Nunca gostou de livros. É um fato. “Ler dá um sono danado”,
sempre disse. Em seu benefício, nunca mentiu, pelo menos no que se tratava de
seu desprezo natural, quase patológico, pelos livros.
O destino, sendo irônico e talvez carecendo de bom gosto,
quis que a vida lhe entregasse o poder. Caminho difícil, possivelmente admirável,
durante o qual teve o apoio justamente daqueles que tiveram na leitura a razão
do seu sucesso. Coisas da vida.
No poder, revelou seu desapreço também pelos jornais.
Causavam, segundo ele, desarranjos estomacais. “Dá azia”, diagnosticou. Havia
alguma controvérsia sobre a veracidade do diagnóstico.
Os aliados, talvez atribuíssem a sensibilidade
gastrointestinal a uma possível alergia a tinta ou ao papel. Hipótese
eventualmente desmentida quando a palavra impressa passou a chegar por meios
digitais.
Na inexistência de explicações clinicas, restou o fato de
que a causa da azia eram as ideias. Ou melhor, o horror a sua diversidade.
Ficou evidente o asco que lhe causava ver impressas, expostas e lidas, as
ideias, opiniões e fatos que pudessem de alguma maneira, contraria-lo.
A inteligência e o espirito prático, mais uma vez não lhe
faltaram. Para combater diversidade de ideias, concluiu ele, a melhor
estratégia seria desestimular o pensamento. Iniciou o culto à ignorância.
Ignorância, não seria obstáculo a ser superado. Ao
contrário, seria característica ou virtude a ser preservada ou mesmo cultivada.
Desestimulou a leitura, o estudo e a cultura como ferramentas necessárias ao
sucesso individual ou coletivo.
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