terça-feira, 3 de novembro de 2015

Inclusão social perde brilho com crise no Brasil e América Latina

O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, resumia a princípios deste mês de outubro de 2015 os avanços sociais da América Latina no último meio século: “A esperança de vida aumentou de 59 anos a 75 anos, a mortalidade infantil reduziu-se de 96 por 1.000 a 16 por 1.000, a pobreza extrema caiu pela metade e pela primeira vez na história, há mais latino-americanos na classe média do que na pobreza”.

No Brasil, a queda da renda é muito pior que a queda do PIB. O prognóstico é bem negativo para o futuro, principalmente nas zonas metropolitanas

A síntese de Kim não detalhava que esses avanços se interromperam quase por completo na década perdida dos anos oitenta. E que devem muito ao que Eduardo Gudynas, do Centro Latino-americano de Ecologia Social, chama da “conjugação inesperada”na década vencida (2004-2013): “Os altos preços de matérias-primas geraram maiores excedente e reforçou-se o papel do Estado no combate à pobreza”.

Gudynas sublinha que se privilegiaram as compensações em dinheiro, em referência a programas de transferência de renda como o brasileiro Bolsa Família. Houve também avanços na redistribuição dos rendimentos, embora a América Latina continua sendo, de longe, a área mais desigual do mundo. Guillermo Calvo, da Universidade Columbia, teme que os lucros sociais não consigam se manter: “O déficit fiscal leva a um ajuste. Pode ser que as transferências aos pobres se mantenham, mas vai se tirar do investimento, o continente crescerá menos e serão criados menos empregos”, prognostica. “Muitos dos que ingressaram nas classes médias vão cair de nariz.”

No caso do Brasil, a desaceleração da economia já cobra fatura na área social, segundo o economista Marcelo Neri, ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Dilma. "A desigualdade parou de cair no país e agora ela está andando de lado. O que me preocupa nessa era de desajustes de contas públicas é que a desigualdade não vai voltar a cair nos próximos anos e estagnamos em um nível alto", afirma Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV-RJ e ex-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).

O especialista explica que nos últimos anos, a melhora na distribuição de renda brasileira não se deu apenas pela implementação de programas sociais, como o Bolsa Família. Segundo Neri, o fator que mais contribuiu para melhorar a vida dos 40% de brasileiros mais pobres foi o aumento da renda média do trabalhador. Durante a última década, a parcela mais pobre do Brasil viu seus ingressos crescerem 5,8% ao ano. "Ou seja, avançava muito mais que o PIB brasileiro, sendo que, desse valor, 3,9% vinham da renda do trabalho. Eles subiram na vida porque trabalharam, pois o mercado estava aquecido e algumas questões estruturais avançaram, como a educação. Claro que os programas sociais deram um empurrão, mas a maior parte veio do esforço do trabalhador", explica.

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