quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PT 'curtiu demais o poder', segundo livro de britânicas


O Partido dos Trabalhadores está tão desgastado que perdeu todas as chances de vencer as eleições de 2018. Tal diagnóstico não vem de adversários da legenda no Brasil, mas de duas experientes observadoras britânicas do cenário político brasileiro.

No livro "Brazil Under the Workers' Party: From Euphoria to Despair" ("Brasil sob o PT: da Euforia ao Desespero", em tradução livre), publicado pelo Latin American Bureau no início do mês, as jornalistas Sue Branford e Jan Rocha traçam um retrato desalentador do partido, a quem acusam de ter se preocupado em demasia com sua permanência no poder.

Branford, durante anos especialista da BBC em assuntos latino-americanos, argumenta que uma derrota eleitoral em três anos pode ser uma "bênção disfarçada" para o PT, uma chance de o partido repensar seus rumos e se reconectar com suas raízes ideológicas, uma tarefa nada fácil.

"Entrevistamos membros fundadores do PT e eles mesmos expressaram dúvidas sobre a capacidade de recuperação do partido. Essa crise é séria não apenas para o PT, mas para a esquerda brasileira", avalia a britânica.

Ela e Rocha, colaboradora da BBC e do jornal The Guardian no Brasil, são contundentes na análise da ascensão do PT ao poder. Embora definam como necessário o jogo de alianças com partidos ideologicamente opostos, as britânicas criticam a direção escolhida após o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

"O PT no primeiro mandato de Lula foi imenso, especialmente no que diz respeito à redução dos níveis de pobreza no Brasil", diz Rocha. "Mas o partido acabou simplesmente curtindo demais o poder, o que é até compreensível para quem jamais o tinha ocupado."



"O PT perdeu o foco, que era o de trazer as mudanças prometidas como alternativa à política tradicional no Brasil. Mesmo a política econômica ficou aquém das reformas que eram necessárias para que o país agora não se visse em situação ruim, o que só piora a questão política", diz Rocha.

Lula recebe atenção especial de Branford e Rocha na análise do que "deu errado". Se elogiam a transformação do ex-presidente - de figura temida pelas elites a estadista -, as jornalistas revelam decepção com sua atuação na articulação política.

"O PT tinha um problema grave para governar. Era um partido minoritário que precisava ter controle do Legislativo em um sistema político altamente corrupto", analisa Branford. "O compromisso era necessário, mas o PT também tinha a chance de continuar lutando por mudanças, sobretudo usando os movimentos sociais, para enfrentar problemas também como a corrupção. Mas terminou negando suas origens".

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