Argumentos
jurídicos podem ser despejados em cascata para justificar a liberdade do
ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, concedida em habeas-corpus pelo ministro
Teori Savaski, do Supremo Tribunal Federal. Mas parece no mínimo vingança da
natureza que no mesmo dia, quarta-feira, tenha sido conhecida a delação
premiada do empresário Augusto Ribeiro de Mendonça, da Toyo Setal, braço
brasileiro de uma multinacional japonesa. Porque o agora candidato à diminuição
da pena a que será condenado revelou haver a empresa repassado 152 milhões de
reais a título de suborno, por orientação de Renato Duque, para o clube das
empreiteiras conseguir contratos com a Petrobras. Aliás, 4 milhões foram doados
a campanhas eleitorais do PT.
Os outros 148
milhões foram distribuídos entre dirigentes da Petrobras e políticos de
variados partidos, registrando-se que um subordinado de Renato Duque na estatal
petrolífera, o ex-gerente Pedro Barusco, por enquanto preso, comprometeu-se a
devolver 248 milhões depositados em bancos na Suiça. Ele também pretende uma
condenação menor, aguardando-se com curiosidade sua delação premiada,
certamente mais explosiva ainda.
Dá para
entender que um ladravaz confesso se encontre fora das grades apenas porque o
ministro Teori considerou que dinheiro depositado no exterior não justifica
prisão preventiva? Mesmo tendo sua origem sido confessada?
Não se passa
um dia sem que mais detalhes do escândalo da Petrobras ganhem as manchetes.
Pelo jeito, não só da Petrobrás, mas conforme depoimento de outro bandido, por
sinal cumprindo pena em casa, estão envolvidas várias empresas públicas
encarregadas dos setores hidroelétricos, rodoviários, ferroviários e ligados a
portos e aeroportos. Toda essa roubalheira aconteceu nos últimos anos,
parecendo difícil ter sido ignorada pelo primeiro escalão do governo.
Só falta,
agora, conhecer a lista de dezenas de políticos implicados nesse assalto aos
cofres públicos na forma de contratos superfaturados, escolhas fajutas de
empreiteiras, propinas entregues a partidos e centenas de milhões desviados
para o exterior.
Pode um
governo conviver com tamanha lambança? Agora que se aguarda a composição do
novo ministério, que tal se candidatarem o Tigrão, o Melancia e o Eucalipto?
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