sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Bolsonaro agora faz discurso como messias do caos e da inflação

Jair Bolsonaro não está se segurando. Faz um mês, suspendeu a campanha golpista em público, parou de fazer motociata mussoliniana e ficou um tanto menos falante.

Dedicou a logorreia a fazer campanha contra vacinas e a culpar governadores pela carestia dos combustíveis. Seus assessores do centrão dizem que ele tem de sair do noticiário negativo a fim de recuperar pontos de popularidade. Nesta quinta-feira, voltou a falar mais.

Atacou de novo a vacinação contra a Covid. Também disse que o Brasil deve se preparar para “problemas de abastecimento” em 2022, pois os fertilizantes vão ficar muito caros. Sim, insinuou que pode faltar comida.

Bolsonaro até comentou que a Secretaria de Assuntos Estratégicos prepara um plano de emergência para não faltar fertilizante, mas nunca sabe o que diz, afora nos casos de pregação de golpe, morte, violências, preconceitos, ignorância ou de agitação do seu rebanho.

Primeiro, causa alarme com alarde, um alerta inútil (declarações alarmantes não produzirão mais fertilizantes) e talvez catastrofista.


A inflação do fertilizante pode ser ainda mais feia, assim como a do plástico ou de produtos que dependam ainda mais pesadamente de combustíveis ou de petroquímicos na sua fabricação. Faltam gás e carvão na Europa e na Ásia, o que também provoca aumento no preço de petróleo e derivados utilizados como alternativa. Pode ser que a crise seja atenuada se a Rússia quiser ou puder fornecer mais gás para a Europa, se a Opep decidir tirar mais petróleo do chão, se o outono e o inverno no Hemisfério Norte não forem muito frios, para ficar em problemas maiores e imediatos. Sim, é preciso antecipar crises e tentar atenuá-las, mas essa é uma conversa de loucura ingênua, em se tratando de Bolsonaro, que apenas agrava problemas, quando não os cria.

Segundo, no que diz Bolsonaro está implícito que gasolina e diesel vão também ficariam ainda mais caros, com ou sem o imposto dos governadores. O aumento de preço do petróleo antecede bem a crise que agora se dissemina pelo setor de energia inteiro. O que fez Bolsonaro a respeito?

Terceiro, Bolsonaro não fala de carne ou feijão (a não ser que esteja tratando da importância maior de comprar balas e fuzis). Nas semanas recentes, até passou a comentar com mais frequência o gás de cozinha, ainda que para fazer a promessa ignorante de baixar o preço do botijão pela metade. Em geral, prefere falar de diesel, assunto de seu eleitorado de presidente-vereador, e de gasolina. Nesta quarta-feira, tratou de fertilizante, decerto um problema sério, mas que chamou a sua atenção porque o pessoal do agro apita no seu ouvido.

O problema não é, claro, apenas falar. Bolsonaro é laborfóbico, quase nunca trabalhou na vida, não tem ideia do que é ser gerente, executivo, administrador, ignora questões de governo. Não tem vergonha na cara para assumir problema algum, além do mais. Costuma transferir responsabilidades para outrem. Talvez no fundo jamais tenha se convencido de que é presidente da República.

A epidemia tem mais de ano e meio e até agora Bolsonaro-Guedes não criaram um plano para aliviar a miséria sabida que viria e se vê faz tempo. Não há governo algum, nem badulaques para colocar na vitrine. Bolsonaro não consegue inaugurar mais do que mata-burros, pinguelas, bicas e metros de asfalto. Mais e mais deu para anunciar desastres: vai faltar luz, fertilizante. Talvez esteja certo. Sabendo de seu ócio destrutivo e de sua indiferença desumana, não se pode esperar previdência, prevenção ou tentativa de atenuar problemas importados. Bolsonaro conhece a si mesmo. É o Messias do caos.

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