terça-feira, 3 de novembro de 2015

O ano político terminou?

Prevista para hoje, uma reunião do Conselho de Ética da Câmara deverá examinar o pedido de deputados da oposição para abertura de processo contra Eduardo Cunha, por quebra do decoro parlamentar. A acusação é dupla: manter contas bancárias na Suíça sem participação à Receita Federal e haver mentido numa CPI, dizendo não possuir dinheiro fora do país.

No Conselho de Ética as opiniões se dividem. Metade de seus integrantes entende haver motivo para a cassação do mandato de Cunha. A outra metade rejeitará o pedido. Até que os trabalhos se iniciem, à tarde, mudanças na composição do colegiado poderão acontecer. O presidente da Câmara tenta formar maioria em seu favor, para livrar-se liminarmente da acusação. Como são os partidos que indicam seus representantes, pressões vêm sendo feitas sobre suas bancadas e seus líderes.

Parece certo que, se o processo for iniciado, jamais se terá algum resultado antes do segundo semestre do próximo ano. A tramitação é demorada, com prazos para o relator a ser escolhido e a defesa.

Eduardo Cunha controla a maior parte do plenário, instância decisória final para a sorte de seu mandato. A impressão é de que escapará, caso não surjam fatos novos, como as manifestações do Procurador-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal. O provável é que nenhuma solução venha a ser adotada antes do final de 2016, quando vence o período do deputado na presidência da Câmara. Seu mandato parlamentar encerra-se em fevereiro de 2019.

Inegável tem sido seu desgaste, mas daí até à cassação a distância surge razoável. Atuando como verdadeiro líder da oposição, responsável pela defecção de boa parte da bancada do PMDB, o deputado fluminense tem na manga carta de reconhecido valor, o pedido de impeachment da presidente Dilma. Vem protelando sua decisão de aceitar e dar seguimento ao processo, ou arquivá-lo. Corre no Congresso a existência de um acordo de preservação mútua entre o palácio do Planalto e o presidente da Câmara. O governo influenciaria deputados da base oficial para posicionarem-se contra a cassação de Cunha, enquanto este congelaria o pedido de afastamento de Dilma. Um conluio à margem do conteúdo das acusações de um lado e de outro, muito comum entre nós, apesar de podre.

Em suma, salvo inusitados, o ano político parece haver terminado. A menos, é claro, que a crise econômica se torne pior do que já está, transformando-se em crise social. Nessa hipótese, poderia não sobrar ninguém. Nem Dilma nem Cunha. E nem nós…

A greve é um direito do trabalhador. Mas tudo tem limite. Em Brasília, professores, funcionários públicos, bancários – parou todo mundo. Existem, porém, categorias que a ética e a lógica impedem de fazer greve, mas fazem. Os médicos, por exemplo, deixando doentes graves sem atendimento. Pior ainda: os funcionários do necrotério e dos cemitérios. Ontem foi dia dos mortos, que nem direito a ser enterrados tiveram…

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