Decepcionou até quem gosta dele. Quase metade dos seus eleitores negaram-se a avaliá-lo como um presidente ótimo ou bom.
Na campanha eleitoral, Bolsonaro não tinha um programa de governo nítido. Ele dispunha de um bordão —"Brasil acima de tudo, Deus acima de todos"— e de um versículo do Evangelho de João —"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". Descobre agora que, embora Deus esteja em toda parte, o demônio controla o Planalto quando não há uma diretriz. Percebe que a verdade à luz do gabinete presidencial não é a mesma ao sol das filas onde se desesperam 13 milhões de desempregados.
Para prevalecer nas urnas, bastou a Bolsonaro surfar na onda do antipetismo e enrolar-se na bandeira antissistêmica. Instalado no Planalto, enviou duas reformas ao Congresso —previdenciária e anticrime— e disse que sua parte estava cumprida. Aliviado, passou a distribuir caneladas em potenciais aliados. Entre eles o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, dono da pauta de votações. Com 28 anos de experiência parlamentar, Bolsonaro não havia notado que o pior tipo de ilusão que pode acometer um presidente é a ilusão de que preside.
A ideia de que o Planalto manda e o Congresso obedece custou o mandato de Dilma Rousseff. O custo da impopularidade de Bolsonaro não será apenas político, mas financeiro. Diante do declínio da credibilidade do presidente junto ao eleitorado, o preço do reconhecimento da legitimidade de sua Presidência no Legislativo vai subir. Mantida a curva descendente do índice de popularidade, a cotação do apoio ficará pela hora da morte. A negociação não se dará no atacado, mas no varejo, projeto a projeto.
Há muitas providências óbvias que Bolsonaro precisaria adotar para fechar o dreno que sorve o seu prestígio. Por exemplo: fechar a usina de polêmicas, regulamentar os hábitos da "filhocracia" tomar distância dos rolos que assediam o primogênito Flávio, desligar Olavo de Carvalho da tomada, trocar o elenco da ala circense da Esplanada (MEC, Itamaraty e Direitos Humanos), higienizar certos ministérios (o Turismo é um bom começo) e fazer política a sério. Mas isso não é o suficiente.
Quando Bolsonaro conseguir parar de conspirar contra si mesmo, terá de dedicar-se a atividades menos estéreis do que falar mal dos outros e elogiar a ditadura militar. Quem sabe encontre tempo para tarefas menores como, digamos, trabalhar. Do contrário, é melhor "jair se acostumando" com os índices de popularidade duros de roer. O capitão foi eleito para resolver problemas, não para se tornar um problema.
A legitimidade de um governante, quando desacompanhada da credibilidade que vem com os resultados, é como o amor do Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes: não é imortal, posto que é chama. É infinita enquanto dura. Mantida a marcha atual, as ruas logo ordenarão: "Pra baixo, volver!"
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