sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

O enigma

Para mim é um verdadeiro enigma a trajetória de Bolsonaro pela vida. Ele já declarou, mais de uma vez, que não nasceu para ser presidente. Que nasceu para ser militar, que ama a farda. Como compreender, portanto, que ele tenha cursado uma academia militar que permitiu que realizasse um sonho para de lá sair varrido depois de muitas quizumbas e implicâncias com seus chefes?

Resolveu então que seria político. Depois de muitos anos como deputado, sem realizar nada pelo Brasil, candidatou-se a presidente da República e como um fenômeno, foi eleito. Isso mesmo, de deputado inepto, como um relâmpago, virou chefe da Nação. E o que mais alimenta minha curiosidade: queixa-se da posição que ocupa e diz que sua vida ficou insuportável depois que foi parar no Planalto.

Para quem vive neste país tão grande com um governo tão minúsculo, esse é um verdadeiro enigma.


Bolsonaro se queixa e nós o que fazemos? Aturamos e vamos em frente à espera de um milagre. Aturamos o quê? perguntam os desmemoriados ou os distraídos. Para esses sugiro a página 3 de O Globo de ontem, um verdadeiro tesouro para os historiadores do futuro.

O jornalista Ascânio Seleme ocupa seu espaço com um “ajuda-memória” que será de grande auxílio para quem for estudar o Enigma. Ele lista os atos e fatos que ocuparam nossas manchetes neste janeiro que hoje finda. Impressiona saber que tudo aquilo ocorreu sem nenhuma consequência imediata para o país.

Consequências virão, é só ter paciência. Nada fica impune neste mundo de Deus.

Seleme só deixou de fora de sua listinha de horrores um comentário fantástico do ex-capitão numa de suas lives absolutamente fakes: “os índios só querem ser como a gente, querem ser humanos”. Se não foram essas suas palavras exatamente, esse é o sentido principal do que ele disse. Pois é.

Também na ótima página 3, a coluna de Luis Fernando Veríssimo. Como sempre nosso maior colunista brilha a ponto de ofuscar nossos olhos. Ele recorda o “Marielle presente” da arquibancada do Sambódromo no Carnaval de 2019. Lembra “o grande silêncio em meio à batucada” sobre o assassinato de Marielle, silêncio que afronta o carioca. Na verdade, Luis Fernando nos faz sentir que Marielle está presente e Moro ausente.

Luis Fernando encerra sua coluna dizendo que espera que, nas arquibancadas da vida, não nos esqueçamos de gritar, sempre, “ Marielle presente!”.

Melhor gritar “Marielle presente e Moro ausente!”. A insistência às vezes provoca milagres.

Tenhamos fé.
Maria Helena RR de Sousa

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