terça-feira, 15 de novembro de 2016

Com o fracasso do comunismo e do capitalismo, a solução é o socialismo democrático

Muita gente acreditava que o mundo fosse acabar no ano 2000. A decepção foi grande, porque nada mudou, a população continuou crescendo e passou dos 6 bilhões de habitantes. Mas o que aumentou mesmo foi a pobreza, consolidando uma situação de “brutal desigualdade” que manchou o surgimento do novo milênio, segundo a declaração oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). Naquela época, todos já sabiam que o comunismo havia fracassado e não mais existia na Rússia nem na China. Mas esse relatório da ONU no ano 2000 mostrou que também o capitalismo havia fracassado, pois o fosso entre a riqueza total e a miséria absoluta continuou se aprofundando.

Essa tese eu já vinha defendendo desde 1978, quando dirigia a “Revista Nacional”, que circulava encartada em jornais de mais de 20 estados e tinha a maior tiragem da imprensa brasileira. Escrevi naquela época uma série de artigos sob o título “O fim das ideologias”. A repercussão foi intensa, a ponto de provocar discussões formais no curso da Escola Superior de Guerra.

A opção que restou foi o socialismo democrático, que é um mix de capitalismo e comunismo e está demonstrando sua viabilidade como modelo político nos países nórdicos, que já conseguiram chegar a índices satisfatórios de justiça social, qualidade de vida e oportunidades de ascensão para as camadas menos privilegiadas. Trata-se de uma realidade que ninguém pode contestar.

No caso específico do Brasil, que é a oitava economia do mundo e tem a quinta maior população, o que fizemos foi cultivar uma jabuticaba política, criando um regime muito doido, no qual convivem o capitalismo selvagem e o socialismo estatal.

Em entrevista a Mônica Bergamo e Reynaldo Turollo Jr., na Folha, o ministro Luís Roberto Barroso lançou nesta segunda-feira uma interessante frase de efeito, ao se referir ao supersalário de juízes e à apropriação indevida de recursos públicos pelos agentes do Estado.: “O modelo no Brasil não é propriamente capitalista. É um socialismo para ricos”.

Ilustrações sarcásticas criticam a sociedade moderna:
Na verdade, o regime brasileiro nada tem de socialista, mas nada mesmo. Chamar de socialismo o SUS, o Bolsa Família, o ensino público e o Minha Casa Minha Vida, sem a menor dúvida, é um deboche inaceitável. A possibilidade de um estudante pobre entrar numa universidade pública é de apenas 2%. O regime vigente no Brasil é o pior tipo já testado no mundo contemporâneo – um capitalismo sem risco, meramente financeiro, em que os investidores são desestimulados a aplicar recursos em atividades produtivas. Simplesmente investem o dinheiro financeiramente e ficam arrecadando juros sobre juros. São os chamados “rentistas”.
Em seus trabalhos de previsão econômica, há cerca de 150 anos, Karl Marx e Friedrich Engels criaram a expressão “rentier” para denominar o capitalista que não investia em produção, apenas se dedicava a especular.

Daí se originou a palavra “rentista” em português. Marx e Engels previam que a ascensão do “rentismo” derrubaria as atividades produtivas do capitalismo. É exatamente o que está acontecendo hoje no Brasil, que desde o governo do sociólogo ex-marxista Fernando Henrique Cardoso (“Esqueçam o que escrevi”) resolveu inventar o capitalismo tropicalista sem risco, que em poucos anos elevou a dívida pública à enésima potência e causou essa crise sem precedentes.

Não dá para acreditar que FHC tenha lido Marx e Engels. Se o fez, não entendeu nada, porque seu procedimento no governo brasileiro veio apenas a confirmar as previsões da “Teoria da mais valia”, escrita em 1863. E o Brasil, que comprovadamente é o país com maior potencial de crescimento econômico no mundo, está literalmente quebrado.

No meio desse caos, chegam a ser patéticas as críticas a Marx e Engels, pois comumente são atribuídas a esses dois humanistas as atrocidades praticadas por déspotas como Josef Stalin ou Pol Pot. Ora, Marx e Engels eram pacifistas e defensores da liberdade de imprensa, jamais se leu uma única linha deles propondo matar opositores ou censurar jornais.

Está patente que o comunismo não deu certo, mas isso não significa que os dois pensadores estivessem totalmente errados. Pelo contrário. Foi a adaptação de suas teorias que conduziu ao socialismo democrático e à busca do Estado do bem-estar social, que já vigoram nos países nórdicos, enquanto os brasileiros, em termos humanitários, continuam na Idade da Pedra Lascada, com os maiores índices de homicídio do mundo.

O mais importante de tudo isso é lembrar que nada se consegue fora das vias democráticas. Não adianta chamar os militares para ocupar o Planalto e fechar o Congresso. É uma ilusão verdadeiramente obsoleta.

Para olhar para a frente, antes é preciso olhar para trás, estudar os maiores benfeitores da humanidade – os grandes avatares do pensamento filosófico, social e espiritual, que nos influenciam até hoje. Pela ordem de entrada em cena – Krishna na Índia (3 mil anos antes de Cristo); Lao Tse na China (1.300 a.C.); ao mesmo tempo, Moisés no Egito e Oriente Médio (1.291 a.C), Buda na região do Nepal/Himalaia (600 anos a.C.); pouco depois, Confúcio no Nordeste da China (550 anos a.C.); logo em seguida, Sócrates na Grécia (469 a.C.); o próprio Jesus Cristo na Palestina, com a abertura da atual nova Era; e Maomé (570 depois de Cristo).

Para mim, ser comunista é comungar com todos os avatares e compreender a mediocridade dos seres humanos, que 5 mil anos depois de Krishna continuam se deixando levar pelos interesses individuais, ao invés de se curvarem à prevalência dos interesses coletivos. Na nossa era, por enquanto é conveniente seguir o exemplo do socialismo democrático dos países nórdicos, pois o comunismo somente será alcançado daqui a muitos séculos (talvez, milênios). Então, vamos em frente. E que assim seja.

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