quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Donald Trump: o presidente da decadência norte-americana

Durante os últimos 107 anos, desde o final da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos têm ocupado uma posição central na política internacional, resultado de uma conjugação de vários fatores: capacidade de atrair capital e mão de obra, economia pujante, forte poderio militar e contínuo desenvolvimento tecnológico.

Ao longo de décadas, as principais personalidades das áreas do conhecimento foram atraídas pelos EUA, com algumas das melhores universidades do mundo. Mais, o país criou um sistema industrial com capacidade para desenvolver e comercializar inovações, mesmo que as surgidas em outras geografias, apesar de, economicamente, estar ancorado em energias sujas, como o petróleo e seus derivados e o carvão, matérias-primas que têm em abundância.

Acontece que o mundo, hoje, vive uma mudança de paradigma tecnológico, com a descarbonização da economia. Energias renováveis, utilização de produtos recicláveis e a redução do uso industrial do carvão são algumas das marcas do novo tempo.

As novas tecnologias voltadas para a preservação do meio ambiente dependem, contudo, na maior parte das vezes, de apoios públicos até atingirem a maturidade. Mesmo a Tesla, considerada uma das primeiras empresas de sucesso de automóveis elétricos, teve apoio de 465 milhões de dólares do Governo Obama, sem os quais não teria conseguido decolar.

Toda a mudança de paradigma tecnológico possibilita o surgimento de novos protagonistas tanto no âmbito empresarial quanto de regiões que antes produziam menor quantidade de riquezas. Nesse mundo novo, porém, estruturas consolidadas podem ficar para trás, devido a escolhas equivocadas.

Trump, dentro do que é geralmente chamado de política transnacional, aliou-se a setores que estão do lado contrário da inovação, para tentar frear as mudanças. Juntou-se às empresas de petróleo, ao setor do carvão, bombardeia as normas que exigem a redução da emissão dos gases de efeito estufa para favorecer os grupos que o financiam e ao seu grupo político.

Os Estados Unidos têm capital suficiente para, como têm realizado desde que se tornaram centrais no sistema econômico, comprar os direitos das inovações tecnológicas e atrair talentos, oferecendo-lhes melhores condições para o avanço de pesquisas, mas a opção tem sido por bombardear a política migratória.

Em termos de mão de obra, o Governo norte-americano ataca o setor da saúde, ao reduzir o financiamento público a programas como o Medicare e o Medicaid, o que deixa sem tratamento milhões de norte-americanos com menos recursos, além de desestimular e desinvestir em vacinas, provocando o ressurgimento de doenças que estavam praticamente erradicadas no país.

Na área da educação, a retirada de livros de bibliotecas e o dirigismo nos currículos das disciplinas, que passam a estar voltados para a louvação de uma visão deturpada da grandeza americana, ignoram, intencionalmente, a escravidão, o racismo e as desigualdades sociais e minam a criação de um sentido crítico, fundamental para o desenvolvimento de qualquer país.

Apenas duas áreas são estimuladas, mas que pouco contribuem para o desenvolvimento do país. A inteligência artificial, que o Governo Trump propõe que seja completamente desregulada, o que facilita a difusão de desinformação, e a cripto economia, que vive em uma zona escura da legalidade, valhacouto de ganhos do tráfico de drogas, da sonegação fiscal, do tráfico de pessoas e de outras atividades para as quais a transparência representa uma ameaça.

Não só: Trump censura aqueles que discordam de suas posições, destruindo os pilares daquela que ainda é considerada a maior democracia do mundo. Nem mesmo o humor está escapando dessa visão autocrática.

Dentro de alguns anos, ao ser feito o balanço da atual presidência norte-americana, os dados vão mostrar que Donald Trump foi administrador da transferência da centralidade econômica para outras geografias — mais provavelmente, por ter entregado a dianteira para a China, que diz combater
Jair Rattner

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