Agora um fenômeno semelhante aconteceu nos Estados Unidos: Donald Trump venceu as eleições. Ele é um isolacionista. Defende o encolhimento dos norte-americanos em relação ao mundo, a ponto de ter sugerido a criação de um muro na fronteira com o México – e prometido enviar a conta para os mexicanos. Também fez declarações racistas, antifemininas, homofóbicas, xenofóbicas, antirreligiosas. Seu lema é fazer os Estados Unidos grandiosos outra vez. À custa de muita gente, pelo visto.
Há dois aspectos aqui: a retórica de campanha e a personalidade de Trump. Muito do que ele disse, logo será descartado como exagero do calor da disputa, como já aconteceu em relação às piadas machistas que ele contou. Conversa fiada, descartou ele. No entanto, Trump é arrogante, narcisista, cioso de seu sucesso. Encarna bem o tipo “winner”. A frase que o tornou conhecido foi “você está despedido!”, em que ele exercia o papel de mando sem pejo, embora num programa de televisão. Nacionalista extremado, acha que seu país, por ser o mais forte, é também o melhor. Ganhou o jogo da seleção natural. Portanto, suas ideias e seus princípios são os melhores. Essa lógica não tem lógica, mas é usada. E ele acredita nela.
Se apelar para essa pseudossuperioridade, essa agenda de povo escolhido, poderemos ter sérios problemas na ordem mundial. Ameaças à paz poderão ocorrer. Trump, mais do que Putin, me lembra muito o atual presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-Un. Além dos horríveis cortes de cabelo, têm em comum o vocabulário de desafio, de guerra. Enquanto Kim fala apenas para manipular seu povo, Trump terá armas de fato à disposição. E, em tese, poder para usá-las.
Todo presidente norte-americano age de maneira mais ou menos igual. O Prêmio Nobel da Paz Obama foi um guerreiro, jogou bomba em muitos lugares, matou inocentes, só não divulgou os números com ênfase. Seus antecessores fizeram o mesmo, com muito barulho na mídia. Trump conta com um Congresso que o apoia, mas não lhe dará carta branca para qualquer ação. Para governar, deverá ceder. Mesmo dentro de seu partido, uma boa parte o rejeitou. Ele, entretanto, não é burro. Saberá negociar.
O mundo está em choque. Bolsas caem, todos se perguntam o que aconteceu, preveem o pior. Trump logo se tornará conciliador. Como empresário, sabe que precisa cativar a mídia, amansar o público, blefar. Depois agirá, e o verdadeiro Trump virá à tona. Trump, em inglês, quer dizer contar bravata. Esperemos que toda a ameaça que agora o mundo sente não passe disso. Uma bravata de mau gosto.
Luís Giffoni
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