Na visão da megabancada cristã, a Câmara virou um campo escolhido pelo Senhor para manifestar seus desígnios. Os deputados seriam apenas peças movidas por Ele. Mas seria sobrecarregar Deus além da conta forçá-lo a decidir entre a infantaria de Eduardo Cunha e a tropa de Dilma Rousseff? Mais fácil supor que, depois de criar o universo, Ele terceirizou a política ao Diabo.
Muito já se disse e escreveu sobre assunto nos útimos sete dias. Mas você deveria gastar um pedaço deste domingo para fazer uma introspecção. Pode ser após o despertar, barriga colada à pia do banheiro, enquanto espalha o dentifrício pelas cerdas da escova. Levando a experiência a sério, depois de bochechar e lavar o rosto, você enxergará no espelho, no instante em que erguer os olhos para pentear os cabelos, o reflexo de um culpado.
Indo mais fundo no processo de autoexame, você verá materializar-se diante de seus olhos o óbvio: parlamentares não surgem por geração espontânea. Eles nascem do voto. E talvez você levante da mesa do café da manhã convencido de que a crise no sistema representativo exige uma atitude. Um gesto individual e consciente. A crise não admite mais que o eleitor se mantenha exilado no conforto de sua omissão política. Intima-o a retornar à história, para moralizá-la.
O primeiro passo é o abandono da cômoda retórica de que os políticos “são todos iguais''. Não são. A igualdade absoluta é uma impossibilidade genética. Bem verdade que o excesso de roubalheira faz todos os gatunos parecerem pardos. Mas a magia de momentos como esse é a possibilidade de redescobrir uma verdade que dá sentido à democracia: para os eleitos inconscientes, o eleitor impaciente é um santo remédio. Lembre-se: 2018 em aí. Você tem duas opções: ou vota direito ou continua se comportando como um deputado.
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