Figuras de torpe extremismo que não suportam a democracia porque ela enseja adversários, coisa percebida como alvo de cusparadas, tortura e paredão. Deveriam ter o mandato cassado, mas, para tanto, o Brasil precisaria redescobrir o valor da democracia nos limites que ela implica. Enquanto isso, vigora o fetiche da liberdade total, uma impossibilidade tirânica.
Tratando-se de pessoa de caráter degradado, mesmo esse currículo mínimo é fraudulento porque raramente menciona a participação dela na terrorista VAR-Palmares. Não, ela não foi torturada “porque mereceu”, mas porque o Estado criminoso agia fora da lei. Falar em merecimento legitima os crimes daquele regime e obriga a legitimar os do castrismo ou os de Vargas porque tortura e terrorismo não têm lado, exceto aquele oposto ao da civilização.
Muita gente afirma ter sido feliz na ditadura, convicta de que os crimes do regime são inventados, só atingiram “quem merecia” ou são pequenos perante o bem que produziu. Ora, não foram a tortura e o assassinato que evitaram o Brasil se tornar uma ditadura comunista, pois o regime era forte o bastante sem apelar à selvageria; e degenerados como Ustra também eram dispensáveis para o tal milagre econômico do regime estatizante, burocrata e anticapitalista. Nasci com a ditadura já instalada e também fui feliz naquele tempo – apesar dele; é que mesmo sob ditaduras há festas de aniversário, incontáveis primeiros beijos, bailes de adolescentes, almoços de família, noites doces e dias luminosos porque a plasticidade do espírito humano encontra brechas de felicidade na amargura.
Contudo, descobrir que a ditadura brasileira fazia o mesmo que qualquer outra da Cortina de Ferro, por exemplo, me encheu de nojo e indignação; assim também vivo sob o mafioso Estado lulopetista. Repudio ambos. Mas, no país onde o óbvio tem versões, não surpreende que as redes sociais desqualifiquem a votação numa crítica velada ao resultado que, insistindo na mística vigarista de que os crimes do lulopetismo são invencionices ou pequenos perante as bondades dele, escandalizaram-se com erros de concordância nominal e verbal, as homenagens à família e a evocação a Deus.
Entre as homenagens odiosas, celebrar a família foi apenas bizarrice inofensiva. Nas redes e em certo jornalismo desfigurado, sensíveis espíritos republicanos toleram que o jeca compre aquela gente semiletrada e cristã, mas não admitiram que ela ameaçasse a laicidade do Estado quando apelou a Deus ao votar. A laicidade se manteve, graças a Deus, e a presidente criminosa se danou. Condição insuficiente, mas indispensável para que no país desterrado do próprio futuro o óbvio se imponha: não há lado que redima um Estado criminoso nem fim que o valide.
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