Num governo que não esconde a disposição em perseguir adversários e beneficiar puxa-sacos, a patrulha e o aparelhamento na área cultural chamam atenção pela desfaçatez. A atuação de órgãos oficiais reflete um esforço para asfixiar o pensamento diverso e montar uma máquina de propaganda com dinheiro público.
A Caixa pediu que os funcionários responsáveis pelo processo de escolha de projetos patrocinados pelo banco investiguem as redes sociais de artistas e façam um relatório com “possíveis pontos de polêmica de imagem” para a instituição.
Poderia ser uma preocupação empresarial razoável, mas a papelada cita especificamente “manifestações contra a Caixa e contra governo”.
Bolsonaro é um crítico feroz das políticas de financiamento cultural, mas o primeiro passo de seu governo não foi o aperfeiçoamento dessas diretrizes. Na prática, as torneiras do dinheiro público continuarão abertas —apenas, é claro, para artistas e projetos que estejam alinhados à linha ideológica governista.
Um caso emblemático é a cessão de um teatro no Rio a uma companhia de orientação evangélica. O dramaturgo bolsonarista Roberto Alvim, da Funarte, afirmou que pretende formar um “exército de artistas espiritualmente comprometidos com nosso presidente e seus ideais”.
A submissão de políticas públicas ao personalismo rasteiro é explícita. Bolsonaro já havia seguido esse caminho quando disse, há alguns meses, que implantaria um “filtro” na seleção de filmes atendidos por programas de fomento da Ancine.
Esse não é um mero exercício de conservadorismo. Em períodos autoritários, o país já conviveu com departamentos que trabalhavam exclusivamente para explorar e manipular a cultura a serviço de governantes.
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