Portanto, salvo alguma loucura presidencial incontornável, ainda não será neste nem no próximo Carnaval que Bolsonaro e Moro brincarão separados. A performance do morde e assopra tem feito bem a ambos. Ao ministro, as mordidas só proporcionaram consolidação da popularidade; ao presidente, os assopros propiciam recuos usados como “provas” das intrigas de oposição.
A depender da preferência política do freguês, são vistos alternadamente nos papéis do “bom” e do “mau”. Assim vão caminhando ambos ao molde de um esquete de humor nem sempre de bom gosto. Nenhum dos dois se aflige, enquanto na plateia (dentro e/ou fora do governo) os desesperados se contorcem, de regozijo ou dissabor, a cada novo episódio da série cujo epílogo ainda está para ser escrito.
Ainda não é agora que Moro e Bolsonaro vão brincar o Carnaval separados
Não é que se trate de uma encenação com roteiro bem pensado e escrito a quatro mãos. Há evidentes e reais insatisfações, desconfortos e divergências de parte a parte. Estas estão patentes no noticiário desde o capítulo inicial, em fevereiro de 2019, do veto a uma indicada (Ilona Szabó) de Moro para suplente no Conselho Nacional de Política Criminal.
Foi o único caso em que Bolsonaro ganhou a parada de Moro nas redes sociais, dado o não alinhamento da cientista política à cartilha bolsonarista. De lá para cá, quando esteve do lado oposto ao do interesse do presidente, o ministro posicionou-se em consonância com as expectativas daquele eleitorado. Donde sentou praça no topo da popularidade governamental e na antessala das preferências de voto para presidente em 2022.
Vamos ser francos: ninguém é imune à inveja, e Bolsonaro talvez se remoa quando vê Moro fazendo as vezes de uma versão civilizada dele em entrevistas, debates e confrontações em geral. Se, e quando, o ministro diz alguma barbaridade, a gente nem sente, tal a fidalguia no trato.
O então juiz provavelmente não tinha na cabeça (embora pudesse ter no radar) uma candidatura presidencial quando aceitou o cargo de ministro. Fez sentido a alegação de dar um “upgrade” na tarefa que se impôs no combate à corrupção. Meio ingênuo no começo, nesse um ano ele aprendeu várias coisas.
Uma delas, que perspectiva de poder é poder. Daí a forte probabilidade de, incensado pela mulher, já ter incluído a Presidência no cardápio. Outra lição é sobre o valor da frieza e as vantagens da paciência.
Assegura apoio à reeleição do presidente e qualifica indicação ao Supremo como “interessante” para manter frio o outro tema. Já Bolsonaro se debate um pouco mais, dá bandeira, embora não seja louco de rasgá-la. É uma dupla do barulho, mas cada qual age do seu jeito de modo a aproveitar, e usar adiante, os frutos do sucesso garantido pela plateia que aplaude, vaia e os mantém em cartaz.
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