quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Ninguém sabe. Ninguém viu

No começo, achava estranho. Não compreendia a razão. Mas sempre era chamado. Não importa o país. EUA, Franca, Holanda, Canada. Sempre a mesma coisa. O mesmo convite: jogar futebol. Sem a preocupação de esclarecer o talento futebolístico. Somente um convite. Assim, simples.

Certamente, não é a familiaridade com o meu trabalho dentro do campo a razão dos convites. Goleiros reservas do segundo time da primeira série do colegial na década de 80 não tem lá muita visibilidade.

No exterior, assumem que todo brasileiro gosta de jogar futebol. E que tem talento e preparo especial para isso. Para eles, somos o país do futebol. E ponto. Esta é parte da explicação. A outra, é que do Brasil se sabe pouco do que acontece entre Copas do Mundo.

Ignorância, certamente. Daria para derramar rios de tinta sobre anedotas demonstrando como a terra das palmeiras onde cantam sabiás é desconhecida. E provavelmente cada uma destas anedotas seria verdadeira.

A ignorância global sobre o país é palpável, concreta, evidente. Mas reflete exatamente aquilo que comunicamos sobre nós mesmos. Se o Brasil se define (quase exclusivamente) como o país do futebol, não existem mesmo motivos para que os outros países o façam diferente. Nem seria razoável exigi-lo.

O Brasil (e o brasileiro) parece ser monotemático. E gostar disso. Não engaja. Isola-se. Não se insere globalmente. Fecha-se em si mesmo na ilusão de que seu autoexílio o protege do tempo, das mudanças, da comparação com os outros. Não enfrenta seus problemas. E morre de vergonha e mostra indignação quando são expostos. Nosso inferno não é o outro. É o espelho.

Para um país que se orgulha de estar entre os maiores do mundo, é pelo menos contraproducente a determinação com que nos entregamos à construção do isolamento internacional.

Vamos, pedra por pedra, tornando concreto, tangível, o isolamento. Ao fim e ao cabo, vivemos fantasia o país é ilha bizarra, onde tudo é diferente, que sabe regras especiais, somente aplicáveis do Oiapoque ao Chuí. E confundindo sempre isolamento com independência.

Pequenos e grandes, os sinais estão ai. Raras são as nossas empresas internacionais. Mais raras ainda as internacionais. Difícil encontrar a bandeira brasileira impressa em produtos. Não produzimos tecnologias em escala. Quando produzimos, não conseguimos torna-las globalmente relevantes.

Quando escolhemos nossos parceiros comerciais, abraçamos o Mercosul. E somente ele. Exclusivamente ele. Sem ambição ou desejo de expansão. Apenas a vontade de abraçar com entusiasmo aqueles que também acreditam no isolamento. Gostamos de muros. Odiamos pontes.

Caminhamos rapidamente do isolamento para a irrelevância. A gente joga (ou jogou) futebol. Mais que isso, ninguém sabe. Ninguém viu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário