Restaura a sanidade à amarelinha de nossas glórias e mostra que, mais do que nunca, o gol é detalhe. Em junho de 2021, o caneco em jogo é o da sobrevivência. Parte para cima dos que querem ampliar o placar de mortes contra nossas próprias cores, pede licença ao Tite e adota a única tática possível neste momento da partida – a das boas defesas sanitárias. Craque da rodada é o que fica em casa.
Mostra, meu caro Neymar, que você cresceu, o menino já não mais te habita as idiossincrasias, e, em nome dos arquibaldos e dos geraldinos que se foram com a Covid-19, assuma de voz grossa. Não vai ter Copa. Veste as chuteiras da humildade, esfrega a máscara na cara desses cartolas assediadores de vírus e se negue ao vexame de mais um 7 a 1 dentro de casa.
O Brasil já perdeu para a pandemia seis Maracanãs lotados de torcedores e, agora, meu Gabigol, os que restaram não querem saber de levantar Copa alguma. Querem levantar os filhos no colo, os netos nos ombros, a pessoa amada no abraço e brindar de vinho a vida futura. É hora de chamar o jogo para si, Richarlison, entrar de sola na ignorância nacional que campeia fora das quatro linhas e, sob os aplausos da torcida, tirar vitorioso o time de campo.
Perguntem ao Everton Ribeiro, que organiza o jogo no meio de campo. Num momento desses ninguém distribui passes, distribui cepas, variantes vindas de jogadores de todos os cantos do planeta. Contra esse esquema do mais terrível dos adversários, a morte, é inútil avançar os beques, recuar os halfes ou ressuscitar o WM. A única chance de vitória é vacinar em dois toques.
O Brasil tem agrupamentos notáveis, como os cientistas de Manguinhos e os ritmistas da Mangueira, mas são os 11 da seleção canarinho, com a incomparável mistura de inteligência e jogo de cintura moleque, aqueles que melhor resumem o orgulho nacional. Eu te asseguro, meu jovem Lucas Paquetá, vai ser uma redenção dos nossos horrores, uma pausa nas humilhações, se todos vocês, a pátria em chuteiras, dispensarem o bicho e em protesto abaixarem o meião diante da convocação insana.
O jogo de futebol, com suas regras seculares, disciplinas e exaltação dos talentos, é um dos mais deliciosos simulacros do processo civilizatório da Humanidade, e definitivamente, meu zagueirão Marquinhos, não há nada de civilizado em adentrar o gramado e enfrentar uma multidão assassina de vírus com o único e notório recurso do carrinho por trás.
Já bastava, meu caro Alisson, a clássica angústia do goleiro na hora do pênalti e eis que agora constata-se que há no Brasil quem esteja jogando contra o Brasil. Neguem-se aos que negam as evidências e caiam fora da loucura de enfrentar a pandemia com passes de trivela. Uma Copa dessas não tem turno, returno ou fase classificatória. É tudo mata-mata.
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