Nem Cunha nem Dilma admitem a hipótese de defender-se das acusações, coisa que seria normal no caso de inocência. Como uma quebrou a Lei da Responsabilidade Fiscal e o outro mentiu negando possuir dinheiro no exterior, empenham-se em sepultar os julgamentos antes de iniciados. Querem chegar incólumes ao fim do ano, adquirindo o oxigênio necessário para apagar a memória nacional.
A gente pergunta como foi possível essa transfiguração da legenda que um dia imaginou-se dona da ética e da moral. A resposta surge clara: com raras exceções, venderam-se os companheiros. Trocaram o ideal de mudar o país pelas mesmas concepções e interesses que combatiam. Pior do que esquecer ou não lembrar de seus antigos propósitos é a desfaçatez com que obedecem as novas instruções. Parecem zumbis. Por certo que compensados com as benesses do poder.
De vez em quando é bom lembrar episódios do folclore político. O saudoso mestre Arnaldo Nogueira, pioneiro dos programas de entrevista na televisão, com o inesquecível “Falando Francamente”, nos anos cinquenta, recebia o marechal Cândido Rondon. Velhinho, quase totalmente surdo, o entrevistado mantinha a sagacidade que pautou toda sua vida. Naqueles idos o vídeo-tape não havia sido inventado, todos os programas eram ao vivo.
Como norma, no meio da entrevista, Arnaldo Nogueira fazia um intervalo, informando o convidado de que tomariam “um delicioso guaraná champagne da Antártica”, patrocinadora do programa. Nessa hora entrava no estúdio uma sestrosa mocinha de mini-saia, com taças numa bandeja de prata. Se o entrevistado queria agradar o jornalista, tomava um gole, exclamavam “que delícia” e o programa continuava.
O marechal Rondon custou a entender o intervalo,que só percebeu quando diante de uma taça de guaraná e aí surpreendeu: “Guaraná champagne da Antártica? Eu não bebo essa porcaria”. A tempo em que derramava o líquido no tapete, completou: “Só bebo guaraná ralado na língua do pirarucu!”
Desnecessário dizer que Arnaldo perdeu o patrocinador, mas essa historinha se conta a propósito da recente entrevista que o ex-presidente Lula concedeu ao competente Roberto D’Ávila. Tantas agressões fez o primeiro companheiro aos fatos que o jornalista corre o risco de perder seu patrocinador. No caso, o público admirador de sua capacidade…
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