“Cada americano terá a oportunidade de realizar seu potencial máximo. Os homens e as mulheres esquecidos de nosso país Cada não serão mais esquecidos. Vamos consertar nossas cidades e reconstruir nossas estradas, pontes, túneis, aeroportos, escolas, hospitais. Vamos reconstruir a nossa infraestrutura, que se tornará, por sinal, inigualável, e vamos colocar milhões de pessoas para trabalhar enquanto a reconstruímos.”
Amém, com água benta. Porque diabo que é diabo mesmo, fala A e faz B.
Aqui é alhures, o diabo aparece quando a economia trupica. E, nos detalhes, faz impensáveis diabruras. Depois, quem sobrevive, vê o enxofre, quente e fedorento, puxando um cordão de reaças. Eles são siameses. Estão sempre coladinhos, coladinhos. Um puxa o outro vem.
Esqueça a história de Céu e Inferno. É lirismo. O diabo mora mesmo entre nós, escondido nos detalhes. Há séculos. E o lúcifer não é nada etéreo, mas palpável, velhoso e guloso. Esqueça também a serpente. O maligno mudou a fantasia faz tempo. Aparece ora ruivo, ora com pinta de vampiro sempre engasgado, que limpa bem a garganta para cuspir fogo “ninóis”. E como cospe!
Do macro pro micro, o velho diabo vive sempre encastelado nos detalhes.
Se não é o diabo, o que será então etiqueta sintética, costurada com linha sintética até em roupas 100% algodão?
Qual de nós mortais nunca teve que buscar correndo uma tesoura - em qualquer lugar que esteja, no meio de um dia de trabalho, numa festa, jantar, velório - para tirar a etiqueta de uma roupa que estava pinicando?
Se não é o diabo, que imbecilidade motiva a indústria de roupas a costurar as etiquetas com linhas de nylon – mais sintéticas que garrafas pets? Pior ainda. Às vezes, a própria etiqueta é sintética de cabo a rabo. E vem costurada com pontos tão miúdos e apertados que fica impossível retirá-la sem danos à peça.
Linhas e etiquetas sintéticas são o demo em pessoa - pinicam, arranham, provocam alergia.
E o pernilongo então? Não é o diabo encarnado naquele minúsculo voador de fino e persistente motorzinho? Noite amena, banho delicioso, lençóis limpos, quarto cheiroso. Você, na expectativa do melhor sono da vida, apaga até a mais suave luz do cômodo, deita, acomoda-se e fecha os olhos.
Zummm! Lá vem o maldito, saído das profundezas, para enxofralhar sua pretendida doce e perfeita noite. Embaça.
Se não é o diabo, o que serão então as tampinhas e lacres dos comestíveis nacionais?
Na Europa, USA, Argentina, Uruguai... você compra um iogurte, um leite, um suco, água, pacote de biscoitos, latas de sardinha, atum, segue as instruções do modo de abrir e funciona. A tampa, o selo, o fio saem inteiros, deixando o produto prontinho para ser consumido. No Brasil, não. Eles quebram rasgam, racham, saem pela metade.
É ou não é o tinhoso infiltrado na linha de produção?
Já viu bico dosador de azeite, embalado aqui, funcionar efetivamente como dosador? Aliás, funciona - como cachoeira.
Já viu rolo de papel higiênico abrir sem que seja preciso arrombar a cola da primeira volta, destruindo junto muitas outras voltas? Na França, Portugal, China... sim. Aqui, nunca.
E vale para todas as marcas, de todas as texturas e preços. A cola, seguro, estará sempre grudada nas tais muitas outras voltas do rolo. E, se a necessidade for muito premente, só golpes ferozes de todas as unhas conseguem o feito de romper o lacre. Isso, claro, destruindo um terço do papel em questão, para que ele comece, efetivamente, a rolar e servir ao que se propõe.
Por que, hein? Não pode ser só maldade, incompetência, ou técnica safada para multiplicar o lucro. É coisa do maligno, sempre tarado por infernar nos detalhes. A tinta amarela da cabeleira do Trump, por exemplo. Coisa dele.
O papel higiênico, coitado, pode render um tratado de belzebuzices.
Nos ambientes de trabalho, com banheiro coletivo, o cão tinhoso não falha. No modo tentador, o cornudo paralisa as mãozinhas do colega que usa a última volta do papel higiênico. Tomado pelo egoísmo advindo do tendeiro, não pensa que seu sucessor naquele compartimento só dará pela falta do papel depois de realizada a necessidade.
E o tinhoso fica ali, na espreita do constrangimento. Adora a cena.
A vítima, tentando não comprometer seu underwear, sai furiosa a cata do papel salvador. É isso ou improvisar com o caroço dos rolos – sempre de papelão. Nada apropriado para função limpeza.
Bom não esquecer que, embora no século 21, por obra do mesmo atormentador, aqui ainda são raras as duchas higiênicas nos banheiros públicos ou coletivos. E ducha, ainda coisa do canhoto, molha. Assim, também não dispensa o uso do, naquele momento, sagrado papel higiênico.
Call Center não é coisa do chifrudo?
Correntes de oração e assemelhados também são armação dele. Seguro.
Gente que encontra você na porta do banheiro e emenda conversa sobre as razões do Bigbang não é coisa do maldito?
Publicidade que precede a notícia na internet não é ação direta do das trevas?
Ofertas de serviços em ligação para o seu celular – qualquer hora do dia e insistente - é demanda dele, vá?
Olhos grudados no celular na mesa de refeição é outra satanice.
Declaração de IR é coisa do tinhoso. Crise, reforma da previdência, mau humor, fanáticos de todas as vertentes, sala de espera de médico – marca pras 15H, atende às 20h -, aeroporto lotado, taxi com rádio ligado em pregação de pastor ou padre, carro da pamonha, criança chorando em avião, gente que você pergunta como vai? e conta como vai a família inteira... Tudo ação direta do chifrudo, que fica lá, na espreita, às gargalhadas.
Só pode.
O jurupari, pai do mal, danado, tentador montou barraca neste 2016. Desfez e fez. Inferniza. Aqui e alhures. E, ainda por cima, por sorteio das profundezas, dessa vez veio de véio e com preferência pela letra T. Ele, no detalhe.
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