Só foi infeliz expressar esse pensamento agora, quando se precisa de Putin como interlocutor nas negociações para, de algum jeito, dar fim à guerra desencadeada por ele na Ucrânia, através de um armistício. O próprio Biden não recua de sua declaração, após discussões nos EUA, mas ao mesmo tempo insiste que seu país não persegue como política oficial a troca de poder em Moscou. As duas coisas não combinam: ou um, ou outro.
No momento a prioridade é acabar com o terror das bombas contra a população ucraniana e sustar o avanço russo. Depois deve ficar claro que não pode mais haver cooperação com Putin e seus asseclas, os quais os EUA e a União Europeia culpam abertamente por crimes de guerra.
Quanto mais rápido ele e seu regime de dominação forem superados, melhor. Não pode mais haver relações políticas e econômicas com a Rússia sob Putin. Falando na TV nacional, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, também deixou esse ponto claro, embora não tenha qualificado o chefe do Kremlin diretamente de criminoso de guerra.
O argumento de que não se deve provocar Putin, não procede. Pois o autocrata sabe perfeitamente que o Ocidente não deseja nada mais ardentemente do que a deposição dele, independente de alguém o dizer publicamente. Decisivo é o fato de que uma mudança de regime não será fácil, na prática.
Como a Organização do Tratado do Atlântico Norte descartou a mobilização de tropas, em princípio um assassinato direcionado de Putin não entra em cogitação. Fica excluída, assim, uma solução como as aplicadas no caso de Osama bin Laden, Muammar al Kadafi, Saddam Hussein ou Nicolae Ceaucescu. Não por não ser moral ou legalmente justiificada, mas porque no momento é quase impossível chegar de fora até Putin, e porque na própria Rússia não há um movimento de resistência forte.
Partindo-se do princípio que o chefe de Estado não renunciará voluntariamente a seu posto, só resta a deposição do tirano por assassínio planejado, como se tem praticado desde a Antiguidade até os nossos dias. Certos especialistas em ética moral e direito internacional argumentarão que tal ato seria moralmente desprezível e fora dos limites da legalidade.
Em princípio, está correto. No entanto, pode-se encarar Putin como o supremo comandante de um partido que trava guerra. Assim, seu assassinato por combatentes inimigos seria justificável perante o direito internacional e a Convenção de Genebra sobre os direitos humanos.
A solução também poderia ser um Brutus próximo a Vladimir Putin, como expressou o senador Lindsey Graham, referindo-se ao político que, na Roma de 44 a.C., assassinou o ditador Júlio César. O conservador americano conclamou os russos a tomarem seu destino nas próprias mãos. Talvez alguns oligarcas ou outros da panela de liderança de Putin estejam dispostos a executar esse atentado.
Poderia ser, por exemplo, uma versão russa e mais bem-sucedida do coronel Claus von Stauffenberg, que em 1944 quase conseguiu matar com uma bomba o tirano nazista Adolf Hitler, e que hoje é justamente homenageado na Alemanha como herói. A questão também é: quem ou o que viria depois? O brutal sistema entrará em colapso se lhe faltar a cabeça? Ou um outro tirano simplesmente tomará o lugar?
A história ensina que é preciso se defender de tiranos. Pode-se descartar que o chefe do Kremlin, que sonha com uma ressurreição da União Soviética, não vá recorrer a meios outros? Ele próprio ameaçou a Otan com consequências jamais vistas, caso ela intervenha. O que quis dizer? Ofensivas atômicas? Um inverno nuclear?
Desse ponto de vista, o presidente Biden tem certamente razão: Putin não deveria ocupar o poder nem poder ordenar mortes sem sentido por mais um só dia. Uma mudança de regime é necessária. O assassínio de um tirano poderia ser uma solução, mas que provavelmente permanecerá no campo dos sonhos.