domingo, 24 de abril de 2016

Apenas um milagre

Enquanto se discute a decisão da Câmara dos Deputados que autoriza o processo de impeachment, fica claro que para ter-se chegado a esse momento, valeram, mais que complôs, as escolhas desastradas da presidente.

Embora pese a incapacidade de se relacionar com um congresso, que se apresentou ao mundo no último domingo com toda sua tosca crueza, a desventura veio do petrolão, ápice da corrupção planetária, e da crise econômica que fez explodir o desemprego, milhares de empresas com a sequencial derrocada do comércio. Isso sim, explica os 367 votos de domingo e as ruas cheias de insatisfeitos pressionando o legislativo. Dilma em 5 anos e 3 meses de governo frustrou a nação, escalou o vértice de impopularidade.


Num país superdotado por natureza, com uma população “jovem”, com amplas fronteiras inexploradas, com jazidas inestimáveis, com potencial de crescimento que o coloca a frente de qualquer outro país, vem sofrendo no governo de Dilma um encolhimento sem precedentes.

Juros estratosféricos, gastos desregrados crescendo constantemente acima do PIB, desperdício e má aplicação de recursos em efêmeros Estádios, ainda em obras fora do Território Nacional, quando falta infraestruturas básicas e logísticas. O endereço das escolhas faz crer que não se priorizam os problemas fundamentais, mas os interesses de empreiteiras e obras que desviam recursos.

O fracasso deste governo não se deve as ideias mais recentes do socialismo ou do comunismo internacional que o PT traz consigo dos seus primórdios. São erros de execução e de improvisação. A China, metódica e com alvo traçado, mostrou o caminho do crescimento e do resgate do IDH mantendo-se comunista. Transformou-se, e ainda ajudou com seu exemplo os países do Leste Europeu, antigo bloco soviético (onde Dilma tem a origem familiar) a superar limitações e atrasos socioeconômicos.

Se o antecessor de Dilma abusou de anabolizantes para alavancar a economia, lesionando colateralmente os órgãos vitais, ela em cinco anos não conseguiu afrouxar o sucesso. Não superou o que de negativo herdou, nem preservar o que de bom encontrou.

A infelicidade dela apagou o mito de Lula. Errou ao intervir no setor elétrico, persistiu nos erros da Petrobras que virou a maior produtora de escândalos de corrupção. Permitiu abusos de juros e tributos descabidos. Sem programas definidos, a presidente esfolou o setor de biocombustíveis, asfixiou as indústrias, inviabilizou através do cambio a competitividade do Brasil.

Em 2014, abriu as comportas para se reeleger e esvaziou as reservas.

As agressões ao código foram dribladas com pedaladas, sem compromisso em corrigir efetivamente as causas e partir para a austeridade inadiável.

Em 2014, o crescimento do PIB se deu em apenas 0,1% que com uma população crescendo 1,4% ao ano, sinalizou o primeiro grave retrocesso. Seguiu-se uma queda de 3,7% em 2015, com Dilma lamentando a falta da CPMF (com essa teria o PIB caído mais de 5%). Obstinou-se, no começo de 2016, deixando industrias desistirem de existir, e com isso acelerar a queda sobre quedas do PIB, que atingiu 4,4%, resultado dos últimos 12 meses medido em março 2016.

O conjunto da obra é medido em números assustadores. A reação da opinião pública e da Câmara dos deputados dificilmente seriam diferentes de quanto registrado, no domingo último.

O pronunciamento na ONU de quarta-feira respalda o desnorteamento, Dilma está pensando em si mesma e não no país. Acredita numa perseguição, e subestima que as consequências não foram piores apenas pela incrível tolerância do povo brasileiro, quase sem limite, em ser maltratado
Dilma soltou as rédeas para bancos e empreiteiras.

Com os bancos ganhando desaforos pelos juros demenciais que pesam sobre a dívida pública (R$ 501 bi pagos em 2015); com empreiteiros pilhando barbaramente a Petrobras, as obras deslumbradas da Copa e da Transposição; com os sindicatos embarcados na proa; com a oposição silenciada pelo mesmo pecado original. Tudo, enfim, colaborou para que os erros de Dilma se empilhassem na porta do Planalto.

O governo dela tem traços economicamente insustentáveis e altamente destrutivos, agravados por um Congresso Nacional de baixo nível, mal-intencionado, aproveitando-se de forma perversa.

O governo e as estatais distribuídos para desfrute de aliados, de profissionais do estilingue. O resultado é isso que aí está. Também as boas propostas que chegaram a sua mesa, a presidente não soube aproveitá-las, nem saindo da boca de prêmios Nobel.

O motor do Estado fundiu, enquanto o comandante ficava na rota dos icebergs.

Dilma se está interessada em descobrir os motivos dos desastres pode usar o espelho do palácio onde mora e questionar a si mesma. Ainda se tem algo de patriótico e de bom para o Brasil, espera-se que o faça com dignidade.

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