O exercício do poder amoleceu o coração de Sergio Moro. Antes de virar ministro, ele se vendia como um implacável caçador de corruptos. Agora se mostra um aliado compreensivo, disposto a perdoar todos os suspeitos que o cercam.
Quando pontificava em Curitiba, o então juiz dizia que o caixa dois era “um crime contra a democracia”. “A corrupção para financiamento de campanha é pior que para o enriquecimento ilícito”, sentenciou, numa palestra em 2017.
Ao pendurar a toga, ele foi confrontado com as confissões de Onyx Lorenzoni, que admitiu ter recebido R$ 100 mil no caixa dois. Generoso, disse que o colega continuava a contar com sua “grande admiração”. “Ele admitiu o erro, pediu desculpas e tomou providências para repará-lo”, justificou.
No caso Queiroz, Moro continuou a tapar os olhos. O Coaf apontou as movimentações suspeitas de Flávio Bolsonaro e os cheques na conta da primeira-dama, mas o ex-juiz não viu nada de errado. Ao ser questionado no Congresso, alegou que as perguntas eram “ofensivas” e saiu de fininho, sem responder.
Cada vez mais longe da sonhada vaga no Supremo, Moro passou do silêncio complacente à defesa aberta do chefe. No domingo, ele correu ao Twitter para defender Jair Bolsonaro no caso do laranjal do PSL.
De acordo com reportagem da “Folha de S.Paulo”, um depoimento e uma planilha apreendida pela Polícia Federal indicam que a campanha do presidente recebeu dinheiro de caixa dois.
Moro disse que o relato “não condiz com a realidade” e que Bolsonaro fez a campanha presidencial “mais barata da História”. “Nem o delegado, nem o Ministério Público, que atuam com independência, viram algo contra o PR (presidente)”, escreveu.
A declaração revela que o ministro teve acesso privilegiado a um inquérito da PF, e já se apressou a absolver o chefe. Além disso, contraria outra promessa de Moro: a de não usar o cargo para atuar como advogado de defesa do governo.
O que diria o juiz da Lava-Jato?
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