Pois se trata de uma presidente que ainda é, mas está deixando de ser, e um vice que a está substituindo por dias e provavelmente estará pelos próximos dois anos e é acusado por ela de lhe ter dado um golpe para derrubá-la.
De um lado, Michel Temer montando sua equipe e abandonando sua postura de aguardar “muito silenciosa e respeitosamente” o julgamento do Senado. De outro, Dilma Rousseff agindo como se estivesse começando o mandato, e não encerrando.
Quem a conhece bem acha que essa tentativa de reação, porém, chegou tarde demais. Há um ano o jornalista Thomas Traumann, que foi porta-voz do seu governo, alertou em um relatório que o Brasil caminhava para o “caos político”. Não foi ouvido. Por isso ele acha que ela vai lutar até o fim, já que “não é o tipo de pessoa que desiste” e, pode-se acrescentar, que reconheça seus erros — a não ser, talvez, o de ter escolhido mal o mesmo vice duas vezes.
Sendo assim, aqueles que alimentavam a esperança de uma renúncia presidencial devem esquecer. De fato, é difícil imaginar que uma pessoa como Dilma Rousseff, que não admitiu ter errado nem sob tortura, faça agora uma autocrítica em relação a sua administração.
A então guerrilheira Vanda impressionou os torturadores com a sua resistência, e chegou a ser apelidada por um deles de “Joana D’Arc”. O problema é que o que era virtude naqueles tempos de trevas, a intransigência, transformou-se hoje em pecado para quem faz política.
Como nessa novela de suspense não se adiantam os novos episódios, fica-se sem saber o que vai acontecer daqui pra frente no país. A única certeza é que a culpa pela péssima escolha dos personagens principais foi nossa, dos espectadores.
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