segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Dois momentos do ladrão

O movimento de carros era intenso na avenida do comércio. Desses que se o motorista não dirigir com cuidado ultrapassa o sinal vermelho e certamente será flagrado na infração pelo guarda ou, infalivelmente, pelo censor instalado no poste próximo da sinaleira.

A moto parou no sinal vermelho.

Apareceu como um raio, arma em punho, apontando para a cabeça.

– Passe a carteira, se tem amor à vida.

Branco de medo. Na garupa da moto a mulher chorava.

– Entregue logo, o que está esperando?

Adiante, o ladrão abriu a carteira, contou as cédulas com o dinheiro gordo. Todo risonho. Começava bem o dia.

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De repente foi lançado ao ar. Caiu estatelado. A moto pegou a dele em cheio. Era aquele mesmo motoqueiro, que tinha sido antes a vítima daquele mesmo cara de cabelos grandes e olhos sanguíneos, pilotando uma moto veloz. A vítima, que de repente virou o agressor, melhor dizendo, agente, pegou a sua carteira que caiu no chão com o dinheiro gordo.

Saiu disparado na moto, a mulher na garupa cantando.

O ladrão entrou na delegacia, zangado.

O rosto inchado, o corpo doendo.

Contou o ocorrido ao delegado.

Várias costelas quebradas, o corte no rosto.

Perdeu quatro dentes, a boca ferida, a língua machucada.

Gosto de sangue pisado.

Escapou por sorte.

No final declarou:

– Quero ser indenizado.

Indenização gorda. Direito líquido, certo, inquestionável, pensou com a careta feia que fez no rosto.

Providências cabíveis deviam ser tomadas. Urgentes. O caso exigia rapidez em razão da estupidez daquele motoqueiro imprudente. Imprudência, negligência ou imperícia. Fosse o que fosse.

Cyro de Mattos

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