quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Charge O Tempo 30/09

A maldição da Casa Civil

Pode parecer uma espécie de maldição o fato de que os seis ministros da Casa Civil da era Lula-Dilma estejam na prisão, sob investigação ou sob suspeita de corrupção. Todos.

Ainda não se sabe se a presidenta Dilma Rousseff, na reforma ministerial que está finalizado, mudará Aloizio Mercandante, o atual ministro da Casa Civil, ele também investigado.

Se o fizer, seria o sétimo titular desse ministério, considerado uma espécie de primeiro-ministro, pois está destinado a coordenar toda a ação do Governo.

Existe alguém que se atreva a entrar nessa espécie de clube maldito? Sem dúvida, Dilma deveria pensar duas vezes antes de nomeá-lo e analisar sua biografia com uma lupa dupla para que ele também não acabe condenado ou sob suspeitas de corrupção.

Será que o cargo de ministro da Casa Civil, uma função difícil de explicar em outros países pela ambiguidade da função, carrega em suas entranhas a tentação ou o perigo de deslizar para a ilegalidade e a corrupção?

A fila dos seis ministros da Casa Civil, desde que Lula chegou ao poder até hoje, todos do Partido dos Trabalhadores (PT), é encabeçada por José Dirceu, ao qual Lula deu tantos poderes que logo foi visto como um primeiro ministro e seu sucessor natural. Acusado de ser o idealizador do escândalo do mensalão, acabou condenado e preso. Hoje voltou a ser indiciado no outro escândalo da Lava Jato e de novo está preso, À espera de mais uma condenação. Foi substituído na Casa Civil pela atual presidente, Dilma, sobre a qual paira hoje a espada de Dâmocles por ter podido manipular as contas públicas para enxugar o déficit e por ter podido financiar suas campanhas eleitorais com o dinheiro da corrupção. Isto é, ter podido ser conivente nos escândalos da Petrobras, da qual foi presidenta depois de ter sido ministra das Minas e Energia.

Dilma foi sucedida na Casa Civil, quando Lula e o PT a nomearam como candidata às eleições presidenciais, por Erenice Guerra, amiga dela, que também saiu sob suspeita de corrupção e hoje está salpicada por outro novo escândalo, a Operação Zelotes, que supostamente subtraiu da Fazenda pública 19 bilhões de reais cancelando multas de impostos.

Eleita Dilma presidenta da República, seu primeiro ministro da Casa Civil foi Antonio Palocci, importante ministro da Fazenda do Governo Lula e que tinha sido responsável pela campanha eleitoral de Dilma.

Hoje Palocci pode ser preso a qualquer momento, acusado de estar envolvido no escândalo da Lava Jato.

O médico e amigo pessoal de Lula foi sucedido por Gleisi Hofmann, que está sendo investigada por suposto crime de corrupção, suspeita de ter recebido dinheiro ilegal para sua campanha eleitoral do Ministério do Planejamento, então comandado por seu marido, Paulo Bernardo.

Finalmente, o atual e polêmico ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, talvez o político mais próximo de Dilma, pessoal e intelectualmente, ambos economistas, também está sendo investigado na operação Lava Jato, razão pela qual poderia ser substituído.

Os últimos seis ministros da Casa Civil: condenados ou sob graves suspeitas de corrupção. Destes, três são advogados (Dirceu, Guerra e Hoffmann), dois economistas (Dilma e Mercandante) e um médico (Palocci).

A pergunta que as pessoas fazem nas ruas é se essa espécie de maldição que sempre pairou sobre a Casa Civil se deve a uma pura coincidência ou se seria o excessivo poder do cargo em um sistema político presidencial como o do Brasil o demônio que acaba tentando esses importantes ministros.

Ou não seria também o próprio sistema, que opera hoje dirigindo os destinos do país, que se degradou até o ponto de que se dá como fato consumado, como dizem às vezes as pessoas simples, que se entra na política principalmente para enriquecer?

Existe, talvez, outro demônio pior, que é a fome de poder, um impulso, segundo os psicólogos, mais forte até do que o do sexo, que arrasta os políticos, para não perder esse poder, a morder a maçã proibida do paraíso para continuar se sentindo como Deus.

Uma tentação tanto maior quanto mais alto estiverem na pirâmide das decisões do poder

Órfâos de pai e mãe

É extensa, aliás, longuíssima, a fila de intelectuais, artistas, sindicalistas e lideranças e de movimentos sociais órfãos de pai e mãe, no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Como se já não fosse grande o bastante, a nau dos deserdados acaba de receber um reforço de peso: a Fundação Perseu Abramo, tentáculo do PT no mundo acadêmico. Em documento subscrito por mais seis entidades, a Fundação desancou a política “neoliberal” de Joaquim Levy. Mais um pouco chamaria Dilma de renegada.

De fato, a intelectualidade petista, ou o que dela restou, está em pé de guerra. O ex-porta-voz de Lula, André Singer, abriu suas baterias contra a atual política econômica, expondo as veias dilaceradas do PT. Segundo ele, em entrevista ao jornal O Globo, o partido de Lula vem sendo “obrigado a apoiar um programa de governo contra os trabalhadores”.

E isto em um “partido fundado para representar os trabalhadores e não para prejudicá-lo”. Ou dito de outra forma: segundo seus críticos de esquerda, a presidente deu as costas aos trabalhadores e faz um “movimento para recuperar a confiança da burguesia brasileira e do capitalismo internacional”.

Viver para crer.

As centrais sindicais também comungam desse sentimento de orfandade e divulgaram, nesta terça-feira, anúncio de uma página nos dois principais jornais de São Paulo para repudiar a fusão do Ministério do Trabalho e Emprego com o Ministério da Previdência. Pode ser que ela não aconteça, mas sua simples hipótese já é suficiente para fazer Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola se revirarem em seus túmulos.

É neste terreno minado que a rainha vai largando seus filhos, um por um. Militantes com décadas e décadas na área da saúde são acometidos de intensa crise de urticária diante da possibilidade de a menina dos seus olhos, o Ministério da Saúde, cair nas mãos de um deputado como Manoel Júnior ou de outro parlamentar peemedebista do baixo clero e sem o mais leve compromisso com o Sistema Único de Saúde sacramentado pela Constituição-Cidadã de 1988.

Em nome da sobrevivência, tudo vale a pena, na ótica dilmista. Inclusive a degola sumária de antigos companheiros. O ministro da Saúde Arthur Chioro, petista histórico de intensa militância na área, foi demitido no melhor estilo vapt-vupt e por telefone. Não leva para casa sequer um muito obrigado da senhora presidente.

No rol dos sem pai e sem mãe estão também movimentos feministas e de direitos humanos e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, para não falar dos parlamentares petistas historicamente vinculados a esses setores. Isto explica, em boa medida, a diáspora petista, atualmente em curso.

O choro da esquerda abandonada tem explicação. Na época da fartura, o modelo adotado satisfazia a todos. Os beneficiários principais foram, claro, os empresários amigos do rei, ou da rainha, escolhidos a dedo para fazerem parte do seleto grupo de campeões.

Mas sobravam fatias menores para uma inclusão social não emancipadora e gordura suficiente para propiciar a cooptação de intelectuais, de centrais e de movimentos sociais. Esse modelo veio ao encontro de uma esquerda adepta, por tradição, da tutela do Estado e do paternalismo, marca que vem dos tempos de Getúlio Vargas, para não falar outras priscas eras.

Essa esquerda ignorou o quanto era insustentável o modelo. E fez vistas grossas aos desmandos éticos, pautando-se pelo velho e esfarrapado preceito de que “moral é o que serve à classe operária”.

Nesse particular os autores do documento da Fundação Perseu Abramo não fazem a menor restrição à conduta ética do PT. Muito ao contrário. Quando instado a dar sua opinião sobre a Operação Lava-Jato, um dos escribas saiu-se com a seguinte máxima: “Como filho de juiz, fico assustado com os procedimentos que estão sendo usados para torturar as pessoas e obter confissões”.

A farra do boi acabou. Não há mais como financiá-la. A própria presidente enterrou seu modelo, sem choro nem vela, na Assembleia da ONU. E, pelo jeito, foi a gota d’água para encher os potes de mágoa.

Biruta

Às oposições, portanto, cabe a coragem e a ousadia de pensar de forma mais estruturante. Fazer política como biruta de aeroporto, ora indo de um lado, ora de outro, procurando sempre seguir a direção momentânea do vento, não me parece estratégico.
Elias Gomes  

'Usina no Tapajós repetirá caos de Belo Monte'

Governo planeja usina em uma das regiões mais preservadas da Amazônia
Uma análise encomendada pelo Greenpeace denuncia a existência de "problemas graves" no estudo e relatório de impacto ambiental (EIA/Rima) da usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, em planejamento pelo governo federal no oeste do Pará.

O material, assinado por cientistas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade Federal de Pernambuco, conclui que o estudo falha em seu principal objetivo: prever o impacto da obra sobre uma das regiões de floresta mais preservadas do Brasil.

A Eletrobras, que coordena o grupo que bancou o estudo, informou que não iria se manifestar sobre a análise do Greenpeace por não ter tido acesso ao material.

Um dos últimos grandes rios amazônicos sem barragens, o Tapajós é a nova fronteira dos megaprojetos do governo federal de usinas na Amazônia, que incluem ao menos 40 grandes hidrelétricas (com mais de 30 MW de capacidade instalada) em construção ou planejamento na bacia.

Prioridade do Planalto, São Luiz do Tapajós é a maior dessas usinas, com 4.000 MW de potência média prevista (quase o mesmo valor da gigantesca Belo Monte). O projeto está em fase de licenciamento ambiental – a Eletrobras entregou o EIA/Rima ao Ibama (órgão ambiental federal) em agosto de 2014, em busca da primeira autorização para a obra.

Em uma primeira avaliação do EIA/Rima, o Ibama identificou "inconsistências" e pediu complementos ao trabalho.

Biodiversidade no rio Tapajós

Espécies registradas no estudo da usina de São Luiz do Tapajós

  • 1.457 plantas
  • 553 aves
  • 352 peixes
  • 302 borboletas
  • 109 anfíbios
  • 95 mamíferos

Entre supostas limitações técnicas e metodológicas, os cientistas apontam falta de amostras de campo abaixo do local da obra (região que não será alagada mas deverá sofrer com falta d'água), ausência de dados sobre espécies de ambientes ripários (margens de rios, ilhas e pedrais) e inexistência de projeção sobre o impacto conjunto das usinas previstas para outros pontos do Tapajós.
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Ninguém sabe. Ninguém viu

No começo, achava estranho. Não compreendia a razão. Mas sempre era chamado. Não importa o país. EUA, Franca, Holanda, Canada. Sempre a mesma coisa. O mesmo convite: jogar futebol. Sem a preocupação de esclarecer o talento futebolístico. Somente um convite. Assim, simples.

Certamente, não é a familiaridade com o meu trabalho dentro do campo a razão dos convites. Goleiros reservas do segundo time da primeira série do colegial na década de 80 não tem lá muita visibilidade.

No exterior, assumem que todo brasileiro gosta de jogar futebol. E que tem talento e preparo especial para isso. Para eles, somos o país do futebol. E ponto. Esta é parte da explicação. A outra, é que do Brasil se sabe pouco do que acontece entre Copas do Mundo.

Ignorância, certamente. Daria para derramar rios de tinta sobre anedotas demonstrando como a terra das palmeiras onde cantam sabiás é desconhecida. E provavelmente cada uma destas anedotas seria verdadeira.

A ignorância global sobre o país é palpável, concreta, evidente. Mas reflete exatamente aquilo que comunicamos sobre nós mesmos. Se o Brasil se define (quase exclusivamente) como o país do futebol, não existem mesmo motivos para que os outros países o façam diferente. Nem seria razoável exigi-lo.

O Brasil (e o brasileiro) parece ser monotemático. E gostar disso. Não engaja. Isola-se. Não se insere globalmente. Fecha-se em si mesmo na ilusão de que seu autoexílio o protege do tempo, das mudanças, da comparação com os outros. Não enfrenta seus problemas. E morre de vergonha e mostra indignação quando são expostos. Nosso inferno não é o outro. É o espelho.

Para um país que se orgulha de estar entre os maiores do mundo, é pelo menos contraproducente a determinação com que nos entregamos à construção do isolamento internacional.

Vamos, pedra por pedra, tornando concreto, tangível, o isolamento. Ao fim e ao cabo, vivemos fantasia o país é ilha bizarra, onde tudo é diferente, que sabe regras especiais, somente aplicáveis do Oiapoque ao Chuí. E confundindo sempre isolamento com independência.

Pequenos e grandes, os sinais estão ai. Raras são as nossas empresas internacionais. Mais raras ainda as internacionais. Difícil encontrar a bandeira brasileira impressa em produtos. Não produzimos tecnologias em escala. Quando produzimos, não conseguimos torna-las globalmente relevantes.

Quando escolhemos nossos parceiros comerciais, abraçamos o Mercosul. E somente ele. Exclusivamente ele. Sem ambição ou desejo de expansão. Apenas a vontade de abraçar com entusiasmo aqueles que também acreditam no isolamento. Gostamos de muros. Odiamos pontes.

Caminhamos rapidamente do isolamento para a irrelevância. A gente joga (ou jogou) futebol. Mais que isso, ninguém sabe. Ninguém viu.

O Brasil está indo para o caos e vamos ficar assim porque o PT e o Lula dizem que é golpe? Qual a moral que Lula tem para dizer que é golpe?
Jarbas Vasconcelos, deputado federal (PMDB-PE)

Entenda a crise e a questão das reservas cambiais

Precisamos de uma reserva monetária em dólares para: 1. lastrear as nossas trocas comerciais com o restante do mundo. Essas trocas são feitas em dólar; 2. lastrear a remessa de lucros das multinacionais; 3. pagar juros e montantes da dívida externa, tanto pública quanto a privada. Se o país tem reserva em dólares todos esses fluxos monetários ocorrem sem maiores transtornos.

Quando o país não possui essa reserva, ou esse colchão de proteção cambial, tem de pedir emprestado à organizações multilaterais. O mais comum é o Fundo Monetário Internacional (FMI), submetendo-se aos juros cobrados pelo banco. É um custo a mais, neste caso.


Quando se tem uma reserva como a que nós ainda possuímos, há possibilidade de existir uma política cambial e monetária mais propícia ao desenvolvimento do país. Se o governo faz o dever de casa mantendo uma política fiscal (de gastos do governo) equilibrada, abre-se a possibilidade do Banco Central diminuir a taxa básica de juros e estimular o crédito privado e o investimento.

Agora, se faltam as reservas e estas são formadas por empréstimos junto ao FMI, que geralmente são em montantes não muito significativos, o Banco Central fica obrigado a aumentar os juros para manter o fluxo positivo de dólares em relação ao país, de modo a resguardar a pouca reserva monetária em dólares disponível.

Ou seja, o país fica refém do empréstimo junto ao FMI, e é obrigado a fazer uma política contracionista, isto é, de inibição de investimentos e indutora da recessão.

Ainda temos reservas em quantidade suficiente para nos dar a autonomia na condução da política monetária, isto é, nos permite praticar uma taxa de juros baixa, que estimule o consumo, a produção e o investimento.

Mas, o que ocorreu, então? Por que estamos praticando uma taxa de juros de duas casas decimais se temos reservas suficientes?

Não é problema com as reservas e sim com o excesso de despesas públicas na política fiscal expansionista de Dilma. Esse excesso de despesas e a expansão do crédito fizeram a base monetária se multiplicar, isto é, aumentou o volume de dinheiro em circulação, ou a velocidade de circulação da moeda.

A velocidade de circulação da moeda dada pelo excesso de despesa do governo e do volume do crédito – tanto público quanto privado -, assim como o represamento artificial dos preços arbitrados pelo governo, fez criar uma pressão inflacionária improrrogável já no final de 2014. Essa pressão inflacionária obrigou o Banco Central a elevar a Selic (taxa básica de juros) para conter o excesso de dinheiro em circulação, pela restrição do crédito dado tanto para consumo quanto para investimento.

Então, veja, não é problema nas reservas. Nós, ainda as temos. Se bem que não sabemos se haveremos de ter por muito tempo, porque a perda de grau de investimento pelas agências de risco e a possível subida de juros nos Estados Unidos pode nos expor a um ataque especulativo e nós sermos obrigados a queimar nossas reservas para conter uma ultradesvalorização cambial.

Nosso problema foi, literalmente, criado por erro de gestão de política fiscal, isto é, pela exacerbação da despesa pública, realizada para sustentar o jogo político de poder da agremiação petista.

Palco mundial para a patetice

É patética dona Dilma. Com o privilégio único entre quase 200 países, o Brasil abre todo o ano a Assembleia Geral da ONU, mas em vez de se apresentar com a dignidade da abertura do evento usa o palco de estadistas como marketing para suas trapalhadas. Vergonha que desmoralizaria qualquer republiqueta não causa nenhum rubor nas hostes petistas nem mesmo para contar mentira, no que são experts.
A irresponsável presidente bancou na ONU a idiota e o Brasil ficou com a cara no chão. Insistiu em se dizer contrária à corrupção, quando os fatos cada vez mais corroboam a tese de que foi conivente com o império da roubalheira estatal em favor de partidos, políticos e empresas.

"O governo e a sociedade brasileiros não toleram corrupção".

Alto lá, presidente. Não ponha no mesmo saco a sociedade e os bandidos. O Brasil condena e rejeita essa corrupção desenfreada que o PT e aliados, tendo a presidente no mesmo barco, promoveram.

Talvez por sua miopia mental, Dilma ainda não compreendeu ou nem sequer pesquisou no Google o que é corrupção. Como muitos aliados, e haja gente por aí, acha que só há corrupto quando entra dinheiro no negócio. Marca de corrupto seria propina, pixuleco, dindim, molhar a mão.

Por interesse próprio e de amizade, procura jogar para debaixo do tapete a corrupção que os 13 anos de petismo inocularam no país, em particular com a democracia de coalizão, do toma lá dá cá. As reformas ministeriais nada mais são do que desavergonhada corrupção. Um emaranhado de corruptos e corruptores que abusam dos órgãos públicos como cabines de bordel. Dirão os lorpas, não há dinheiro no negócio. E como não? Os partidos ficam de olho nos ministérios justamente por causa das verbas. Quanto maior, mais apetitoso para atender as bases.

O que Dilma está para promover agora com a troca de ministros é claramente mais um ato corrupto. Dá a aliados e com poder no Congresso cargos em troca de fortalecer a base e evitar um impeachment ou a governabilidade caolha. Se não há propina na jogada, há verbas astronômicas em jogo para favorecer os políticos ou partidos favorecidos.

Seria isso apenas coalizão? Em terras de direito e moral, chamariam de corrupção governamental.

Porta-voz do povo

A nuvem do desemprego

A segunda-feira estava nublada em Nova York. Letreiros eletrônicos na Times Square anunciavam a descoberta de água em Marte. Visto da cadeira presidencial, o futuro transparecia promissor. Se há dificuldades, ressalvou Dilma Rousseff na Assembleia Geral da ONU, são circunstanciais — derivadas do moinho de forças ocultas da crise mundial. O importante, lembrou, é que “no Brasil, o processo de inclusão social não foi interrompido”.

A manhã de ontem também estava nebulosa a 7.800 quilômetros de distância. O líder da oposição deixou seu confortável apartamento na Zona Sul do Rio para contemplar o horizonte. Não poderia estar melhor, concluiu o senador Aécio Neves, presidente do PSDB: “Em nenhum outro momento dos nossos 27 anos de história tivemos momento tão positivo, porque o PSDB é antítese disso que está aí, do mal que aconteceu com o Brasil.”

O país de Dilma e Aécio, porém, estava dominado por uma certeza: no fim do dia, um novo contingente de mais de três mil brasileiros estaria desempregado.

Foram 573 mil demitidos de janeiro a agosto. Na média, mais de 3.300 demissões a cada dia útil, ou 1.100 a cada turno de oito horas.

O ritmo de desemprego não deixa dúvida sobre o panorama deste início de primavera: em outubro o Brasil deve ultrapassar a marca do milhão de novos desempregados nos últimos 12 meses.

Na região metropolitana de São Paulo, onde a maioria do eleitorado proporcionou uma inflação de votos ao oposicionista Aécio na eleição passada, a taxa de desemprego passou de 5,1% para 8,1%, entre julho de 2014 e agosto último.

No Nordeste, cujos eleitores viabilizaram a reeleição de Dilma, o desemprego cresce a velocidade significativa. Em Salvador, por exemplo, o índice era de 9,3% em agosto de 2014. Subiu para 12,4% no mês passado.

Governo e oposição, porém, fingem nada ver.

Dilma se mantém prisioneira de si mesma, contornando o quadrado retórico que traçou mentalmente — assim, nas suas palavras: “Nós sabemos que muitas pessoas no Brasil, em algum momento do passado, repetiam algo que escutavam em certas áreas e repetiam por não ter uma contraposição, por não ter uma consciência diferenciada... Qual era essa história? Essa história era uma história simples: era dizer que os pobres eram pobres porque queriam ser pobres; que os pobres eram pobres porque tinham preguiça, e não que os pobres eram pobres por um processo de exclusão histórica e sistemática do nosso país, que começa com a escravidão.”

De volta a Brasília, Dilma começa dia de hoje resolvendo o problema do desemprego entre aliados. Vai entregar mais cargos a integrantes da sua base parlamentar, na tentativa de preservar o próprio emprego. Chama isso de reforma ministerial.

Aécio continua a repetir seu mantra predileto: “Nós não vamos virar as costas para as dificuldades que o Brasil e que você está atravessando.” Como? Não respondeu na campanha do ano passado, nem parece motivado a fazê-lo por enquanto, mas ontem inovou ao prometer na televisão que vai lutar “dentro das regras democráticas”.

A presidente e o líder da oposição agora só precisam combinar seus planos com as ruas. As calçadas estão cada dia mais cheias de desempregados.

José Casado

Quem teme o novo?

O Brasil vive uma daquelas crises severas, que pune de forma desproporcional os mais pobres, que ameaça os trabalhadores com o fantasma do desemprego, que assusta com a inflação fora de controle. O brasileiro fica mais pobre a cada dia, principalmente em relação ao resto do mundo. Medido em dólar, o salário médio já despencou quase 40% nos últimos meses. A quem culpar por mais essa desgraça?

A resposta imediata é Dilma. Foram, afinal, sua incompetência como gestora, sua arrogância e sua visão ideológica equivocada que jogaram o país nesse caos. Mas, afastando-se um pouco mais, fica claro que ela não é a única responsável. O PT também tem tudo a ver com isso, e os abusos e as “pedaladas fiscais” começaram no governo Lula, que é, ainda por cima, o criador da criatura. Logo, temos o grande vilão do país: o Partido dos Trabalhadores.

Mas podemos nos afastar ainda mais. Afinal, o PT não chegou ao poder do nada. Ele foi colocado lá, pelos votos. Ou seja, boa parte da população tem culpa no cartório, acreditou nas mentiras, no estelionato eleitoral, cedeu aos encantos do populismo, endossou a “nova matriz macroeconômica”, filhote de um arcaico “desenvolvimentismo” inflacionista. Não parece correto, portanto, eximir de responsabilidade aqueles que foram cúmplices do PT por meio das urnas.

E eis o ponto central aqui: os brasileiros insistem em modelos equivocados que delegam sempre ao Estado um poder desmesurado para ser a locomotiva do progresso e da “justiça social”. O resultado é, invariavelmente, decepcionante. Vimos isso inúmeras vezes se repetindo. O governo cresce, aumenta gastos e crédito, adota postura intervencionista na economia, e, após a fase inicial de prosperidade ilusória, vem a enorme crise produzida por um modelo irresponsável e ineficiente.

Boa parte disso pode ser explicada pelo fator cultural: o Brasil e o capitalismo liberal nunca se deram muito bem. Há grande tensão nesse relacionamento, a população desconfia do mercado, do lucro, e acaba depositando uma esperança ingênua no Estado, esquecendo que ele é formado pelos mesmos políticos detestados pelo povo. Os artistas e “intelectuais” ajudam a jogar mais lenha na fogueira, sempre cuspindo no sistema capitalista como se fosse o próprio capeta.

Esse preconceito ideológico anticapitalista tem sido o grande responsável por nossa incapacidade de migrar para o time dos países desenvolvidos. Não resta dúvida de que os tucanos são melhores do que os petistas, de que o PSDB é uma esquerda mais civilizada e que respeita em parte o mercado. Mas, ainda assim, a agenda do PSDB está muito distante do liberalismo que funcionou como alavanca para o progresso ocidental. Ainda concentra poder e recursos demais no Estado.

O Brasil testou vários “ismos”: somos mestres no corporativismo, no sindicalismo, no patrimonialismo, no clientelismo e até flertamos com o socialismo. O que realmente ainda não experimentamos foi mesmo o capitalismo liberal. O liberalismo — novo ou velho — passou mais distante do Brasil do que Plutão da Terra. Apesar disso, a esquerda insiste em jogar nos ombros do “neoliberalismo” a culpa pelos males que assolam o país, produzidos justamente pelo excesso de Estado.

Quem tem consciência disso sempre se sentiu órfão na política nacional, dominada pelos 30 tons de vermelho. Todos os partidos falam em mais Estado, no governo como uma espécie de “Messias salvador”. Os liberais, então, eram obrigados a votar no “menos pior”, no que mais perto do centro ficava. Mas nunca puderam votar com convicção, em um partido que efetivamente abraçasse o capitalismo liberal, com uma agenda que colocasse o indivíduo no foco, não o Estado.

Isso agora mudou. Foi homologado pelo TSE o Partido Novo, com o número 30, que clama por mais sociedade e menos Estado, que defende mais liberdade econômica e menos intervencionismo, que não teme enfrentar o vespeiro corporativista e prega privatizações. Se a Petrobras fosse privada, por exemplo, não teríamos o petrolão, e o PT não teria quebrado a maior empresa do país, depois de transformá-la numa fonte de recursos ilícitos para seu projeto de perpetuação no poder.

O Novo reconhece no empreendedor o grande criador de riquezas, e deseja reduzir os obstáculos estatais que dificultam esse processo dinâmico que leva à prosperidade. Quem pode ser contra isso? A quem interessa manter um sistema de privilégios estatais que beneficia apenas os “amigos do rei”? Vamos dar uma chance à liberdade! Vamos valorizar mais o indivíduo! Quem teme o Novo?
Rodrigo Constantino 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

ONU Dilma governo brasileiro nao tolera corrupcao stand up comedy

Cabeça dinossauro

Gosto muito do dito latino: “Credo quia absurdum”, ou seja: “Creio, mesmo que seja um absurdo”. É a raiz de toda fé, seja em Deus, em uma superstição ou numa ideologia.

Por isso, me pergunto: se os católicos explicam de algum modo sua fé na Santíssima Trindade; se os muçulmanos nos falam que “só Alá é grande” e detalham no Alcorão as regras de sua religião; se os evangélicos ensinam seu catecismo; por que tantos intelectuais e artistas brasileiros não nos explicam por que apoiam o Maduro, por que fazem manifestos de apoio à Coreia do Norte, como fez o PCdoB? Como podem ignorar os escândalos evidentes de uma quadrilha de corrupção que está levando o país à bancarrota? Ninguém fala nada? Por que se negam a detalhar os caminhos dessa “religião” que professam? Será que não viram a queda do Muro de Berlim, o fim do vergonhoso socialismo real? Será que a mistura de leninismo com bolivarianismo que apoiam tem alguma lógica inquestionável que ignoramos? Haverá alguma equação que decifre o emaranhado de suas mentes, algo assim como “penso assim, por isso e por isso, logo...”?
Não, não dizem nada – só apoiam e creem. Será que nos deixam babando de curiosidade porque não querem dar luz aos cegos da “pequena burguesia”?

Por isso tento entender seu labirinto de ilações, de deduções, de reviravoltas com que constroem o “Caminho de Santiago” que teimam em percorrer.


Em primeiro lugar, acho que renegar as evidências é uma maneira de se sentirem portadores de uma verdade inatingível pelos homens comuns. Nos olham com o desprezo de homens superiores.

Para eles, é impossível aceitar que o mundo não se molda apenas pelos desejos humanos, mas pela marcha das coisas. Se acham os sujeitos certos de uma história errada. Consideram as provas cabais da roubalheira armações da “direita” ou apenas as “contradições negativas”, superáveis, passageiras, de um processo histórico que tende para o “bem” de todos. Eles se acham parte de um seleto grupo de apóstolos que resistem às sedições do mercado e do capitalismo – as fontes do “eterno mal”. Nossa alma ibérica rançosa, nosso mal endógeno de patrimonialistas perniciosos, é considerada coisa menor.

Para eles, toda a culpa de nosso atraso foi só do “imperialismo norte-americano”, a contradição principal.

Eles rejeitam a circularidade da vida, o mistério dos desejos, as mutações da sociedade. Eles acham que a sociedade é um bando de imbecis que têm de ser protegidos contra sua ingenuidade. Por isso, precisam de um guia, seja o antigo Prestes ou hoje o Lula. Temos de ser controlados pelo Estado que tudo vê, como uma divindade ante a qual devemos nos ajoelhar. E não veem que é justamente o contrário – que aqui a sociedade é que mantém vivo um Estado falido.

Eles acham que mudar de ideia é falta de caráter e que macho mesmo não muda. Eles acham que quem quiser alguma positividade é traidor. Por isso, quero entender qual é o caminho que as suas ideias percorrem antes de irromper de suas bocas e de seus sorrisos de mofa, do alto de sua superioridade.

Bem... Sua fé ideológica pode nascer por antigas humilhações a serem vingadas por um voluntarismo neurótico que prove sua grandeza imaginária. São em geral fracassados e professam essas ideias para ocultar seu fracasso absoluto. A certeza férrea que os habita pretende evitar dúvidas sobre sua ignorância arrogante, sem “vacilações pequeno-burguesas”, como eles chamam. A ideologia os conforta. Como sentenciou um dia Nelson Rodrigues: “Só os canalhas precisam de uma ideologia que os absolva e justifique”.

Eles se sentem dentro da linha justa. Os islamitas sonham com o paraíso das 11 mil virgens, eles sonham com um futuro de harmonia, onde todos terão tudo, cada um “dentro de sua necessidade e de sua capacidade”. Como eles não têm poder real (vejam a miséria do PT), inventam um poder paralelo que eles professam. É um “sendero luminoso”, é um país imaginário onde habitam, uma ilha da utopia que anda escangalhada, mas que um dia (quando?) vai prevalecer. Me fascinam também as contorções acrobáticas que leninistas decepcionados praticam para revitalizar suas crenças. É a turma do “mesmo assim”. Mesmo com essa cagada nacional, preferem se agarrar em palavras de ordem antigas a reconhecer um fracasso óbvio. Os renitentes intelectuais orgânicos dirão: “O PT está desmoralizado, mas mesmo assim ainda é um mal menor que o inimigo principal: os neoliberais. Sabemos que está tudo uma merda, mas da merda nasce a luz”.

No Brasil, a palavra “esquerda” continua o ópio dos intelectuais. Pressupõe uma “substância” que ninguém mais sabe qual é, mas que “fortalece”, enobrece qualquer discurso. O termo é esquivo, encobre erros pavorosos e até justifica massacres. E eles se sentem “vítimas” da nossa desconfiança de estúpidos que ainda não viram a “verdade”. Eles não querem entender que a miséria do país é uma consequência, e não a causa. Eles amam a miséria, a academia cultiva a “desigualdade” como uma flor. A miséria tem de ser mantida “in vitro” para justificar teorias velhas e absolver incompetência. Para eles, o socialismo é um dogma. Diante dele, abole-se o sentido crítico. É como duvidar da virgindade de Nossa Senhora.

Como podem achar que este pobre povo de miseráveis e analfabetos vai se erguer contra o “neoliberalismo”? Só a loucura explica isso. Antes achavam que a luta de classes era o motor da história. Para eles, hoje o motor da história está em uma espécie de “miséria revolucionária”. Não é possível que homens inteligentes não vejam este óbvio uivante, ululante.

Não esqueçamos que a burrice é uma categoria fundamental para entendermos suas cabeças.

O que mais me grila é que não parece se tratar de um período histórico regressivo. Será que é uma crise passageira, e, uma vez terminada, o país voltq ao “normal”? Não. É um salto para outra anormalidade sem fim; é uma mudança de estado. Temo que não seja uma doença que passa; talvez seja uma anomalia incurável.

Impeachment do SUS

O súbito aparecimento do Ministério da Saúde na cena política não deveu-se a seus méritos ou deméritos para atender a população. O tema que trouxe a saúde à pauta foi o pacote contendo redução de ministérios e troca de nome do titular da pasta. A conversa, portanto, não referiu-se ao valor que a saúde tem para cada individuo e para a sociedade. O assunto se concentrou em torno do quanto vale o cargo de ministro, medido pelo volume do orçamento da área, quantidade de nomeações para unidades de saúde, articulações com prefeituras e desdobramentos em termos de licitações e contratos. Em vez de votos de saúde, pronto restabelecimento, melhoras, deseja-se o Ministério. A chocante frieza das tentativas de acordos, envolvendo o Ministério da Saúde com bancadas de partidos políticos e de sub-acordos com parlamentares de unidades da Federação admitem interpretações diversas. Dar o anel para não perder os dedos, uma grande prova de compromisso para a formação de maioria no Congresso e discordância com a histórica agenda do SUS. Como na prática argumentos, intenções e interesses se embolam, a oferta do Ministério da Saúde ao uso e abuso de negócios acoplados a projetos políticos-eleitorais provavelmente teve múltiplas motivações.

Desde o início do ano, as medidas e ameaças para desmantelar o SUS se intensificaram. Propostas de cobrança no SUS e separação de atendimento para quem é trabalhador formal e o restante da população, e autorização indiscriminada de investimentos estrangeiros nas atividades assistenciais foram idealizadas e aprovadas pelos apoiadores e postulantes ao cargo de ministro. A desidratação do sistema público agravou. Com o corte de mais de 10% dos gastos federais para a saúde, de um orçamento já racionado a partir de 2014. O SUS aprovado pela Constituição de 1988 foi questionado, modificado e deixado à míngua. A história é longa, os governos de distintos matizes partidários trocaram o SUS, uma política encarada por alguns como velha, desgastada, por programas, com os antecedidos pelo prefixo mais em voga.

A manobra de deixar o SUS de lado e buscar realizar no curto prazo ações para expandir acesso, recentralizou ações na esfera federal. A alocação de recursos específicos, as normas e mesmo leis direcionadas a programas e não ao conjunto do sistema postergaram a construção federativa do SUS. No entanto, a amálgama que permitiu alguma linha de continuidade nas ações do Ministério da Saúde, desde a redemocratização, é o SUS. Foi também em nome do SUS que a simbiose entre o setor privado, o financiamento das campanhas eleitorais e as propostas de redistribuição do fundo público prosperaram. Mas a multiplicação do enredamento do Ministério da Saúde em laços clientelistas e a possibilidade de expansão e reiteração de práticas que estão condenadas pelas operações de investigação de corrupção o tornarão apenas um campo de exploração de interesses particularistas.

A maioria dos países, inclusive na América Latina, possui ministros da Saúde competentes para conduzir debates e projetos sobre qualidade de vida no âmbito interno e nos fóruns internacionais. O desemprego, a desaceleração da economia, a escalada da violência, em suas manifestações objetivas e subjetivas causam sofrimento, adoecimento e mortes. É claro que nenhum sistema de saúde, mesmo acessível e abrangente, resolve esses problemas, mas contribui para equacioná-los, tratá-los e evitar que ameacem a vida. A alocação racional, a priorização de recursos escassos de acordo com parâmetros de necessidades de saúde não é o mesmo que pulverizá-los, distribuí-los entre a base parlamentar. Qualquer gestor da saúde, especialmente o ministro, tem como desafio encontrar alternativas para contornar o aumento das demandas por atenção, restrição orçamentária e os efeitos de políticas cambiais, que aumentam, duplicam, preços de medicamentos, reagentes e equipamentos importados.

A tesoura com duas superfícies de corte atinge o que estava funcionando razoavelmente bem, como por exemplo a dispensação de medicamentos e equipes de atenção primária à saúde, que além de propiciar tratamentos sem interrupções, reduzem gastos das famílias. A defesa da saúde como um domínio simultaneamente especializado e exigente de conexões políticas democráticas não significa desconhecer a força financeira e política do setor privado. É um equívoco ignorar a privatização da saúde. Pode-se não gostar da realidade, criticá-la, mas esses julgamentos, quase sempre, ignoram que sucessivas gerações de trabalhadores, entre as quais a parcela dos sindicalistas que chegou ao poder, acreditam que a assistência privada é a depositária da inovação e qualidade. O jogo não está equilibrado, os enlaces, contraídos com finalidades distanciadas do esforço de trazer a vida humana, a vida social, para o centro das decisões políticas, expulsam o pessoal da saúde pública da partida. Encerrar dessa forma um longo ciclo de batalhas pelo SUS é sintoma de profunda melancolia social. Hipócrates diagnosticaria excesso de bile, influência de Saturno sobre o humor. Nos dias de hoje, o impeachment do SUS significa abandono dos princípios de igualdade, solidariedade e respeito mútuo. A cura, seja pelos cânones da medicina grega, seja pela recusa à degradação da política de saúde, requer mudança de ares e lugares e restabelecimento de outras aspirações que não a posse e os desmandos.

Ligia Bahia

STF, mais perigoso do que o PT

Não se surpreenda com o título. Ele não é uma opinião, mas simples expressão de algo facilmente constatável. O PT, como partido ou como base do governo, apesar de todas as tropelias, tem sua ação contida por certos limites. Tais restrições são impostas, ora por conveniências políticas, ora por ações da oposição, ora por reações da parceria, ora pela possibilidade de que a lei, um dia, valha para todos. Já o STF não se submete a limites. No exercício do poder, seus onze membros podem tudo. Não estão submetidos sequer à Constituição. Substituem-se aos parlamentares para legislar e para deslegislar. A opinião da maioria é a própria lei. O que seis decidem é irrecorrível. Pouco se lhes dá o que as pessoas pensam deles.


Dei-me conta dessa realidade ao ler, na Folha, a opinião do ex-Procurador Regional da República, Rogério Tadeu Romano, sobre o “fatiamento” da operação Lava Jato. Na teoria e na prática tal decisão deve retirar das mãos do juiz Sérgio Moro e entregar ao ministro Dias Toffoli os processos não relacionados com os escândalos da Petrobrás, sob a alegação de que apenas sobre estes incide a competência do juiz. Graças a tão surpreendente quanto conveniente justificativa, a fatia do processo referente à senadora Gleisi Hoffmann foi cortada das mãos de Moro por envolver lavagem de dinheiro. Com lucidez, o ex-Procurador refuta o argumento esclarecendo que, ao fixar a competência, se deveria levar em conta o crime principal, o crime de corrupção, a origem do dinheiro desviado, e não o secundário, lavagem de dinheiro, que só surge porque havia o principal. Por que será que os advogados dos réus festejaram tanto a decisão do STF? Ah, pois é.

Até o PT, envolvido à náusea num emaranhado de escândalos sem precedentes na história universal, se preocupa com parecer menos pior. Ao STF pouco se lhe dá se for tido e havido como um “tribunal bolivariano”, na expressão usada pelo ministro Gilmar Mendes. E me sinto igualmente respaldado para o título deste artigo quando lembro as palavras de Joaquim Barbosa no final da sessão em que oito réus do mensalão foram absolvidos (pasmem!) do crime de formação de quadrilha. Disse ele: "Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo. Esta maioria de circunstância tem todo tempo a seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora. (...) Essa maioria de circunstância foi formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012".

Sem tirar nem pôr, é o que estamos presenciando.

Percival Puggina

Em busca de fôlego

A dança dos Três Poderes prossegue. Como deveria ser na sociedade aberta em construção. O Executivo reage sob pressão do agravamento de uma crise econômica resultante de suas próprias lambanças.

Tenta aprovar no Congresso um ajuste fiscal à base do aumento de impostos. Segue politicamente enfraquecido e juridicamente ameaçado em meio às investigações que revelam indícios de uma cleptocracia.


Os representantes no Legislativo dançam ao som de ritmos diferentes. Os partidos de oposição ouvem o som das ruas. A incompetência e a corrupção despertaram a indignação popular, encorpando as propostas de impeachment.

Os partidos da base do governo são atraídos pelos sons das ofertas de cargos e promessas de verbas orquestrados em defesa do mandato presidencial.

Os mais experientes oposicionistas sabem que um impeachment agora transformaria o PT em oposição antes de seu dilaceramento nas urnas. Sabem também que devem apoiar medidas fiscais impopulares para manter o país solvente, enquanto os governistas são fritados ao sol inclemente da opinião pública.

Os mais experientes situacionistas apoiam apenas moderado ajuste fiscal que lhes garanta a sobrevivência, deixando seus patos novos mergulharem cada vez mais fundo em busca de cargos e verbas. A reforma ministerial em curso é um ritual de cooptação do baixo clero.

A cúpula do PMDB anuncia cada vez mais alto sua independência política, seu inédito desapego ao loteamento dos ministérios e um revigorante alinhamento com a opinião pública no repúdio ao aumento de impostos.

O despertar do Poder Judiciário anuncia novos tempos. O Brasil não quer mais ser uma república das bananas. A classe política não pode estar acima da lei, e, se achar que pode, não deve dormir em paz.

O julgamento da História começa a se esboçar ante o acúmulo de evidências de corrupção sistêmica. Já está claro para a opinião pública que Joaquim Barbosa tinha um pé no futuro. Seu fervor republicano contra degeneradas práticas políticas transborda agora para todos os níveis da administração pública.

Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e seus jovens e competentes colaboradores são as forças de nosso aperfeiçoamento institucional. A velha ordem recua em fuga rumo às sombras. Fatia as investigações em busca de fôlego.
Paulo Guedes 

Lula na TV para mascarar guerra fria de guerra quente

O Partido dos Trabalhadores vai exibir, nesta terça-feira (29) e na quinta-feira (1º de outubro), duas inserções em rede nacional de rádio e televisão. Lula vai ser a estrela.

O PT vai acusar os opositores pela crise.

“Uma pergunta para todos os brasileiros: os políticos que querem desestabilizar o governo estão pensando no bem do País ou em si mesmos? Estão interessados em beneficiar a população ou só querem tirar proveito da crise?”, consta do video.

Lula vai disparar: “Pensem comigo: um País que em apenas 12 anos saiu do Mapa da Fome da ONU, colocou mais de 40 milhões de brasileiros na classe média, bateu recordes na geração de empregos e fez programas como Minha Casa, Minha Vida, o Prouni e o Fies, é capaz de vencer qualquer crise”.




Ao ir ao ataque contra os opositores, Lula volta ao campo de batalha tentando dar uma ideia de guerra quente.

Mas o país vive uma guerra fria.

Coube ao inimigo figadal de Jean Paul Sartre, o conservador Raymond Aron, dar a melhor definição do que foi a Guerra Fria: “Um período em que a guerra era improvável, mas a paz era impossível”.

É isso que o Brasil vive.

Lula vai à TV exibindo uma polarização ostensiva, para dar a ideia de que ele é o polo ativo de uma guerra quente.

Cascata.

A guerra fria do PT é escondida dos olhos da população: é feita entre os ministros do STF nomeados por Lula e Dilma (que fatiaram a Lava Jato); é feita por assessores de advogados que defendem petroleiros, e vivem ora a distribuir dossiês contra Michel Temer (que por sua vez, pleonasmicamente, reage nas trevas, daí o seu mais recente apelido, “Blá, Blá, Blá”, em homenagem à onomatopeia do vampiro-pai de Hotel Transilvânia…).

A guerra fria do PT é feita sobretudo pela colunista que vaza diariamente as porradas no PT. A saber: jornalistas procuram assessores de petroleiros para ouvirem o outro lado, em contraponto aos ataques. Os assessores repassam para a colunista: esta publica, para esvaziar o ataque, naquilo que se chama na Guerra Fria de “vazamento controlado”.

Não se iluda com Lula dando a cara: vamos chegar ao fundo do poço sem encontrarmos petróleo. Lula dará a cara para mascarar a guerra fria e suja que ele alimenta: contando ou com togados nomeados pelo PT, ou com jornalistas alimentados para aliviar a tensão ora corrente com seus “vazamentos controlados”.

Refugiada no palácio


Dilma Rousseff afirmou que o Brasil está “de braços abertos” para receber refugiados de outros países. Coração de mãe é uma bênção. Chefiando um governo que não tem onde cair morto, fazendo a população de seu país comer o pão que o diabo amassou numa crise hedionda, a presidenta-mulher encontrou forças para seu aceno solidário ao mundo. A geopolítica das migrações não será mais a mesma depois do brado retumbante de Dilma. A sorte é que o mundo não sabe distinguir solidariedade de pedalada verbal.

Para os não iniciados, vale o esclarecimento: pedalada verbal é quando alguém fala alguma coisa para desviar a atenção de outra. A esperança da presidenta-mulher e de seus mandantes é que a plateia abobada se distraia mais um pouquinho com aquela conversa de coração valente, dando-lhes algum oxigênio extra para a sobrevida no palácio. Dilma discursou sobre os refugiados no 7 de Setembro, escreveu sobre os refugiados em artigo na imprensa, usou seu posto de chefe de Estado na Semana da Pátria para tratar dos refugiados no Oriente Médio. Se alguém na Síriaouviu esse apelo dramático, é capaz de atravessar o Mediterrâneo e o Atlântico a nado para alcançar a salvação petista. Chegando à praia, levará logo uma cravada da CPMF para saber onde está pisando.

Isso é tudo o que restou a Dilma e seu governo moribundo: demagogia sentimental e chantagem emocional. Mas não custa mandar o aviso aos refugiados de todo o planeta: o PT não é solidário nem com a mãe gentil. Depenou a economia popular sugando o patrimônio público e se refugiou no palácio. Quem tentou tirá-los de lá pelas vias normais (o voto) teve seus botes postos a pique por uma artilharia pesada – incluindo roubo da maior empresa nacional para financiar os truques eleitorais, segundo investigação da Operação Lava Jato. Tesoureiros e financiadores da Miss Solidariedade, prezados refugiados, já foram investigados e presos por tirar do povo para dar ao partido. O Brasil está de braços abertos e os brasileiros estão de mãos ao alto.

A crise dos refugiados é terrível, e é terrível a carona que os humanistas de butique pegam nela. A solução entoada pelos traficantes de bondade é fácil: Europa, abra as portas para todo mundo que quiser entrar! Deixe de ser egoísta e xenófoba, socorra os migrantes que estão morrendo no mar! Aliás, por que o mundo não pensou nisso antes? Todo ser humano que vive em dificuldade em seu país pobre e violento deveria se mudar para um país rico e pacífico. Pronto, tudo resolvido! E como fazer para que os mercados e as cidades europeias absorvam as populações deslocadas e a conta continue fechando, com bem-estar social para todos? Ora, se vira, seu capitalista selvagem!

Um dos primeiros países não europeus a anunciar que estava de portas abertas para os refugiados foi a... Venezuela. O companheiro Maduro talvez só fique devendo aos hóspedes o luxo de usar papel higiênico, mas essas necessidades primárias são facilmente substituíveis por uma boa cantilena chavista. Tanto na Venezuela quanto no Brasil, na Argentina, na Bolívia e em todos os países bonzinhos com o chapéu alheio, não existe esse problema neoliberal de fazer a conta fechar. A conta foi privatizada pelos companheiros, eles pedalam quanto quiserem para deixar os números lindos de morrer – e dessa cartola sem fundo fazem aparecer o que quiserem. Até bolsa refugiado.

Foi assim que o Brasil mandou pelos ares o tal grau de investimento, que os petistas informam que não tem a menor importância. Afinal, quem está preocupado com selo de bom pagador? O que importa é o selo de bom falador – capaz até de falar aos corações dos refugiados d’além-mar. Se faltar dinheiro, é só pedir para o Vaccari, ou para o Delúbio, ou para algum ajudante deles que não esteja em situação de xadrez. E, se ainda assim continuar faltando, não tem problema: é só meter a mão no bolso do brasileiro, esse ser pacato e compreensivo.

“As pessoas nem sentem”, comentou o petista José Guimarães, líder do governo na Câmara, sobre a recriação da CPMF. Mão leve é isso aí. E, se o Brasil não se importa com o bolso, melhor entregar logo as calças aos companheiros. Se mudar de ideia, a única saída é não aceitar mais mulher sapiens refugiada em palácio.

Entenderá?

Dilma precisa entender que a situação já não comporta improvisações, remendos e paliativos. O que agora se exige é um plano de jogo mais ambicioso, condizente com as proporções do atoleiro fiscal em que o país foi metido. Mas está a presidente apta a se mostrar à altura desse desafio? Infelizmente, tudo indica que não. E é isso que explica boa parte do quadro dramático que hoje vive o país
Rogério Furquim Werneck 

Os males da improvisação

Nos idos de 1830, Unzelmann, grande estrela do teatro alemão, ficou famoso pelos “cacos” que acrescentava ao texto das peças por ele representadas. O diretor do Teatro de Berlim proibiu-o de improvisar. Durante certa performance, o ator entrava no palco montado num cavalo. Só que o animal portou-se de maneira imprópria, fazendo cocô diante da distinta plateia, que começou a rir. O ator repreendeu o parceiro: “você não sabe que estamos proibidos de improvisar?”

Ontem, aguardando o desembarque da presidente Dilma, vinda dos Estados Unidos, reuniram-se na Câmara diversos deputados do PMDB, insatisfeitos com o atraso da reforma ministerial. Queixavam-se da improvisação nas mudanças prometidas há mais de um mês, pois sempre que um parlamentar é cotado para determinado ministério, no dia seguinte suas chances perdem-se nas especulações dos corredores do Congresso. Ninguém tem certeza de coisa alguma, sequer de quais os ministérios que serão extintos. Uma verdadeira improvisação, cujos resultados deveremos conhecer até o final da semana, caso não se verifiquem novas dúvidas e não aconteça nova protelação.

Pois é. Improvisar em política parece perigoso, em especial porque Madame, ao anunciar a intenção da mudança, um mês atrás, deveria ter calculado minuciosamente os ministérios que desapareceriam, bem como convidado, mesmo em segredo, os novos ministros. Deixou tudo e todos em suspense, por falta de decisão ou por conta da verdadeira batalha campal travada pelos candidatos e pelos partidos indignados com a perspectiva de perder espaço. Portou-se como amadora, ou seja, está improvisando...

Assim como a vida, os governos são curtos, pelo menos na visão dos governantes e de quantos habitam o planeta. Quando o final vai-se aproximando, buscam-se alternativas e subterfúgios, como o da imortalidade no Céu, para uns, e o do retorno ao poder, para outros. Na realidade, tudo se resume ao medo da morte, num caso, e a incerteza da reeleição, no outro.

Nos dois casos, depois que as religiões transformaram todos os tormentos e sofrimentos na concepção do Inferno, restou para o Céu apenas o tédio. Para a reeleição, também Deve ser por aí que o Lula anda raciocinando. Afinal, valerá à pena voltar para queimar nas chamas eternas ou para sem ter o que fazer em Brasília?

Dilma zangada

I

Dilma, ao ficar sabendo
Que o senador Sibá
Teve um encontro com Cunha
Somente pra conspirar,
Quase cancela a viagem
e faz pega-pra-capar!

II

Sibá se encontrou com Cunha
E, com jeito bem manhoso,
Disse que o Mercadante
Era um sujeito sestroso
E devia deixar o governo
Com Levi e com Cardoso.

III

Dilma, quando soube disso,
Começou um pega-arreda:
Deu uma rasteira no guarda
(Que ele nem viu a queda)
E até o helicóptero
Soltou mais de uma labareda.
IV

Deu um grito em Jaquivagui
E disse: “Vá se lascar!
Que o marido de Ideli
Foi você quem mandou lá
Para os Estados Unidos
Com R$ 30 mil para amar”.

V

Mandou dizer a Ideli,
Com aquele jeito de zelo:
- Estou indo agora aos EUA
Para fazer um apelo.
Apareça em Nova Iorque
Que eu arranco seu cabelo!

VI

Sacudiu a secretária,
Derrubou um par de brinco;
A roupa do diplomata
Amassou, encheu de vinco:
- Quando eu voltar ao Brasil,
Quero ver o dólar a cinco!
Miguezim de Princesa

ECA do B

As crianças negras e pobres do Brasil só são achadas por bala perdida porque não sabem ler o verdadeiro Estatuto da Criança e do Adolescente


Se as crianças negras e pobres tivessem aprendido a ler, não ficariam interrompendo o tráfego com seus corpinhos escuros. Mas vão para escolas públicas bem equipadas, em prédios planejados, cercados por jardins e quadras de esporte, com professores bem pagos e preparados, em tempo integral, alimentadas com comida nutritiva e balanceada, e nem assim conseguem ler direito. Só desperdiçam os impostos pagos por pessoas de bem, como eu. Preferem ficar em seus barracos sufocantes, em ruas esburacadas e sem árvores, por mau gosto. Impressionante o mau gosto das crianças pobres e negras, uma coisa que vem de berço, mesmo, basta ver como se vestem mal. Por isso, não compreendem o Estatuto da Criança e do Adolescente. Não a bobajada aprovada nos anos 90, por aquele monte de babacas que ficam choramingando até hoje porque a ditadura torturou e matou uns milhares de comunistas. Matou foi pouco! Estou falando do verdadeiro Estatuto da Criança e do Adolescente, o que não foi feito por gente que ficou desperdiçando anos estudando para proteger direitos humanos de bandidinhos. Como se crianças negras e pobres fossem humanas! Estou falando do ECA que vale, o das ruas, a lei na prática, mesmo. O outro, o oficial, é só pra botar na biblioteca daqueles intelectualoides de esquerda, pra encherem aquela boca mole de porcaria politicamente correta e se exibirem em reunião da ONU. Se os moleques soubessem ler e soubessem o seu lugar, estariam aí, vivos, pra ficar chapinhando no esgoto, como gostam. Como não tenho estômago pra sujeira na via pública, resolvi sistematizar a lei em vigor e fazer o manual de 2015, versão atualizada, para ver se param de emporcalhar o chão com seus miolos. Uma coisa bem didática, bem simples, pra que mesmo uma raça inferior consiga entender. Vou botar nome em cada uma delas, pra ver se fica mais fácil de entrar nessas cabecinhas cheias de maconha. Tipo, lembra do caso, associa com a lei, não faz merda, tudo resolvido. Como no ano que vem tem Olimpíada e não quero que os gringos pensem que aqui não tem lei, me restringi ao Rio de Janeiro. Se cada um fizer a sua parte pra higienizar a cidade, o Brasil ainda pode brilhar:
Leia mais o artigo de Eliane Brum

À espera da reforma medíocre e limitada de um governo ruim

De volta de Nova Iorque, depois de abrir mais uma Assembleia Geral da ONU, a presidente Dilma Rousseff deverá conferir prioridade ao desfecho da reforma do seu ministério.

Trata-se de uma tarefa que ela mesma se impôs e que se arrasta há mais de 30 dias. No momento em que mais precisa de apoio político, ela pretende cortar 10 dos atuais 39 ministérios.


Não é uma ideia inteligente. Mas Dilma é useira e vezeira em adotar ideias pouco inteligentes. Ou burras mesmo. Age assim devido à sua inexperiência política e à má qualidade dos seus conselheiros.

Do ponto de vista econômico, o corte de 10 ministérios nada significa. É só para que ela possa dizer: “Cortei”. E talvez não corte 10. De alguns deles, se limitará a tirar o status de ministério.

Com o corte e a entrega de seis ministérios ao PMDB, um deles o da Saúde, Dilma imagina reunir votos o bastante para barrar na Câmara dos Deputados qualquer pedido de impeachment contra ela.

O PMDB não lhe assegura votos com tal objetivo. Nem mesmo com o objetivo limitado de recriar a CPMF. Alguns nomes do partido podem particularmente lhe assegurar seus votos.Mas é só.

Dilma procede como em 1992 também procedeu o então presidente Fernando Collor, ameaçado pelo impeachment. Collor reformou seu ministério. E mesmo assim acabou no chão.

Marcas da reforma feita por Collor: a atração de nomes de peso da política e de fora dela; e sua amplidão. Os nomes dos novos ministros de Dilma são medíocres. E a reforma, limitada.

Quem é golpista?

O ministro Edinho Silva afirmou que o governo não tem um “plano B” para a proposta de ajuste encaminhada ao Congresso, e que não há alternativas viáveis, fora das já apresentadas pelo Executivo, para equilibrar o orçamento do governo, passando ao distinto público a falsa ideia de que a única maneira de cobrir o déficit das contas públicas é através da criação ou aumento de impostos, inclusive a malfadada CPMF, além de cortes ridículos nas despesas. Mais uma vez, o governo mente!

O leitor talvez não saiba, mas o Tesouro Nacional, ao longo dos últimos anos, principalmente durante o primeiro mandato da presidente Dilma, transferiu perto de R$ 520 bilhões para o caixa do BNDES. Para se ter uma ideia da grandeza desse número, ele representa cerca de 10% do PIB (2014). Pelos recursos, o governo cobra do BNDES juros de 6% ao ano (TLJP), enquanto, para captá-los no mercado, paga, em média, 13%. Em outras palavras, o custo de carregamento desses “empréstimos”, que fazem a alegria dos grandes empresários tupiniquins, é de aproximadamente R$ 35 bilhões, valor superior ao orçamento anual do Bolsa Família (R$ 27,5 bilhões). Agora, eu pergunto: o leitor viu, em algum lugar, menção de que o governo pretenda pegar esse dinheiro de volta? Nem eu.

Outra possibilidade de arranjar recursos extras para cobrir o déficit seria através de privatizações de empresas estatais, mas, além da proposta de vender 25% da BR Distribuidora (o que está bem longe de significar privatização, já que o controle permaneceria com o Estado), nem uma linha da proposta recentemente encaminhada ao Congresso toca nesse ponto. Eles preferem recriar a CPMF, tungando um pouco mais o bolso do contribuinte. Por quê?

A ideologia petista não admite perder o imenso poder econômico que hoje detém o Estado brasileiro, seja para fazer afagos aos amigos do rei (e financiadores do partido), seja para estender seus imensos tentáculos sobre o mercado.

Não por acaso, no mesmo dia da entrevista de Edinho Silva, sua chefe, a presidente Dilma Rousseff, voltou a dizer — não exatamente com essas palavras, pois seu idioma, embora semelhante, não é o meu — que estão tramando um golpe contra ela, aproveitando-se da crise econômica para propor seu impeachment. Não esclarece como é que um processo previsto na Constituição e regulamentado em lei pode ser considerado golpe.

No meu dicionário, golpe é eleger-se mentindo descaradamente ao eleitorado, mostrando um mundo cor de rosa quando já pairavam nuvens negras no horizonte, avisando que uma tempestade de grandes proporções estava a caminho. Golpe é acusar os adversários de tramar a redução de investimentos em programas sociais, sabendo melhor do que ninguém que, qualquer que fosse o eleito, inclusive ela própria, teria de fazer cortes e congelar benefícios. Golpe é divulgar, por anos a fio, demonstrações financeiras falsas, mostrando superávits onde havia déficits, escondendo resultados negativos através de contabilidade fajuta e “pedaladas fiscais”. Golpe é utilizar bilhões em recursos desviados da Petrobras para abastecer os partidos da base aliada. Finalmente, golpe é emprestar R$ 520 bilhões do Tesouro (leia-se: contribuinte brasileiro), cobrando menos da metade dos juros praticados pelo mercado, aos seus financiadores de campanha e a governos estrangeiros ideologicamente vinculados a seu partido
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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Politicos derrubam a arvore para apanhar o fruto

Precisamos falar sobre capitalismo

No Brasil, pouca gente sabe definir o que é, mas muitos odeiam o capitalismo. O Instituto Millenium (ONG dedicada a promover os valores da liberdade, democracia e economia de mercado), um dia desses, colocou uma pessoa na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, perguntando aos transeuntes o que pensavam sobre o assunto. Três de cada quatro entrevistados ficaram nervosos com a pergunta, recuavam temerosos do microfone, ou resmungavam desconfortos variados como “aqui no Brasil não tem isso não”, “sei não senhora” e que tais.

O restante das respostas, inclusive de uma professora do ensino médio, refletiu o que se esperaria obter de uma região outrora conhecida como a “Brizolândia”.

Em um belo livro recentemente lançado (“Capitalismo: modo de usar”), Fábio Giambiagi concentra esta mesma mensagem na sua epígrafe, uma fala de Fernando Henrique Cardoso dirigida a Arminio Fraga antes de sua sabatina no Senado como parte de sua nomeação para a presidência do Banco Central. Sem pretender precedência, registro apenas que ouvi este conselho igualzinho nas duas ocasiões em que fui sabatinado. Eis a sabedoria: “o Brasil não gosta do sistema capitalista. Os congressistas não gostam do capitalismo, os jornalistas não gostam do capitalismo, os universitários não gostam do capitalismo”

Como explicar essa estranha hostilidade ao sistema econômico que prevalece em todo o planeta, excetuadas algumas comunidades primitivas isoladas no Caribe e na Ásia, e cujo indiscutível e extraordinário sucesso aniquilou qualquer concorrência?

Afinal, o capitalismo é o sistema econômico baseado na propriedade privada, na liberdade de empreender, na letra da lei, e na centralidade do mercado para estabelecer os preços. Que há de tão errado com isso?

O fato é que são reveladoras as respostas ouvidas na Brizolândia.

Em primeiro lugar, destaque-se a apatia, muito provavelmente incentivada por valores nossos, mal cultivados. Hierarquias e privilégios parecem mais naturais no Brasil que a igualdade diante da lei e a impessoalidade. Valores “maiores” parecem prevalecer sobre os da contabilidade ou da sustentabilidade: os balanços fecham no Palácio, os patrimônios “não têm preço”, prejuízos “não importam”, e a criatividade permeia partidas dobradas. E por fim, o mercado, a meritocracia e a competição, são coisas para nossos inimigos, pois é o que se passa na “rua” e não na “casa”, como ensina Roberto DaMatta.

Em segundo lugar, trata-se do sucesso do capitalismo como se houvesse dúvida sobre isso. O próprio Marx, em seu famoso manifesto, em 1848, as eliminou ao afirmar que “a burguesia, em seu reinado de apenas um século, gerou um poder de produção mais massivo e colossal do que todas as gerações anteriores reunidas”. O erro estava em prever o colapso do sistema, ou exagerar nos efeitos colaterais.

Sobre desigualdade, é preciso cuidado com um sofisma muito comum. O progresso material não é igual em diferentes regiões do planeta, ou mesmo dentro de um país. Muitas regiões do continente africano vivem hoje do mesmo jeito que viviam há 500 anos, e nessa ocasião os nativos da região hoje conhecida como a Califórnia estavam nesta mesma faixa de renda. Em nossos dias, diante da brutal diferença de bem-estar entre essas regiões pode-se distinguir ao menos dois tipos de reações: de um lado, os que se encantam com o desenvolvimento californiano e procuram emular seus valores, e, de outro, os que afirmam que esses 500 anos de capitalismo aprofundaram a desigualdade (fato estatístico indiscutível, eis que uma das regiões simplesmente ficou estacionada) ou que, um tanto mais canhestramente, os californianos ficaram ricos explorando os africanos, ou os mexicanos. Ou seja, o vilão é quem deu certo, e o sucesso é sempre pecaminoso, segundo a Brizolândia.

O fato é que, contrariamente aos países onde as virtudes burguesas — empreendedorismo, parcimônia, iniciativa e integridade — são louvadas, nosso capitalismo meio patrimonialista sempre foi visto como um jogo de cartas marcadas, onde os valores a cultivar eram outros: conexões com o governo, imprevidência, reservas de mercado e malandragem.

Um “capitalismo pela metade” pode produzir um sucesso pela metade (ou um “meio fracasso”, um país eternamente do futuro), com distorções imensas, como ocorreu no Brasil dos anos 1980, e mesmo um retrocesso, como na Argentina. As nações podem simplesmente fracassar.

Em um famoso discurso no Senado em junho de 1989, o senador Mário Covas, um homem de centro-esquerda e inatacáveis credenciais nacionalistas, proclamou que o Brasil precisava de um “choque de capitalismo”. Era um desabafo a propósito da democracia que ele tanto lutara para reconstruir, e que vivia, naquele mês, uma inflação de 28,6%. A democracia não deveria levar o país à insensatez econômica. Covas disputava a presidência, e no primeiro turno obteve apenas 11,5% dos votos, ficando em quarto lugar. Em dezembro, quando ocorreu o segundo turno, a inflação rompeu oficialmente a barreira da hiperinflação: 51,5% naquele mês.

Covas estava correto em que havia algo de muito errado nesse nosso “anticapitalismo” patológico e fora de época, mas o paciente não estava convencido do tratamento. Ainda era forte a demanda por mágica.

Diversos choques se seguiram, mas o de capitalismo só avançou mesmo com o “não choque” representado pelo Plano Real e suas reformas: privatização, responsabilidade fiscal, abertura e as outras que, em seu conjunto, trouxeram a inflação brasileira para níveis de primeiro mundo. Quem poderia imaginar que o sucesso do Plano Real seria o resultado de reformas com o intuito declarado de fazer do Brasil uma economia de mercado por inteiro?

Não obstante, as reformas enfrentaram enorme resistência, esta é a maldição da Brizolândia: uma minoria de perdedores do processo de modernização é sempre capaz de bloquear o que é novo, pois a maioria beneficiada permanece mergulhada na apatia. Os ganhos são dispersos, e os custos concentrados em minorias despojadas de seus privilégios, o velho problema das reformas, e a razão pela qual elas são implementadas por estadistas e não por “gerentonas” ou líderes populistas.

É caprichosa a História, que organiza uma volta ao passado pela ascensão de um líder operário, a quem coube interromper o avanço do capitalismo no Brasil antes que começasse a modernizar demais as coisas. O Brasil mergulha num conservadorismo metido a progressista, cuidadoso e inercial no início, mas que adquire uma feição mais concreta já mais perto de 2008, quando entramos para valer num capitalismo companheiro, ou de quadrilhas e boquinhas.

Não é a inflação que explode, mas a corrupção, uma outra expressão para o fracasso desse capitalismo “pela metade” sobre o qual não vale a pena gastar nem dois tostões de sociologia. Que o digam Joaquim Barbosa e Sergio Moro. Bobos fomos nós em levar a sério a “nova matriz” e outras ridículas vestimentas heterodoxas de que se serviu o cronismo caudilhesco que aqui se implantou. Não era keynesianismo, nem estruturalismo, mas apenas desonestidade, inclusive intelectual.

Um abraço de urso


Li em alguma parte que Lula aconselhou Dilma a abraçar o urso. Era no contexto da relação com o PMDB, portanto abraçar o amigo urso. Mas a imagem do urso me trouxe lembranças da adolescência, quando esperava, na banca da Rua Halfeld, a chegada da revista “Senhor”. Um banquete literário e visual, porque a revista era diagramada por um dos gênios das artes gráficas brasileiras: Bea Feitler.

Foi através da revista que travei contato com “O urso”, de William Faulkner. Era um animal formidável, com um ferimento na pata, provocado por uma armadilha. Todos o temiam, mas desejavam encontrá-lo. Lembro-me de que um dos índios que ajudavam os caçadores dizia que até os cachorros se preparavam para um dia encontrar o urso. Sabiam, como os humanos, da importância do acontecimento.

O urso que Dilma precisa encarar é a realidade sombria que seu governo trouxe ao país e sua incapacidade pessoal de achar o caminho. Esse urso não creio que ela abrace. Mas continuará rondando seu acampamento.

No princípio da semana passada, conversava com um grupo de amigos em Niterói sobre a crise política e econômica. Quando saí, o motorista me esperava nervoso: dois homens armados o sequestraram e roubaram tudo que havia no carro. No caminho de volta ao Rio dei aquele soco na testa: tinha falado muito das duas crises e apenas mencionado a que mais me preocupa — a crise social.

O fim de semana tinha sido marcado por arrastões na Zona Sul do Rio e os debates que sempre surgem nesses períodos. Queria lembrar que assim como as coisas mudam dependendo da luz que as banha, esses fatos têm de ser examinados no contexto mais amplo de um país em recessão, com queda no PIB e a perda de R$ 1 trilhão no valor de mercado das empresas nacionais.

Tanto o desemprego como o aumento da violência urbana são indicadores bastante evidentes. No cotidiano da estrada, vejo alguns mais sutis: aumenta o número de andarilhos e, agora, os encontro mesmo em rodovias secundárias.

Embora Dilma não queira abraçar o urso, as pessoas que trabalham estão tendo de encarar a crise, nas ruas ou diante da televisão, com o fluxo das notícias negativas. Muitos de nós enfrentam duras realidades cotidianas, buscando proteger os entes queridos. Mas ainda não decidíamos encarar o urso ombro a ombro e despachar um governo que se impôs pela delinquência. Um governo assim não cai de maduro. Haverá tensão, violência verbal, grandes transtornos.

Mao Tse Tung dizia que a revolução não é um piquenique. No caso do comunismo, foi mais uma sucessão de massacres. A derrubada do governo petista é algo muito mais suave do que uma revolução. Mas também não é um simples clique no computador. Será preciso fazer mais, ou então nos conformamos apenas com os ritmos e os prazos da Operação Lava-Jato.

Desdobrada logicamente, a Lava-Jato vai derrubá-los. Um tesoureiro do partido do governo foi condenado a 15 anos de prisão. Recebeu milhões em propina. Será que guardou tudo na sua mochila? Ou destinou a um partido que financiou a campanha de Dilma? É impossível uma investigação séria parar no tesoureiro. Mesmo se o Supremo derrotar a Operação Lava-Jato, como parece ser sua intenção, ele não devolverá credibilidade aos bandidos que governam o país.

A fórmula brasileira é mais sutil que a da Venezuela. Os ministros não se identificam tanto com o governo. São medíocres o bastante para saber que, sem o PT, jamais estariam sentados ali. Mas por quanto tempo essa obviedade dos crimes do petismo deixará de ser o ponto central dos cálculos políticos no Brasil? Não há futuro com o PT.

O tempo em que permanece no poder é um tempo de “no future”, como diziam os punks em Berlim. A palavra punk ganhou uma nova dimensão na nossa linguagem cotidiana; é algo bizarro e desagradável. E, no momento, a cena nacional é punk.

Na praia de Niterói, antes tão pacata, percebi os limites de apenas falar da cúpula, quando a crise, a 20 metros da minha cadeira, surpreendia com um revólver na cabeça. É preciso fazer mais. Mas é arriscado empregar mal a energia. Neste momento, as tarefas são garantir a sobrevivência cotidiana e combater um sistema criminoso.

Os políticos profissionais que podem fundir essas duas tarefas têm sido muito ausentes. Verdade é que já apresentaram o pedido de impeachment. Mas ainda não discutem que país será o Brasil, após a queda do lulopetismo.

A rejeição maciça a um governo talvez seja suficiente para derrubá-lo. Mas, se surgirem algumas ideias claras sobre o futuro, o processo fica mais rápido.

Vivi muitas crises no Brasil, em quase todas com a certeza, às vezes ilusória, de que as influenciava com minha ação. Esta é mais tentacular, pantanosa. Estou vendo a morte de um projeto que há pouco mais de uma década parecia o novo. Os prazos se encurtaram dramaticamente. Ou nós nos atrasamos muito. De qualquer forma, é preciso correr. Se ficar, o bicho pega.

Fernando Gabeira