quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O mar não está para peixe


expressão do título, dita pelo senador José Serra, sintetiza com perfeição a ojeriza dos brasileiros em relação aos partidos e políticos tradicionais. Aquilo que deputados e senadores vêm constatando em seus contatos com suas bases foi confirmado pela pesquisa do Ibope, onde a rejeição às principais lideranças, a começar pelo ex-presidente Lula, mas não exclusivamente a ele, bateu na estratosfera.

Nessa terra arrasada, político algum escapa. Todos estão no limbo. Não se vê saída para hoje nem amanhã, quanto mais para 2018.

É como se o país tivesse um encontro marcado com um tsunami. Guardadas as devidas proporções, se arma um vendaval tal qual o que varreu recentemente a Grécia e a Espanha. Mas com uma diferença importantíssima: nesses dois países o repúdio à forma ossificada de se fazer política encontrou seu desaguadouro, o “Cyriza” grego e o “Podemos“ espanhol.

Já aqui o caos não tem cais. Tudo pode acontecer.

Pode surgir um novo salvador da pátria, numa repetição farsesca de outros episódios de nossa história, como a eleição de Fernando Collor.

No limite, esse salvacionismo pode assumir uma forma orgânica, um partido “novo”, formado à margem da institucionalidade que se proclame apolítico, com o objetivo de ser a expressão de segmentos despolitizados, de valores moralistas e antirrepublicanos.

A crise ética, política e econômica de hoje é terreno fértil para projetos dessa natureza. Podemos, sem nenhum trocadilho, ter em nosso país uma espécie de Cyriza de direita, algo impensável, até agora, por nossos acadêmicos e políticos.

Parodiando o senador Romero Jucá: o mundo formal da política está em um enorme Titanic que afunda cada vez mais, sem seus passageiros perceberem. A pesquisa Ibope é apenas mais uma evidência de um esgarçamento visível a olho nu.

Melhor, a ponta de um iceberg com o qual vai se chocar o grande transatlântico se os partidos tradicionais, governistas ou de oposição, continuarem de costas para os brasileiros, passando ao largo do cotidiano do nosso povo.

A crise de representação afeta a todos e vem de longe.

Tradicionalmente, os partidos no Brasil são pouco mais do que legendas eleitorais, muitas vezes submetidas a projetos pessoais ou caudilhescos. O PT anunciava-se diferente no seu nascedouro, na sua adolescência, mas se transmutou nisso que está aí desde sua chegada ao poder.

Exatamente por ter roubado os sonhos dos brasileiros, o Partido dos Trabalhadores é o mais hostilizado. É quem mais provoca repulsa por ser o símbolo de uma putrefação cujo odor exala do Palácio do Planalto, assim como do Congresso Nacional.

A oposição também é afetada. Não apenas pelo efeito da radiação. Na percepção da população todos os partidos e políticos são iguais, farinhas do mesmo saco, daí a desconfiança geral.

Mas os partidos oposicionistas findam por reforçar essa imagem, tanto por ter uma prática meramente parlamentar, como por estabelecer alianças que não se diferenciam do modus operandi governamental. Afinal, como justificar a relação incestuosa com Eduardo Cunha?

Nas jornadas de 2013 ficou evidenciado o quão profundo era o fosso entre o mundo formal da política e as aspirações dos brasileiros. A disputa presidencial foi uma oportunidade perdida para repactuar a relação entre a institucionalidade e os cidadãos. Neste um ano de crise, de descalabros na economia, de escândalos e escárnios patrocinados pelo lulopetismo, o fosso se alargou, virou um imenso oceano.

É nele que todos podem se afogar em 2018, se não entenderem o recado das diversas pesquisas de opinião. Há tempos elas informam que o mar não está para peixe.

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