quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Não será fácil ajuda alguém que arrasou a própria casa

Há dias (escrevo estas linhas enquanto aguardo a notícia dos cortes pela televisão), em entrevista ao “Valor Econômico”, a presidente Dilma, referindo-se à chance do encaminhamento da sua renúncia ao Congresso, em sua linguagem indecifrável, foi taxativa: “Não saio daqui, não faço essa renúncia. Não devo nada, não fiz nada errado”.

Sem entrar no mérito da sua afirmação, é muito provável que a presidente tenha se referido, ao falar em tom de irritada soberba contra os poucos que querem derrubá-la a qualquer preço, ao responsável pela sua existência. Na realidade, Lula, retrato mais do que fiel do astucioso, embora se considere um dos “çábios” deste século, foi o maior responsável pela sua eleição. Mesmo assim, nunca pensou na criatura, somente nele e na sua volta triunfal à Presidência da República.

A propósito, astucioso é aquele que revela astúcia. Astúcia, por sua vez, é habilidade em enganar, lábia, manha, artimanha, ardil. São atributos, infelizmente, de muitos políticos do Brasil atual, mas ao ex-presidente Lula o adjetivo se encaixa como uma luva. O que disse sobre a perda do grau de investimento do nosso país, em relação ao que disse em 2008 sobre o mesmo assunto, é outra prova do que digo.

Entrando no mérito, porém, é preciso reconhecer, por dever de justiça, que da parte da presidente houve decisiva contribuição para tornar ainda piores as coisas no país, tanto na economia quanto na política. E desse julgamento ela não ficará livre nem hoje, nem amanhã.

Na semana passada, depois de dizer que Sandra Starling criticou Lula no prefácio do livro “Sacerdotes da Revolução”, de Tilden Santiago, Ancelmo Gois (“O Globo”) realçou este trecho: “Enveredamos pelo endeusamento de um líder autêntico, porém medíocre, da classe operária… E criamos um caudilho. E aceitamos – aos poucos fomos aceitando – que ele mandasse no partido que nós criamos”.

No dia seguinte, o mesmo Ancelmo, na mesma coluna, referindo-se mais uma vez à ex-deputada pelo PT, disse que Sandra engrossa a Ordem dos Petistas Arrependidos (OPA) e publica charge de mais 12 saudosos integrantes da nova ordem, a saber, em pé, Fernando Gabeira, Marina Silva, Chico Alencar, Vladimir Palmeira, Heloísa Helena e Eduardo Jorge; e agachados, Francisco Welffort, Hélio Bicudo, Marta Suplicy, Luciana Genro, Cristovam Buarque e Luiza Erundina.

Sandra só revelou, no prefácio do livro de Tilden, o que muitos petistas, que deixaram o partido ou ainda estão sofrendo com o que parte da cúpula fez dele (com Lula à frente), gostariam de revelar.


Depois das manchetes “Dilma amplia corte, mas só vai zerar déficit com imposto”, “Dilma determina corte de R$ 20 bilhões nas despesas” e “Dilma projeta fazer cortes de mais de R$ 22 bilhões”, que acabo de ler nos jornais “O Estado de S.Paulo”, “O Globo” e “Folha de S.Paulo”, a presidente, finalmente, deu o seu ar da graça: os ministros Nelson Barbosa e Joaquim Levy, do Planejamento e da Fazenda, anunciaram que o total do “corte” previsto pelo agônico governo é de R$ 26 bilhões, permitindo, assim, que o aumento de impostos seja menor. E, depois de provar que “cortou na carne” (sic), o governo propõe o que sempre quis: o retorno da CPMF, com prazo, mas sem antes elegê-lo.

Tudo isso aconteceu na segunda-feira. Hoje, diante do corte fajuto, teria pouco a dizer, a não ser isto: não será fácil ajudar alguém que, por sua conta, arrasou a própria casa. Que Deus a ajude!

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