Contraditório, mas é limitando gastos e congelando suas aplicações por 20 anos que o governo quer se fazer mais eficiente na contraprestação de seus serviços e nas responsabilidades genuínas do Estado, como educação, saúde, segurança e previdência públicas.
As novas gerações em todo o mundo, graças ao avanço da medicina e da tecnologia, viverão mais; além dessa premissa, cálculos atuariais elementares dão conta de que não há como sustentarmos o modelo de aposentadoria que hoje vige no Brasil. Nos Legislativos, nos quais, sabidamente, imperam o abuso e a falta de critério, é possível identificar a forma trapaceira como, para a grande maioria de seus beneficiários, aposentadorias foram construídas. No Judiciário, igualmente. Sempre que comparadas tais remunerações com o conferido a ocupações idênticas na iniciativa privada, constatam-se absurdos revoltantes. E, nas polícias militares, independentemente do Estado da Federação, é possível ver oficiais reformados com menos de 50 anos de idade.
Não há caixa que possa devolver a qualquer de seus beneficiários em aposentadorias muito mais do que recebeu de contribuições. Acrescentem-se ainda os valores de pensões pagos aos cônjuges e descendentes desses aposentados, quando assim justificadas.
Da mesma forma, um senador ou deputado, federal ou estadual não pode se fazer beneficiário de aposentadoria proporcional ao tempo de cumprimento de dois mandatos eletivos, enquanto ao restante da sociedade que trabalha na iniciativa privada se impõe a obrigação de recolhimento de 35 anos de contribuição previdenciária.
Muita coisa tem que ser mudada; a sociedade tem que ir às ruas para exigir justiça nos cortes propostos e que também se operem horizontalmente mudanças profundas nos demais poderes do Estado. A meia-boca, sem atacar na essência, não há como se acreditar em nada. E, pior, estaremos perdendo uma oportunidade histórica de se fazer justiça com o dinheiro público.
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