão
do seu sucesso. Coisas da vida.
No poder, revelou seu desapreço também pelos jornais.
Causavam, segundo ele, desarranjos estomacais. “Dá azia”, diagnosticou. Havia
alguma controvérsia sobre a veracidade do diagnóstico.
Os aliados, talvez atribuíssem a sensibilidade
gastrointestinal a uma possível alergia a tinta ou ao papel. Hipótese
eventualmente desmentida quando a palavra impressa passou a chegar por meios
digitais.
Na inexistência de explicações clinicas, restou o fato de
que a causa da azia eram as ideias. Ou melhor, o horror a sua diversidade.
Ficou evidente o asco que lhe causava ver impressas, expostas e lidas, as
ideias, opiniões e fatos que pudessem de alguma maneira, contraria-lo.
A inteligência e o espirito prático, mais uma vez não lhe
faltaram. Para combater diversidade de ideias, concluiu ele, a melhor
estratégia seria desestimular o pensamento. Iniciou o culto à ignorância.
Ignorância, não seria obstáculo a ser superado. Ao
contrário, seria característica ou virtude a ser preservada ou mesmo cultivada.
Desestimulou a leitura, o estudo e a cultura como ferramentas necessárias ao
sucesso individual ou coletivo.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
O sistema
Os funcionários não funcionam.
Os políticos falam mas não dizem.
Os votantes votam mas não escolhem.
Os meios de informação desinformam.
Os centros de ensino ensinam a ignorar.
Os juízes condenam as vítimas.
Os militares estão em guerra contra seus compatriotas.
Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados
cometendo-os.
As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados.
O dinheiro é mais livre que as pessoas.
As pessoas estão a serviço das coisas.
Eduardo Galeano
Tema para Genoino
Os réus do mensalão receberam, aos olhos da opinião pública,
penas adequadas à gravidade do mais sério escândalo político da História
recente do país
O sistema penal brasileiro reserva aos réus do precioso
colarinho branco — ou seja, fazem parte de algum setor da chamada elite
nacional — vantagens e benesses que ficam longe das normas impostas aos
condenados que pertencem, digamos assim, à grande massa dos colarinhos sujos.
São considerados sujos, não se deve esquecer, porque quem os usa simplesmente
não tem recursos para lavá-los.
Há menos de um ano — nove meses — o ex-deputado José Genoino
e um pequeno bando de outros réus começaram a cumprir penas razoavelmente
severas por suas participações no chamado “processo do mensalão”, um dos
escândalos políticos mais sérios da História da política brasileira. As penas
decididas pelo Judiciário mereceram o aplauso da opinião pública. Seria
interessante saber se a plateia continua batendo palmas, em face do episódio
mais recente dessa triste novela.
Favoritismo do mau humor
A consultoria Rosenberg Associados considerou que Dilma ainda é a
favorita, mas emendou: “O cenário mais provável é a continuidade da
mediocridade, do descompromisso com a lógica, do mau humor prepotente do poste
que se transformou em porrete contra o senso comum”.
FT aponta liderança de Marina
A ex-senadora Marina Silva poderá liderar o voto de
"todos contra a presidente Dilma Rousseff" em um eventual segundo
turno da eleição presidencial, disse o jornal britânico Financial Times em
editorial nesta segunda-feira.
"A popularidade de Marina diminui a esperança de Dilma
de conquistar a eleição (no primeiro turno)", diz o jornal. "No
segundo turno, Marina poderá, então, liderar um voto de 'todos contra
Dilma'", avaliou o jornal britânico.
"Se Marina concorrer, a bandeira de 'renovação
política' e de 'terceira via' terá um grande apelo em um país marcado pela
insatisfação com o status quo, como os grandes protestos de rua do ano passado
mostraram", disse o editorial.
Segundo o jornal britânico, "a morte trágica de Campos
tornou a eleição em uma corrida de três cavalos" ao alçar Marina como
potencial kingmaker, termo em inglês que se refere à pessoa que escolhe o
próximo rei.
domingo, 17 de agosto de 2014
Tragédia fortalece gana para mudar
O episódio dramático pode levar a um fechamento desse 'gap' entre a sociedade e a classe política
A violenta e inesperada saída de cena de Eduardo
Campos, candidato do PSB à presidência que morreu na última quarta-feira num
acidente aéreo, foi penosa e chocante não só para a sua família e seus
correligionários mais próximos. Eleitores e não eleitores do presidenciável se
sentiram consternados e obrigados a refletir sobre a processo eleitoral e sobre
quem era o político que vinha persistindo em terceiro lugar nas pesquisas com
uma mensagem de mudar o modo de fazer política no país.
Por isso, a morte de Campos pode ter um alcance maior do que
se supõe para o eleitor brasileiro, acredita a socióloga Fátima Pacheco Jordão.
“A morte trágica de Campos reduz a distância entre a sociedade e a classe
política”, avalia ela, que é diretora da D'Fatto pesquisa em Jornalismo. A
última mensagem do presidenciável, numa entrevista ao Jornal Nacional, da rede
Globo, um dia antes, “Não desistam do Brasil”, poderia ter um efeito importante
para a juventude brasileira que anda tão refratária à política. “A ideia
de renovação está escrita na sociedade. É uma mensagem que Eduardo Campos
encampou”, afirma. A sua morte, explica, fortalece a gana de mudança do eleitor.
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