Um congresso reunindo os maiores caçadores do mundo fazia sucesso no coração da África. Numa clareira, no meio da selva, cada um dos participantes esmerava-se em contar as façanhas mais corajosas. Ao final de cada intervenção, o orador era aplaudido.Quanto mais leões e leopardos tivesse matado, mais palmas e gritos de entusiasmo. Foi quando o Gaguinho, célebre caçador de onças do pantanal, levantou-se e exclamou “Hip! Hip!” ao que a assembleia completou “Hurra! Hurra!”. Mais duas vezes, com os olhos fora da órbita, ele repetiu “Hip! Hip”, seguindo-se vibrantes “Hurra! Hurra”, com tentativas de carregar nos ombros o caçador mais corajoso, que abatera oito leões com uma única bala no fuzil.
Foi quando chegou um hipopótamo e comeu todo mundo. Ninguém percebeu que o Gaguinho estava alertando para o avanço da fera…
Conta-se a historinha onde os hipopótamos são carnívoros, a propósito de outro congresso, se não de caçadores, ao menos de mentirosos, reunido na Praça dos Três Poderes. Derramam-se todos em veementes exortações a respeito de a impunidade estar varrida do Brasil e de que quantos meteram a mão nos dinheiros públicos sofrerão as penas da lei.
Pois o Gaguinho, que também é deputado, já começou a alertar, mas ninguém presta atenção. Trocando as sílabas, ele denuncia que Eduardo Cunha, presidente da Câmara, não será punido. Que manterá seu mandato e sua função, por conta do alegado benefício da dúvida, da liderança e das manobras que executa junto aos colegas e pelas ligações com o palácio do Planalto.
O problema para os nossos caçadores é o hipopótamo que se aproxima, fantasiado de povo. Não dá para imaginar o cidadão comum permanecendo mergulhado na indiferença. Acabará ganhando as ruas, sem a certeza de suas manifestações acontecerem pacífica e ordeiramente, como as mais recentes. E não se pense que centralizadas apenas na figura de Eduardo Cunha. Há montes de caçadores sendo flagrados em assaltos à Petrobras e demais empresas públicas. Dos 513 deputados e 81 senadores, quantos mantém contas secretas na Suíça e em variados paraísos fiscais? Quantos receberam dinheiro podre para as campanhas e mil outros objetivos?
O hipopótamo está com fome e revoltado diante do desemprego em massa, da alta de impostos, taxas e tarifas, da redução salarial, da deterioração dos serviços públicos e da violência crescente.
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