Como educador, Irigaray lida com o que se pode chamar de nata dos estudantes, aqueles que já passaram pelos bancos das universidades e estão fazendo pós-graduação e MBA. Espera-se que esses alunos apresentem um nível de conhecimento muito acima da média nacional. Para desespero do professor, no entanto, o que se tem visto é um despreparo total. Muitos dos que pagam até R$ 5 mil de mensalidade não sabem sequer fazer cálculos básicos de matemática. Também não sabem escrever corretamente.
“Outro dia, durante uma aula de matemática financeira, pedi para os alunos fazerem um conta simples, dividir 138 por 138. Metade da turma disse que o resultado era zero, quando o correto era um”, afirma Irigaray. Em outro momento, ele foi questionado ao mostrar que 1/4 corresponde a 25%. “Me perguntaram como tinha feito aquele milagre”, relembra.
Numa aula de português, um aluno, que tem um importante cargo em uma multinacional em São Paulo, escreveu, em uma redação, “faichetaria”, quando o correto seria faixa etária. “Fiquei perplexo”, enfatiza o professor da FGV. Para ele, o desconhecimento assustador de português e matemática é reflexo do descaso com que o Brasil sempre tratou a educação. “Não importa o nível socioeconômico do estudante, a formação é ruim em todos os casos”, emenda.
Irigaray conta, ainda, que, nas universidades que oferecem bolsas a alunos carentes, os professores são obrigados, muitas vezes, a chegarem duas horas antes do início das aulas para tentar tirar o atraso no conhecimento dos estudantes. Não é uma tarefa fácil. Além da formação deficiente, os alunos chegam com fome. Absorver o que está sendo ensinado é desgastante demais.
Segundo Irigaray, esses exemplos só reforçam a sua percepção de que o Estado brasileiro tem que passar por uma mudança profunda. Deve concentrar todos os seus esforços em apenas três pilares: educação, saúde e segurança. É para esses setores que devem ser direcionados os elevados impostos pagos pela população. “É preciso enxugar drasticamente o tamanho do Estado, tem que privatizar tudo. Bancos, empresas. Não há porque o governo manter estatais que só servem para cabide de emprego e para negociações políticas”, diz.
Uma máquina pública mais enxuta, na visão do professor da FGV, poderia desenvolver programas de saúde que, em vez de tratar de doentes, priorizaria a profilaxia, a prevenção. Na educação, a opção seria por escolas de tempo integral, com professores superqualificados. Certamente, isso ajudaria a diminuir drasticamente a violência que tomou conta do país e provocou o desemprego. “Veja o caso do Rio de Janeiro, onde lojas e restaurantes estão fechando por falta de segurança”, ressalta.
Dentro desse processo de Estado mínimo, Irigaray defende a reforma da Previdência. Para ele, da forma como está estruturado hoje, o sistema de aposentadorias privilegia os ricos. São eles que ficam com os maiores benefícios. A grande massa recebe entre um e dois salários mínimos. “Portanto, a reforma da Previdência é necessária, não apenas por corrigir as distorções do sistema, mas também para conter o rombo das contas públicas. O governo não têm dinheiro para mais nada. Não faz investimentos em infraestrutura nem destina recursos suficientes para a educação, a saúde e a segurança”, destaca.
Apesar do desencanto, o professor da FGV acredita que o Brasil tem jeito. Mas será necessário uma sociedade mais atuante, que escolha bem seus governantes e defina prioridades. Não pode a maioria sustentar pequenos grupos que tomaram o Estado de assalto. “Temos que acabar com o Estado patriarcal, cartorial, que funciona para poucos”, frisa. Se conseguir romper com esse atraso e acabar com os feudos que sempre estiveram no poder, certamente a educação, a saúde e a segurança serão prioridades.
“Um país com uma população mais bem educada atrai investimentos. Essa é a base para o crescimento sustentado”, acrescenta Irigaray. Resta saber se a maioria acredita nisso ou prefere manter o que está aí, um quadro de corrupção, de desmandos e de desrespeito com aqueles que sustentam a máquina pública.
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