terça-feira, 8 de outubro de 2019

'Tá com a sua mãe', disse o pai, Bolsonaro

Eu sei que quem diz “a porra da árvore” em ato público para garimpeiros, sabendo que seu discurso será transmitido internamente e no exterior, não pode cair muito mais baixo. Mas, como sou mulher, mãe e avó, continuo a me incomodar profundamente com a grosseria machista desse presidente e, claro, de seu entorno. Porque é bonito imitar o líder.

Por isso, todos se sentem no direito de expressar pelos poros e pela boca sua falta de educação. Cortesia e dignidade é o mínimo que se espera de representantes do povo. Mas não. Então, o ministro da Economia Paulo Guedes diz que tchutchuca é a avó, o diretor da Funarte diz que nossa maior atriz é sórdida...e por aí vai. O exemplo vem de cima. Se bem que é difícil, vindo de Jair Bolsonaro, usar a expressão “de cima”. 


Para quem não viu ou leu, Bolsonaro papeava com simpatizantes (ele hostiliza os “antipatizantes”) no portão do Palácio do Alvorada, no sábado, em sua moto, quando um homem, não identificado, perguntou a ele onde estava Fabrício Queiroz, ex-PM e ex-assessor de seu filho Flávio Bolsonaro. Era uma provocação do homem. Um presidente normal reagiria de outra forma.

Todos sabem que Queiroz foi motorista da família Bolsonaro, muito amigo do presidente, passou vários cheques para a primeira-dama Michelle (que depois foram qualificados de pagamento de empréstimo de R$ 40 mil), foi funcionário durante 10 anos de Flávio Bolsonaro. A amizade com a família presidencial é tanta que o senador Flávio pediu ao Supremo a suspensão de todas as ações no Ministério Público e no Tribunal de Justiça do Rio que o envolvem no caso Queiroz. Foi atendido pelo ministro Gilmar Mendes.

Refrescando a memória de todos, o ex-PM, que se trata hoje de câncer em São Paulo, foi acusado de comandar um esquema de “rachadinhas” no gabinete de Flávio. Ficava com os salários de funcionários. E movimentou R$ 1,2 milhão suspeitos em suas contas. Venda de imóveis, compra de imóveis, venda de eletrônicos, compra de eletrônicos, essas foram as alegações de Queiroz. O ex-PM continua a ser um ex-amigo muito inconveniente para o clã. Mas sempre elogiado por Bolsonaro, o pai.

Estou me desviando do propósito principal deste texto. O propósito é mostrar que basta a menção do nome Queiroz para Bolsonaro perder as estribeiras e botar “a mãe” no meio. Nem tosco ele é mais. O presidente é grosso. E representa o mais puro sentimento do machão que coça o saco em público. Não xinga alguém de “filho do pai”. Bolsonaro não falaria “(Queiroz) tá com o seu pai”. É a mãe, é a avó...tristes são esses homens que não respeitam as mulheres mais importantes de sua família.

Sei que seus apoiadores mais fanáticos adoram a faceta grosseira e mal-educada de Bolsonaro. O que eles dizem? Não adianta criticar o capitão em tudo que ele fala. Vão ter que engolir Bolsonaro até o fim do mandato. Quando o capitão era só deputado do baixo clero, a mãe dele, dona Olinda, disse ao jornal gaúcho Zero Hora que criou o Jair “com amor, muito amor. Não queria que fosse uma criança estúpida, bruta, falasse besteira. Dava comidinha na hora certa...” Dona Olinda disse que o menino Jair “era digno, não era de falar besteira”. Mudou.

Como presidente, Bolsonaro não se comporta como filho de sua mãe. Ela já tem mais de 90 anos e um sorriso terno.
Ruth de Aquino

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