quarta-feira, 30 de abril de 2014

Que falta faz!


“Parece que a tendência dos políticos é para desprezar as verdadeiras necessidades do povo, desbaratando os dinheiros públicos em gastos desnecessários e obras de injustificada realização. O bom senso parecer ser a faculdade que mais falta faz ao país!”

Antonio da Silva Mello  (1886/1973), médico e ensaísta brasileiro

Derretimento de uma campanha

O êxodo por um governo

Dá mesmo o que pensar o êxodo haitiano do Acre. O governador petista, aproveitando a desgraça da cheia, humanitariamente, resolveu oferecer melhor destino aos refugiados. E escolheu logo São Paulo, maior capital do país, com grande oferta de empregos. Pergunta-se porque a escolha daquela cidade e não de enviar gente para outras também capacitadas a receber refugiados?
O gesto pareceria despercebido se não fosse a estranha coincidência de que com a enxurrada de refugiados se criaria um problemão para o governo paulista, adversário, e daria chance para que o candidato petista, envolvido em suspeita de transação mal resolvida, pudesse deslanchar e aparecer como salvador dos haitianos. Seria assim um defensor intransigente dos direitos humanos como é o governo federal, que vem empurrando o problema com a barriga. Mais um caso de direitos humanos que passa longe de qualquer tratamento pelos petistas, que criam um rosário de cargos e funções no setor, mas tudo de fachada.
Como o governo acreano não recebeu qualquer apoio federal, do próprio partido - a presidência levou mais de 40 dias para visitar o local da calamidade -, parece ter decidido em causa própria ajudar o companheiro na candidatura próxima. Nada melhor para um defensor dos direitos humanos do que despachar gente como gado para criar um abacaxi de presente aos paulistas. Com a bomba na mão, o candidato Alkmim se veria enredado em resolver o problema para não ficar com a pecha de um governante mal qualificado ao dar soluções humanitárias.
A solução acreana é digna de página maquiavélica como só é capaz a mente petista do qualquer crime por um governo. 

terça-feira, 29 de abril de 2014

Pensamentos (in)diferentes

A notícia é bem clara: 20% da população brasileira atual nasceu antes de 1964. É um orgulho pertencer a uma elite, que pela idade deve estar lá por volta dos 1o%. Somos os sobreviventes de um outro país que do alto das suas dezenas de anos podem apreciar o antes, com o sonho, lembrar tristes o durante do sofrimento, e o agora vivenciar uma sabedoria. Pequena e particular mas de cada um de nós.
Claude Louis Sangáde 

Roda de samba


Carybé, pseudônimo do argentino Hector Julio Páride Bernabó (1911/1997)
 foi pintor, gravador, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor, 
muralista, pesquisador, historiador e jornalista brasileiro naturalizado

O boom do encalhe

Os sucessivos escândalos envolvendo a Petrobras não só afetam a imagem e os negócios da empresa. Muita gente de fora se vê num dilema com a série de notícias envolvendo a estatal. Um dos setores atingidos é o imobiliário, principalmente em cidades próximas a projetos da Petrobras. Não adianta nem mais a enxurrada de promessas de governinhos petistas sobre o petróleo como alavanca do progresso de suas cidadezinhas dominadas. A compra e venda de imóveis, por exemplo, em cidades como Itaboraí e Maricá, ambas no Rio de Janeiro, praticamente estancou. Se teme um encalhe ainda maior no negócio se persistir (e parece que ainda vai durar muito) a crise na Petrobras.
Depois do boom com a descoberta dos poços do pré-sal e com o anúncio dos governos municipais de grandes investimentos imobiliários estrangeiros, os corretores estão em polvorosa com o número de negociações no setor que beiram a zero. Os preços dos imóveis até subiram além da conta, em comparação a outros municípios bem mais saudáveis sócio-economicamente, mas não mais se vende.
Os empresários alertam para o excesso de promessas governamentais que estão indo pelo ralo como outro grande motivo para a queda. Isso sem contar com as revelações das farsas municipais sobre investimentos, o que tende a piorar o panorama imobiliário. 
Maricá, por exemplo, que tem anunciado investimentos estrangeiros no setor, em parte devido às viagens de negócios do prefeitinho, com dinheiro público, bancando agente imobiliário de negócios privados, está com as empresas do setor praticamente às moscas. E ainda há outros voos da dupla governamental na agenda para “vender” mais negócios da China sem qualquer contrapartida para o município.

Recado do poder


“(...) Estamos convictos de que são culpados*. Culpados de serem governados, é claro. Mas é preciso que vocês mesmos se sintam culpados. E não se culparão enquanto não se sentirem cansados. A gente está cansando vocês, é tudo. Quando estiveram exaustos, o resto vai por si”
Alberto Camus, em “Estado de sítio”
* “Preciso de culpados”, dizia o imperador em "Calígula", do mesmo autor

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Bertold Brecht

Quem me defende

Quem se defende porque lhe tiram o ar
ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
que diz: ele agiu em legítima defesa. Mas
o mesmo parágrafo silencia
quando você se defende porque lhe tiram o pão.
E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente
Morre lentamente. Durante os anos todos em que morre
não lhe é permitido se defender.

Arquitetura e o poder

Aquário municipal lembra o Congresso, outro símbolo do Poder

A recente divulgação de vídeo promocional de Maricá (RJ), essa Vila dos Patos, é um pequeno exemplo de como, através da arquitetura, o poder resolve se implantar de vez. A apresentação de obras como teleférico, com vista panorâmica, e aquário municipal não passam de mais uma aplicação da arquitetura que pode estar intimamente ligada ao poder para atender aos interesses de governo, e só dele. Bem esclarecedora sobre essa relação é a reportagem de El País, “A arquitetura e o poder”:
 “Há anos, Rem Koolhaas declarou estar convencido de que sua sede para a televisão chinesa em Pequim, um enorme arranha céu espetacularmente fotogênico, contribuiria para levar o progresso e a democracia à China. Não ocorreu a ele que se já se tem o símbolo não há necessidade de mudança. Pela mesma época, Normal Foster concluía em Astaná, a atual capital do Kazaquistão, sua primeira interferência urbanística na cidade: a imensa pirâmide do Palácio da Paz e Reconciliação. Bem mais do que Nursultan Nazarbaiev – o presidente do país que, em 1997, fez coincidir a fundação da nova cidade com o dia de seu aniversário -, Foster é o grande protagonista da operação urbanística que quer transformar o antigo país da estepe na primeira capital do século XXI. O último exemplo de como a melhor arquitetura está servindo a regimes totalitários para enviar uma mensagem de progresso adquire as formas curvas do novo edifício assinado por Zaha Hadid: o Centro Cultural Heydar Aliyev. Construído em Bak (Azerbaijão), quer contribuir para a modernização e, portanto, democratização, da antiga república soviética. (...) É difícil querer vender progresso em um país governado, há 40 anos, por uma mesma dinastia”.

A habilidade (deles)


"A habilidade específica do político consiste em saber que paixões pode com maior facilidade despertar e como evitar, quando despertas, que sejam nocivas a ele próprio e aos seus aliados. Na política como na moeda há uma lei de Gresham; o homem que visa a objetivos mais nobres será expulso, exceto naqueles raros momentos (principalmente revoluções) em que o idealismo se conjuga com um poderoso movimento de paixão interesseira. Além disso, como os políticos estão divididos em grupos rivais, visam a dividir a nação, a menos que tenham a sorte de a unir na guerra contra outra. Vivem à custa do “ruído e da fúria, que nada significam”. Não podem prestar atenção a nada que seja difícil de explicar, nem a nada que não acarrete divisão (seja entre nações ou na frente nacional), nem a nada que reduza o poderio dos políticos como classe". 
Bertrand Russell (1872/1970)

domingo, 27 de abril de 2014

Jornal da Dilma

Pra quem gosta ...


“O PT só engana mesmo quem quer ser enganado”

Ferreira Gullar

O alto risco Brasil, segundo a Alemanha


Quando faltam apenas seis semanas para o começo da grande festa esportiva que representa o campeonato mundial de futebol no Brasil, o ministério de Assuntos Exteriores alemão divulgou um novo relatório sobre um tema muito sensível: a segurança que o país oferece aos milhares de turistas que chegarão à nação para aproveitar a grande festa e, ao mesmo tempo, torcer pelos seus times.
O relatório do ministério, em sua seção “serviços ao cidadão”, que é lida com atenção por todas as grandes agências de turismo do país e pelos turistas que compram pacotes de férias, oferece uma imagem desoladora do Brasil: uma nação onde não as leis não são respeitadas e onde o turista corre o risco de ser vítima de ladrões, sequestradores ou simplesmente de se envolver em confrontos entre a polícia e grupos criminosos, como aconteceu recentemente no Rio de Janeiro.
Leia na íntegra

Dez anos em queda


O Brasil é um dos países cuja indústria mais perdeu competitividade na última década, segundo um estudo da consultoria Boston Consulting Group (BCG) divulgado na sexta-feira. O estudo analisa a competitividade de 25 economias exportadoras e tem como base um novo indicador criado pela BCG para medir os custos de produção da indústria em cada país.
Ele mostra que enquanto em 2004 os custos da indústria brasileira eram 3% menores que os da indústria americana, hoje são 23% maiores. Com isso, estariam hoje no mesmo patamar da indústria italiana e belga e só seriam mais baixos que os de fabricantes australianos, suíços e franceses.
Leia na íntegra

sábado, 26 de abril de 2014

Assim será o futuro?


Mentirinhas em promoção


A prefeitura de Vila dos Patos armou mais uma arapuca – de muito custo e bem feita profissionalmente – para enganar os trouxas de sempre e servir para alarde na carteira dos comissionados. São 9 minutos de vídeo divulgado no site do governo sobre uma maravilhosa cidade, riquíssima com o dinheiro do pré-sal, a ponto de dedicar 1 minuto da peça ao desfile da Grande Rio, no sambódromo, falando da cidade. Mas a beleza é um saco de mentiras das mais cabeludas, quando não de engambelações politiqueiras das mais escandalosas.
A fantasia de estilo Second Life está à solta no vídeo promocional para dar a sensação de um futuro mais maravilhoso do que se pode ter em grandes cidades pelo mundo, que respeitam o cidadão. Mais ainda, a realidade da tela sugere que tudo aquilo será feito no tempo recorde, digno de registro do Guiness, de dois anos e meio. O infeliz que diz sim ao que vê só pode mesmo pastar em meio à lama e ao lodaçal, porque adora engolir mentiras.
Uma que está sendo propalada inclusive é da ligação de monotrilho, com “trens japoneses que já estão aí”, - segundo uns mais afoitos propalam para a grandeza do prefeito - com mais de 120 km como se tal obra pudesse ser feita nas coxas, a toque de caixa de um dia para o outro. Mais ainda, estariam os apressadinhos em vangloriar o “trabalho” do alcunhado prefeito divulgando mesmo os trabalhos da obra que só está mesmo na internet. 
O vídeo encanta os boçais com um toque de que tudo está sendo feito e em pouco tempo o município sairá da lama para o primeiro mundo. São amostras de encher os olhos: teleférico, ligação aquaviária e a urbanização de 46 km de costa, inclusive com um campo de golfe aberto ao público e um aquário municipal. Tudo aparece no melhor estilo virtual sem qualquer obra começada ou sequer estar no papel. Um vídeo, que custou os olhos da cara, para continuar a empulhação. 
Como anuncia o vídeo, esse “futuro já começou”, pois não há qualquer referência a construção de hospitais - ao menos um, digno – nem se fala em melhoria do fornecimento de água, tratamento das lagoas efetivo, ou instalação de usinas de tratamento de lixo e esgotos. Afinal, a maravilha de cidade, segundo o vídeo, não produz lixo nem cocô.
A apresentação é um corolário de engana que eu gosto. Há referência de investimentos de R$ 500 milhões para saneamento e distribuição de água quando ambos inexistem na cidade. Para ser ver o engabelamento dos números, a mesma quantia foi aplicada há mais de 25 anos, em recursos privados e públicos, no saneamento das lagoas de Araruama, que ainda continuam poluídas. No entanto, em Vila dos Patos, a quantia é considerada fabulosa e está resolvendo o problema. Chegam a anunciar crescimento sustentável e planejado! Quá-quá-rá-quá-quá.
São os investimentos virtuais que tapam os olhos. O tal saneamento não passa de instalação de canos para recolher água pluvial e esgotos que seguirão in natura para as lagoas, o que um bom cidadão sabe que é crime recolher as duas espécies de água num mesmo cano. E o abastecimento de água continuará por anos ainda muito precário. Talvez se torne ainda mais crítico com a instalação da cidade maravilha proposta na internet, uma vez que há propaganda de criação de inúmeros condomínios residenciais.
O que o vídeo não mostra são os asfaltos recém colocados, finos e aguados, que se rompem a qualquer chuva; as drenagens solucionadoras de enchentes que alagam tudo em segundos de chuvisco; o péssimo recolhimento de lixo e a falta de um aterro sanitário prometido; as servidões espalhadas no entorno das lagoas com tubulações secas por falta de ligações; dois grandes rios da cidade sem dragagem; a falta de calçadas dignas. Isso sem contar com as promessas que só serviram à campanha passada como o hospital, o centro cultural – já vai para dois anos em construção, e a escola técnica entre um colar de outras pérolas inventadas para continuar no poder.  

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Atraente



Chiquinha Gonzaga (1847 - 1935)

Duas em um

"- E qual é a posição dos deputados?
- Na aparência, sentados; por dentro de cócoras"

Eça de Queirós

Boa ideia: cinema sustentável


As cidades paulistas, a partir deste mês, estão contando com um novo ingrediente em suas agendas culturais. O Cinesolar, baseado em projeto holandês, é o primeiro cinema itinerante sustentável do Brasil. Patrocinado pelas empresas Votorantim Cimentos e Votorantim Energia e pelo Instituto Votorantim, o projeto realizará exibições de curtas e longas-metragens, além de oficinas de sustentabilidade voltadas para crianças e adolescentes. Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público.  
O Cinesolar é uma estação móvel equipada com placas solares que possibilitam, através de um sistema conversor de energia solar para elétrica, a exibição de filmes e apresentações artísticas – tudo isso utilizando energia limpa e renovável. O diferencial desta iniciativa é que o próprio veículo possui toda a estrutura para realizar esse tipo de ações, desde cadeiras para o público até uma cabine de DJ.

O veículo percorrerá 20 cidades de São Paulo até junho. 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Uma casa de tolerância


As relações espúrias, criminosas, são flagrantes no país. Merecem maior destaque na imprensa, mas menor tratamento quando se trata de punição. Chegam mesmo a desaparecer do noticiário com o tempo e ficam restritas a gabinetes da Justiça, sempre ocultos, nunca transparentes como deviam numa democracia.
As ligações entre corruptores e integrantes dos governos, em todos os níveis, são conhecidas, divulgadas aos quatro ventos. Mesmo um imbecil sabe quem corrompeu quem nos governos. Estão lá os nomes e os fatos, mas nunca merecem a devida atenção. Passam de passagem pelas páginas da mídia e se esfumam no ar empesteado do acobertamento.
Por onde andam os processos envolvendo empresários, políticos, contraventores, doleiros, que formam uma rede quase de sustentação aos cargos ministeriais e comissionados de grandes empresas estatais?
A rede de corrupção se tornou tão vasta dos pequenos aos grandes poderes da res publica a ponto de colocar todo o país no mesmo balaio, ou saco de gatos. Se antes se reclamava dos monopólios, das trustes, havia condenações por sua criação, quem hoje critica os grande aglomerados, os famigerados consórcios com os quais se consorciam de doleiros a contraventores? Às custas da República, mamam todos nas tetas que deveriam ser apenas para os cidadãos com vida mais digna, mas agora servem de canos jorrando para a corrupção. 
A delinqüência está à solta nos poderes com a mesma conivência descrita por Gabriel García Márquez, em “Memórias de minhas putas tristes”. Escrevia Gabo sobre a cafetina Rosa Cabarcas: “Nunca tinha pago uma única multa, porque seu quintal era a arcádia da autoridade local, do governador até o último bedel da prefeitura, e não era imaginável que à dona daquilo tudo faltassem poderes para delinquir a seu bel-prazer”. A situação hoje é idêntica nesta casa de tolerância em que se tornou o Brasil.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Terra do 'molha a mão'

Apenas uma fábula (imoral)


O pobre quis conquistar a cidade para se tornar rei. Juntou um grupo, mas nunca conseguiu abalar qualquer parte da muralha. Então se muniu de uma matilha de cães e um monte de abutres a quem prometeu uma fartura de comida. A promessa correu por todo o canto e mais cães famintos e muitas aves carnívoras se juntaram ao grupo. Assim as muralhas caíram.
Posto no trono, com bolsos engordados, sob muita proteção, assistiu cães e abutres disputarem a pouca comida que os cidadãos guardavam. Mas o pasto prometido não dava para tantas bocas e cães e abutres começaram a brigar pela carniça.

Os habitantes da cidade viram que se tornaram escravos de cães e abutres, mas então já era tarde. E passaram todos a brigar por um naco de comida, enquanto o rei, cada vez mais engordado por ver seu sonho realizado e financiado, apesar de custar muito aos cães, aos abutres e ao povo. 

Serenata cínica para o Bettencourt cantar


Menino que vais na rua,
não cantes nem chores: berra!
Cospe no céu e na lua
e aprende a pisar a terra.

Aprende a pisar o mundo.
Deixa a lua aos violinos
dos olhos dos vagabundos
e dos poetas caninos.

Aprende a pisar a vida.
Deixa a lua às costureiras
- pobre moeda caída
de quem não tem algibeiras.

Aprende a pisar no chão
o silêncio do luar
sem sentir no coração
outras pedras a gritar.

Pisa a lua sem remorsos,
estatelada no solo...
Não hesites! quebre os ossos
dessa criança de colo.

Pisa-a, frio, com coragem,
sem olhos de serenata;
que isso que vês na paisagem
não é ouro nem é prata.

Menino que vais na rua,
não chores, nem cantes: berra!
ou então, salta pra lua
e mija de lá na terra.

José Gomes Ferreira (1900/1985), poeta e escritor português, publicou memórias, contos, ficção, estudos, diários e ensaios.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Valsa Triste

O grande roubo


“Os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões!"
Afonso Henriques de Lima Barreto (1881/1922)

O segredo do poder

Um conto indiano fala do espanto do rei Asoka quando viu uma mulher, com gestos, fazer o rio Ganges subir contra a corrente. Soube então que a velha era uma prostituta muito conhecida em uma das suas cidades. Impressionado com o feito, mandou chamar a prostituta, que se apresentou diante dos sábios do reino para questionarem a façanha. Ficaram ainda mais impressionados, porque a velha confessou ter poder sobre as coisas como arrancar árvores e fazê-las rodopiar, ou virar montanhas de ponta cabeça. Podia mesmo tirar Asoka do trono e lançá-lo nos ares. Todos surpresos com as infinitas possibilidades da prostituta quiseram saber de onde provinha tanto poder.
- Conheci muitos homens mas não faço distinção entre eles. Não privilegiei, nem desprezei ninguém. A todos, apesar das diferenças, concedi os mesmos favores. Nunca demonstrei nem subserviência, nem desdém. O segredo do meu poder é só esse.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Voo de aloprados

Todos sabem que há governo na cabine de comando, mas não há piloto. Há lá dentro pelo menos dois maus elementos, mesmo que a Física nos informe que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. A não ser, como na física nuclear, ambos sejam nêutrons, o que não é o caso. E a porta está blindada impedindo que se saiba o que andam fazendo. Mas certo mesmo é que colocaram o avião Republiqueta voando pelo piloto automático. Os passageiros sofrem horrores, porque não há como tirar os aloprados da cabine.
E o Republiqueta voa numa montanha russa. Sobe e desce, faz looping e o escambau, porque a turma da cabine fica apertando botão atrás de botão tentando acertar o rumo.
Sabe-se lá quando vão conseguir ao menos estabilizar o Republiqueta para continuar por pouco tempo um voo tranquilo.Também sequer pode-se pensar que pretendam pousar alguma vez, deixar as alturas dos urubus. Quem sabe queiram passear mais tempo como condores. Resta mesmo rezar para que alguma vez acertem nos botões, porque não se agüenta mais looping de aloprado.    

O partido oportunista

“Não sou adversário do PT, nem de Lula, nem de partido nenhum. Sou um cidadão que pensa e analisa a situação do país. Falo do que está diante de mim. Lula combateu toda a política de Fernando Henrique e depois adotou tudo, mas nunca disse que fez isso. Ao contrário, disse que era herança maldita. Ele não tinha projeto político, exceto aquela utopia comunista que havia fracassado no mundo inteiro. Ele inventou um jogo de mão dupla constante: Bolsa família para os pobres e empréstimos do BNDES para os ricos. Divulguei recentemente o manifesto de fundação do PT, cujo teor é quase igual ao Manifesto Comunista de Karl Marx, de 1848. Mas o que sobrou disso? Aliança com Paulo Maluf e o bispo Edir Macedo? Esse é o comunismo do PT? Virou um partido oportunista”

Ferreira Gullar, em entrevista para o jornal Cândido, do Paraná

Rede Pau nos Ratos

“Limpeza” in natura

Site dito jornalístico, integrante do jornalixo de Vila dos Patos, anuncia que estão sendo feitas a dragagem e a limpeza de um dos rios que desembocam nas lagoas da região. A obra serve para solucionar as enchentes na região. Também integram a primeira parte de um projeto de implantação do sistema de esgotamento sanitário. Essa primeira etapa, ao custo de R$ 60 milhões, atendendo dois bairros, será bancada pela Petrobras. O que não informa o jornalixo é que o trabalho não vai evitar as enchentes na região, que não têm como causa os rios, mas seu entorno, que vem recebendo água de outros locais. E a grande mentira é uma implantação de rede de esgotos, quando se sabe que a mesma foi “implantada” precariamente pelo governo municipal com o vazamento dos dejetos in natura e das águas pluviais numa mesma rede. Ao mesmo tempo, os esgotos sanitários não terão estação de tratamento. Em conclusão, a bosta vai continuar a poluir as lagoas e sujar a casa alheia nas chuvas. 

Novo dicionário

Os petistas estão mudando o significado dos termos do dicionário. Difamação pública virou mera liberdade de opinião quando aplicada aos adversários. Se o difamado for do partido, então é caso mesmo de crime. Assim também roubo, apropriação indébita, só se for referente aos outros. Ações desse tipo feitas por eles não passam de contribuição social. O importante, para eles, “é fazer a história mentir em proveito próprio”, segundo Jean-Claude Carrière    


Estrategistas de galinheiro

Com o surgimento das Unidades de Polícia Pacificadora, criadas pelo governo Cabral, no Rio de Janeiro, ninguém desconhece que a bandidagem resolveu emigrar para cidades pequenas sem qualquer aparato policial para contê-la. O problema vem se agravando rapidamente por falta de solução dos órgãos estaduais. Devido a isso os vereadores de uma dessas cidades resolveram jogar para a galera. Num festival de purpurina, discutiram por duas sessões, como se não tivessem mais o que fazer, as medidas que podem adotar para conter o tsunami de bandidos. É de uma deslavada cara de pau a atitude dos edis, porque muitos estão com fichas bem sujas de processos judiciais. Agora é descobrir como políticos bandidos podem dar uma solução à marginalidade que assola a vilazinha se não a mera fórmula de recorrer às autoridades policiais, o que levaram duas sessões para aprovar, depois de até bancarem estrategistas de ocasião.

Resposta engatilhada


Com a grita geral pelo aumento dos crimes em Vila dos Patos, o governo municipal, depois de uma “atitude” dos vereadores, ressuscitou o velho projeto de quatro anos atrás: um gabinete de gestão integrada com central de monitoramento de ruas. O custo está orçado em R$ 1,5 milhão – segundo alguns já sumiu - para um prédio de três andares e 20 câmeras de seguranças espalhadas pelas ruas do Centro. A derrubada de um antigo posto da Guarda Municipal para a construção do prédio do novo gabinete é uma “resposta” atrasada ao problema. Mais uma vez o governo municipal zela por manter engatilhado sempre um projeto miraculoso para resolver questões municipais que nunca serão resolvidas com paliativos.    

sábado, 19 de abril de 2014

O melhor (e mais atual) discurso



Este é talvez o melhor e mais atual dos discursos. E não foi feito por nenhum político, mas por Charlie Chaplin, em seu primeiro filme sonoro, “O grande ditador” (1940), numa sátira aos regimes totalitários da época. Mesmo tantas décadas depois, ainda defende e propala os ideais inerentes à Humanidade com maiúscula, contra a mascarada destes tempos. 

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O ministro cabeçudo


O ministro Wang Anshi (1021/1086), na China imperial, apesar de reformador, ganhou popularidade como o “Ministro Cabeçudo”, considerado que era de incapaz de aceitar bons conselhos e se recusar a admitir erros. Se implantou instituições de socorro popular, hospitais, dispensários, cemitérios públicos, baseando-se num modelo de fundações caritativas criadas pelos mosteiros budistas, ficou mesmo conhecido como o homem dos três não vale a pena: “Não vale a pena temer a ira divina, não vale a pena respeitar a opinião pública e não vale a pena conservar as tradições”.
Segundo Lin Yutang (1895/1976), escritor chinês muito conhecido no Ocidente, em “O sábio jovial”, o ministro tinha muita semelhança com certos administradores públicos de hoje. Wang Anshi não tolerava oposição de nenhuma espécie, viesse de amigos ou de adversários. Com grande capacidade de persuasão, sabia como fascinar o imperador com a ideia de um Estado forte e estava decidido a lutar por suas teorias sociais mesmo com “o esmagamento de toda oposição e em particular com a anulação da censura imperial, cujo primeiro dever era fazer a crítica da orientação política e da maneira pela qual se conduziam os negócios públicos”.
A grande curiosidade do relato de Yutang sobre o ancestral ministro é a semelhança com que hoje qualquer um pode esbarrar virando uma esquina brasileira. Wang Anshi se considerava um reformador e todo aquele de quem não gostava era um “reacionário”. “Acusava todos que o criticavam de pretenderem malevolamente dificultar as reformas”. O ministro até mesmo chegou a ser apontado de tentar fechar a boca do povo, “amordaçar toda a liberdade de crítica ao governo”. Parece longe a história do ministro cabeçudo chinês, mas há nela muita coincidência com certos governantes de hoje no Brasil. 

O mal do encantamento

“O homem deixa-se facilmente enlevar pelo encanto do maravilhoso, e é explorando este segredo da fraqueza humana que o charlatanismo abusa da simplicidade dos crédulos e à custa deles bate moeda na forja da impostura, ou sacrifica à sua corrupção as inocentes vítimas que loucamente espontâneas se precipitam nesse perigoso desvio da razão”
(Joaquim Manuel de Macedo , “As víctimas-algozes”, 1869)

Soube que vocês nada querem aprender

Valeriano Bécquer, "Gustavo Adolfo Bécquer lendo"  (1864), 
Biblioteca Nacional, Madrid


Bertolt Brecht
Soube que vocês nada querem aprender
então devo concluir que são milionários.
Seu futuro está garantido – à sua frente
Iluminado. Seus pais
cuidaram para que seus pés
não topassem com nenhuma pedra. Neste caso
vocês nada precisam aprender. Assim como estão
podem ficar.

Havendo dificuldades, pois os tempos
como ouvi dizer, são incertos
Vocês têm seus líderes, que lhes dizem exatamente
o que têm a fazer para que fiquem bem.
Eles leram aqueles que sabem
as verdades válidas para todos os tempos
e as receitas que sempre funcionam.
Onde há tantos a seu favor
vocês não precisam levantar um dedo.
Sem dúvida, porém, se fosse diferente
vocês teriam muito o que aprender.
  

Eugen Berthold Friedrich Brech (1898/1956), além de poeta, foi um dos mais influentes dramaturgos e encenadores do século XX contribuindo com o teatro moderno criando principalmente o  conhecido Berliner Ensemble. 

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A paixão (nossa) de García Márquez


"Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."
Gabriel José García Márquez (1927/2014)

Ernesto Nazareth, um clássico



Ernesto Júlio de Nazareth (1863/1934) foi pianista e um dos grandes compositores brasileiros, deixando 211 peças para piano. 

Confissão de um imbecil

“Leve para longe de mim essa inteligência perigosa, porque minha estupidez é sagrada!” 
(De um conto indiano sobre a inteligência de um viajante e a estupidez de um beduíno, bem pode ser a fala de muitos)

terça-feira, 15 de abril de 2014

Nunca ovelha

"O que não somos nunca é ovelha - fiel ovelha do Santo Padre, de Sua Majestade o Rei, do Partido, da Convenção Social, dos Códigos da Moral Absoluta, do Batalhão, de tudo que mata a personalidade das criaturas."
Monteiro Lobato (1882/1948) em carta ao amigo Godofredo Rangel em 7/6/1914

A mensagem do vento de março


(...)
Ouve, o vento no olmo! É de Londres que sopra
E fala de ouro, de esperança e mal-estar
De poder que não ajuda; de saber de sobra
Que do pior e melhor não é capaz de ensinar

Dos ricos ele fala, e estranha é a história
Dos que têm, cobiçam, e de mais se apossam;
E eles vivem e morrem; e a terra e sua glória
São apenas um fardo que mal suportam


William Morris (1834/1896) escritor inglês concentrou seu interesse em poesia narrativa sempre transparecendo idéias socialistas

Patologia de um prefeito


Quaquá, prefeitinho de Vila dos Patos (daí o adequado vulgo), não é apenas um modelo de político corrupto. Atestam isso as dezenas de processos a que responde como ainda as duas condenações (não cumulativas) por inelegibilidade numa aberrante decisão dos tribunais, que ainda deixa impune e solto o condenado. Se por isso ainda não conseguiu vaga no xilindró, agora cada vez mais esbanja como um caso patológico de psiquiatria. A megalomania tomou conta do ex-menino pobre da Mumbuca, que caçava rã para comer. Com a ascensão à presidência regional do PT, - só podia ser mesmo desse antro -, vestiu de vez a capa presidencial e como um chefe de nação caiçara esbanja em viagens para tratar de negócios para o feudo. Assim foi com os bondes de comissionados para a Itália e França, onde vendeu empreendimentos imobiliários, a custos milionários para os cofres públicos; a Cuba, para pedir benção e jogar pra galera, e agora chega mesmo à China, com um secretário que saiu do subúrbio carioca para tratar de portos em mandarim.
O Brasil tem 7.408 km de costas, do cabo Orange ao arroio Chuí - 9.198 km se considerarmos as saliências e as reentrâncias do litoral - mas o tal sujeitinho empombou com a construção de um porto justamente numa área de proteção ambiental e cultural. Quer porque quer instalar um porto que empresas já deram para trás desde o início para poder anunciar eleitoralmente um grande feito, já que não fez nada em seis anos. Insiste em criar mais um factóide como essa viagem à China para fazer a cabeça dos imbecis caiçaras, que só estão com ele devido ao dindim mensal do Erário. Com isso pode arrecadar os votos para eleger a digníssima madame Z, sua consorte amasiada, à Câmara estadual.
Esse é o reflexo mais recente de sua megalomania de medíocre depois que vestiu o manto de chefe do seu partido no Estado, que vem gerindo com os coturnos de um ditador. 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O 'soldadinho-playboy'



O PT descobriu que era preciso possuir uma milícia política para se proteger de seus adversários e tem financiado – Vila dos Patos é um celeiro deles – seus soldadinhos de bosta. São eles que promovem atos que os correligionários não poderiam praticar por falta de decoro e assim manchar a imagem imaculada do santo partido. Daí recorre aos mercenários sempre dispostos a tudo por dinheiro.
Como o recente caso de Rodrigo Grassi Cademartori, autointitulado “Rodrigo Pilha”, baderneiro com carteirinha de assessor parlamentar da deputada federal Érika Kokay (DF). O “soldadinho” postou na internet o vídeo hostilizando e insultando o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, chamado de “fascista” e de outros nomes. A deputada classifica como um direito de expressão (?) o insulto público ao ministro da Suprema Corte, a quem, em outro vídeo, o palyboyzinho classifica o ministro Joaquim Barbosa de “covarde” e o chama de “coxinha”.
O assessor baderneiro é um grande trabalhador do país, pago com dinheiro público, ocupado que está em repetir chavões para intimidar, inclusive fisicamente, qualquer um que avalie ser adversário do PT, e divulgar suas fotos em momentos de lazer – pilotando uma lancha, por exemplo, com um copaço de cerveja do lado do timão. Também organiza “protestos” como aqueles contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) e a blogueira cubana Yoani Sánchez. É uma farra, mais uma, que o PT promove com o dinheiro público que deveria estar financiando trabalho, nunca “armando” desocupados.   

A mesma ladainha


A resolução da Comissão Executiva Nacional do PT, lançada semana passada, é mais uma das gracinhas que os petralhas adoram aplicar no povo sempre de olho em garantir apoio nas urnas. Num arroubo de patriotismo, vestiram a camisa da “defesa incondicional da Petrobras” contra os que querem sua privatização, repetindo o discurso que já usaram e abusaram nas eleições de Lula e Dilma. Foram agora até capazes de um gesto muito mais típico de propaganda de Estado Novo: “Quem agride a Petrobras, agride o Brasil”. Poderiam até reviver no documento “O Petróleo é nosso”, mas aí poderia sugerir que a Petrobras é deles, o que pegaria muito pior.
Como sempre o partido mostra que vive de slogans, por vezes de modelo não muito respeitável e repetindo fórmulas de outros tempos, para se defender dos escândalos em que seus próprios protegidos são protagonistas. É preciso para eles manter a máscara de protetores de patrimônio nacional desde que o mesmo esteja sob o domínio deles.
À nota divulgada pela comissão petista não convém lembrar que o que está em jogo nos escândalos recentes nada mais é do que a péssima gestão da empresa apadrinhada pelo loteamento de cargos feito pelos próprios governo e PT.
Ninguém em sã consciência é contra a Petrobras como empresa, mas contra a farta distribuição de cargos a incapazes de gerência, que só estão lá para favorecimento e fortalecimento do partido, promovendo casos esdrúxulos como o de Pasadena e da refinaria em Pernambuco. Qualquer um é contra o sucateamento da empresa promovido em 12 anos de governo petista, que levou a nº 4 do petróleo mundial a cair desbragadamente para posição de empresinha em 120ª posição. Tudo para que o governo seja servido, e bem, nas jogadas eleitoreiras.
Ninguém deve esquecer que é a Petrobras quem vem sofrendo, principalmente nos últimos anos de Didi, a faxineira do Planalto, com o controle de seus preços, abaixo do mercado mundial, só para impedir que suba a inflação e não seja com isso afetada a imagem da presidente em plena aceleração eleitoral. Sem falar que se tornou um propinoduto importante na malha de distribuição de recursos para políticos e suas siglas.
O que mais querem os petistas é tapar o sol com a peneira. Sempre fizeram esse trabalho sujo de imputar aos outros crimes, que eles mesmos cometem sob outras formas, ou embrulhar CPIs gigantes para não dar em nada. É preciso para eles sempre parecerem as vestais, todas puras, imaculadas. Mais franciscanos do que os coturnos petistas não há.   

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Mozart Bicalho - Noites que não Voltam Mais



Mozart Bicalho (1901/1986) foi  violonista, compositor e poeta pouco
lembrado, mas que deveria figurar entre os mais importantes compositores
brasileiros na primeira metade do século XX.

Cântico negro


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí.


José Régio, pseudônimo de José Maria dos Reis Pereira (1901/1969) foi talvez o único escritor em língua portuguesa a dominar todos os gêneros. Poeta e dramaturgo, escreveu romances, contos, novelas, crônicas, memórias, ensaios, críticas. Também publicou diários e obras sobre história da literatura. 

Que país é este!!


O Brasil vive uma enxurrada de más notícias. Não há citado um grave terremoto, nem um ataque terrorista, ou um tufão arrasou qualquer região. Afora uma persistente enchente no Norte do país, por mais de 40 dias, que só há pouco recebeu a visita de Didi, a faxineira do Planalto, não se tem notícia até o momento de uma série de catástrofes. Em compensação chove noticiário sobre as mazelas sempre freqüentes da sociedade brasileira. Os esforços do governo para debelar o alastramento de escândalos parece não dar resultado. Os fatos são mais contundentes do que o besteirol com que tentam debelá-los.
Pipocam por todo canto notícias que demonstram indubitavelmente o quanto o país está entregue às baratas políticas, disputando poder com milícias de corruptos em todos os níveis. O escândalo da vez fica para o senador Gim Argello (PTB-DF), que foi pressionado a renunciar à indicação para ministro do Tribunal de Contas da União devido ao seu prontuário. O senador, que teve a indicação apoiada mesmo por Didi, tem uma ficha de dar inveja a muito bandido sem que parece nunca ninguém, nem os altos poderes, se deram conta. Além de responder a seis inquéritos no Supremo Tribunal Federal, Argello ainda é investigado por lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, peculato (desvio de dinheiro público) e crime contra a lei de licitações. Seria um poderoso ministro do TCU, mas com um repertório digno de criminosos.
Nessa onda de más notícias, ainda há outras muito parecidas com muitas nas quais o Brasil aparece sempre na rabeira. Uma delas é que o avanço do PIB ficará em 18º lugar entre 21 países da América Latina, quando o governo insiste no crescimento brasileiro do país que vai pra frente, segundo o slogan da ditadura. E sai novo levantamento que também coloca o Brasil outra vez mal na fita. Entre as 30 cidades mais violentas, 11 delas estão aqui e o Brasil lidera como o país que tem mais cidades violentas no mundo apesar de todos os “esforços” anunciados pelos governos.
Mais do que nunca o governo se enrosca numa luta feroz com o próprio desmazelo, e mesmo um certo desleixo, com que vem tratando o público sempre de olho no que o privado tem a oferecer para não largar o osso do poder.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sem brincadeira!

“O Brasil é uma das dez maiores democracias do mundo. Isso aqui não é lugar pra brincadeira”

Joaquim Barbosa, ministro-presidente do STF, em entrevista a programa de TV

No suor da cama

Província

IX

Ouve, covarde,
que trazes nos ossos
o sonho de morrer numa barricada
bêbado de Chama.
Hás-de morrer aqui
no suor desta cama,
a olhar para a doçura longa duma tarde...
(...ah! mas com que trovoada
dentro de ti!)

José Gomes Ferreira (1900/1985), poeta e escritor português, publicou memórias, contos, ficção, estudos, diários e ensaios.

Rede Pau nos Ratos


Nova no dicionário

O deputado federal André Vargas, em nota, criou uma expressão a ser incorporada ao dicionário do partido. Em breve os releases deles podem reclamar de
"vazamento ilegal de informações" quando surgirem na imprensa notícias sobre as trambicagens petistas. Querem sigilo total sobre as maracatuaias e logicamente o silêncio noticioso.

No lugar de São Pedro

Pouco se comentou na mídia como o Brasil será afetado segundo o relatório da ONU sobre as alterações climáticas, mas os políticos já apontam insistentemente o clima como o culpado único pelo sofrimento do povo devido ao descaso público. Como nunca fizeram o que deveriam ter feito há anos, agora saem pondo a culpa do racionamento de água nas mudanças do clima. Preferem isso a escolher a fórmula antiga de colocar a culpa em São Pedro.

A todo vapor

São mais de R$ 5 bilhões que o governo está investindo para distribuir mais de 14,1 mil máquinas para municípios. No total, serão mais de 18 mil máquinas entregues em 5.061 municípios com cada cidade de até 50 mil habitantes recebendo uma retroescavadeira, uma motoniveladora e um caminhão-caçamba e em alguns regiões o kit inclui caminhão-pipa e pá-carregadeira. Com tanta fartura só há elogios como o do prefeito de Joaima, Donizete Lemos (PT), um dos 151 agraciados com máquinas em Contagem (MG) esta semana. “Não tenham medo de apoiar a presidente Dilma. Não tenham medo de encarar a campanha. Vamos manter esse governo. Prefeito não tem que ter medo, a Dilma tem que continuar”. Depois a entrega de máquinas não é campanha eleitoral nem muito menos compra de votos, não é TRE?

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Pedra tumular

Lápide adequadíssima para políticos e assemelhados

Estado bandido

A mídia há muito tempo publica nas páginas de política o que nada mais são do que assuntos de polícia. Não há dia sem que um crime, registrado em código civil, e às vezes no penal ou no eleitoral, não seja noticiado em página errada. Hoje se espremer essa página sai sangue do povo de tanta criminalidade dos governos e casas legislativas, às escancaras, sem uma punição para os envolvidos à vista ou a prazo.
O país vive na promiscuidade política, num limbo de prostituição de instituições, com o único objetivo de se manter o poder. É inadmissível que um vice-líder do Congresso, que afrontou a Presidência do mais alto tribunal do país, admita com a maior tranqüilidade – um pequeno “equívoco” - uma conivência de anos com um doleiro, preso e envolvido em uma série de escândalos. Mais ainda, teria planejado com o criminoso um plano para se locupletar com dinheiro público da Saúde, feudo do partido do governo que vai dar um candidato à Prefeitura mais rica do país.
Por falar em prisão, também não se admite que haja regalias a presos, só pelo fato de serem ligados ao partido do governo. Tudo isso sem lembrar o maior escândalo que explodiu neste início de semana com a revelação de que a empresa responsável pela refinaria Passadena, a refinaria do bilhão, tenha contribuído com R$ 1 milhão para a campanha da candidata Didi e ainda dado uns trocados ao partido do governo.
O país vivencia o toma lá dá cá com total falta de escrúpulos se é que alguma vez na vida os envolvidos tiveram algum. O povo assiste de arquibancada ao grande espetáculo de roubalheira, conchavos, maracutaias, armações, articulações escusas, joguinhos de camaradagem, que vai minando o Estado.
Os negócios, envolvendo rombos bilionários para o país, em proveito de uma comissãozinha para os integrantes de poder demonstram que já não estamos num Estado de Direito. Fomos levados de roldão para um estado promíscuo de vale-tudo pelo poder que garanta aos mesmos bandidos manterem-se nos cargos para outras e talvez maiores negociatas, que engordem bolsos próprios e assegurem o continuísmo. Se mascara de democracia um sistema que é descaradamente uma ditadurazinha de partido, ou de aliados políticos, que loteia ministérios, governos e empresas a bem da sua manutenção no trono, com uma comissão por fora. 
Sem um basta para esse quadro de convivência liberalíssima e alegre entre poderosos eleitos ou indicados e a bandidagem, vai-se continuar vivendo num Estado de barbárie política, que vão chamar de democracia quando não passa de criminalidade pública.    

terça-feira, 8 de abril de 2014

Caixa-preta da Saúde


A Associação Médica Brasileira (AMB), em parceria com Sociedades de Especialidade, Associações Médicas Regionais, lançou o projeto Caixa-Preta da Saúde, que tem como finalidade receber e compilar denúncias do caos em que se encontra a saúde no Brasil. Segundo a AMB, há 25 anos, o Brasil possui o Sistema Único de Saúde, no qual, pela constituição, todos os brasileiros devem ter assistência gratuita e universal. Os pacientes ficam anos na fila de espera para cirurgias e exames. Não há infraestrutura e faltam desde medicamentos até materiais básicos para atender a população. Os brasileiros pagam muitos e altos impostos, mas não possuem os serviços mais básicos dos quais necessitam.
Devido às constantes denúncias, a associação e seus parceiros decidiram mapear os problemas da saúde pública do Brasil e estimular a população a denunciar as condições encontradas nos hospitais, postos de atendimento e demais unidades de saúde. O projeto Caixa-Preta da Saúde é um meio pelo qual todas as pessoas, de qualquer lugar e a qualquer hora, podem enviar fotos e vídeos, apresentando os locais procurados e as dificuldades enfrentadas na busca por serviços de saúde, públicos ou não. O site http://www.caixapretadasaude.org.br/ e as redes sociais Facebook e Twitter serão os canais de interação com o público. O usuário precisa apenas clicar no mapa e enviar a denúncia. A equipe do projeto fará a análise do material e, após esta análise, a denúncia entrará na web. 
A associação denuncia também que hospitais e postos de saúde estão precários e o SUS desativou quase 42 mil leitos nos últimos sete anos, decorrendo nas superlotações em emergências e pronto-socorros. “O Ministério da Saúde deixou de utilizar R$ 17 bilhões em 2012, mas o governo, para justificar o caos em que se encontra o setor, afirma que não tem recursos para investir em melhorias”, informa a AMB.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Parabéns a todos


Rondó da Liberdade


É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que revoltam contra a escravidão.
Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir até quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Neto de escravos trazidos do Sudão, o também poeta baiano Carlos Marighella (1911/1969) foi deputado federal pelo PCB, militante comunista e um dos principais organizadores da resistência contra o regime militar, apontado como o inimigo "número um".

Cadê a água?

Há 64 anos, o Rio era assolado naquele Verão por um forte calor e agravado por falta de chuvas. Para piorar, havia falta de água causada pelo mesmo problema registrado nesta estiagem: falta de investimento. É a causa atual do sofrimento nas pequenas cidades que não recebem a mesma cobertura jornalística dos grandes centros.
Por isso, sob céu de brigadeiro, há mais carro-pipa nas ruas, principalmente de Vila dos Patos, do que se possa imaginar. E os preços, lá nas alturas estratosféricas. Ninguém fala em racionamento, mas em descarada falta de abastecimento. 

“Tomara que chova,
Três dias sem parar”

Foi uma grita geral nos anos 1950 contra a falta água e um conseqüente sucesso carnavalesco no ano seguinte, “Tomara que chova” (Paquito e Romeu Gentil), que resultou na instalação da primeira Adutora do Rio Guandu no ano seguinte. No entanto, sem grita, a badalada empresa de águas fluminense Cedae continua a brincar de grande empresa, anunciando que levará água daqui a anos a essa ou àquela região, mas sem resolver o problema urgente atual. Xodó do Estado, que com seus factóides tem promovido muito governo cafajeste, continua a gozar com a cara do cidadão obrigado a gastar fortuna para ter água ao menos para higiene. O descaso é tanto que na maior cara de pau está hoje agendando entregas de água para fins de junho. O fato acontece numa região onde o governador montou palanque para inaugurar estação de bombeamento numa cidade sem abastecimento e juntinho ao alcaide andou esburacando tudo quanto é canto para instalar canos (sem água, é claro). Resta-nos gritar como Emilinha Borba:


“De promessa eu ando cheio,
Quando eu conto,
A minha vida,
Ninguém quer acreditar,
Trabalho não me cansa,
O que cansa é pensar,
Que lá em casa não tem água,
Nem pra cozinhar”

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O Pato sentou

Foram necessários cinco anos de espera para que a maioria da população de Vila dos Patos, que não reelegeu o desqualificado, visse enfim o prefeitinho sentar por duas vezes, num mesmo dia, no banco dos réus dentro do Fórum. Foi uma vitória e tanto dos abnegados que lutam há anos com denúncias gravíssimas sobre a administração corrupta.
Prefeito com extenso prontuário na Justiça conseguiu, a muito custo, por todo este tempo fugir das audiências como o diabo foge da cruz. E a cada vez que não comparecia frente ao juiz resultava em mais uma comemoração de sua tropa, que ficou amuada com o acontecimento. Para muitos deles, o Pato, como é também conhecido o de vulgo, depois que provou o gostinho do banco dos réus, pode agora sentar lá com mais freqüência do que se imagina devido aos inúmeros processos que estão correndo na Justiça desde aquele distante 2009.

Ainda não é para abrir o champanha, mas pode-se desde já ter mais esperança de que a casa vai cair.