Ainda esperançoso, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) diz esperar que agora se abra “um debate jurídico sobre o assunto, diferente do que aconteceu na Câmara”. Mas ele está errado. Trata-se de um processo essencialmente político, não há condições de mudar o julgamento em instâncias superiores, como ocorre em ações judiciais, nas quais se pode perder em três instâncias e depois reverter a situação no último tribunal, o Supremo.
Se Dilma tem de arranjar sete votos, a oposição precisa de apenas para completar os 54 de que necessita, em busca da cassação da presidente. Acontece que, entre os 15 que ainda não revelaram os votos, há sete senadores do PMDB, partido que vai assumir o poder, e mais dois integrantes de legendas que fecharam questão a favor do impeachment e já se preparam para integrar o governo Temer – o PP e o PTB.
Além disso, há mais um voto considerado certo contra Dilma – o de Fernando Collor (PTC-AL), que se prepara para reviver as emoções de um impeachment presidencial.
Ou seja, o placar já pode ser fechado em 58 a 23, no mínimo, e ficarão faltando quatro votos para Dilma se salvar. Esta é a realidade, não adianta sonhar, embora isso ainda não seja proibido.
Chega a ser uma perversidade submeter a presidente Dilma Rousseff a esta tensão permanente, em meio às promessas vãs dos assessores e aliados. É como se ela estivesse submetida à chamada tortura chinesa, que vai aumentando o sofrimento da vítima dia após dia.
Atualmente, Dilma não perde oportunidade de dizer que foi torturada no regime militar, mas nunca revelou quem o teria feito. Muitos militantes foram torturados até a morte, como Rubens Paiva e Stuart Angel Jones, irmão de nossa querida amiga Hildegard Angel. Outras vítimas fizeram questão de denunciar seus algozes. Uma dela foi a atriz Bete Mendes, deputada federal expulsa do PT em 1985, por ter votado em Tancredo Neves contra Paulo Maluf. Ela reconheceu o coronel Brilhante Ustra e o transformou na figura mais execrada das Forças Armadas.
No entanto, Dilma jamais denunciara seus torturadores.
Na verdade, ninguém sabe ao certo se Dilma Rousseff, presa aos 22 anos, foi torturada ou não, porque nunca dissera nada a respeito. Não consta depoimento dela nos arquivos do grupo Tortura Nunca Mais nem no livro “Mulheres que foram à luta armada”, de Luiz Maklouf, de 1998.
Surpreendentemente, em 25 de outubro de 2001, quando ainda era secretária de Minas e Energia no Rio Grande do Sul, filiada ao PDT, em depoimento à Comissão Estadual de Indenização às Vítimas de Tortura (Ceivt) de Minas Gerais, ela afirmou que havia sido supliciada em Juiz de Fora, e até conseguiu ser indenizada.
Contraditoriamente, dois anos depois, em 2003, Dilma deu entrevista a Luiz Maklouf e não tocou no assunto das atrocidades supostamente sofridas em Minas Gerais, porque se referiu somente a torturas que teria sofrido nas prisões do Rio Janeiro e de São Paulo. Certamente, estava de olho em outras indenizações estaduais.
Desta vez, Dilma Vana Rousseff enfrenta uma tortura verdadeira, causada pela derrocada de sua trajetória política e pessoal. O suplício acontece em público, noticiado por toda a mídia, dia após dia, e ainda deve demorar sete meses, até o julgamento final pelo Senado.
Para seu próprio bem, Dilma Rousseff deveria se livrar da influência de seus conselheiros políticos e renunciar logo ao mandato, para pôr fim a esse martírio absolutamente desnecessário. Mas parece que pretende ser torturada até o juízo final. Espera-se que não venha a exigir nova indenização.
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