segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Querida, encolhi o Moro

Sergio Moro, que entrou no governo como um Super-Homem, foi reduzido a Homem-Formiga.

Aos que gostam de reordenar o passado conforme os acidentes do presente, pode ter parecido uma jogada sagaz de Bolsonaro. Afinal, ele primeiro atraiu e logo estrangulou um forte adversário na corrida de 2022.


Na fase do flerte, Jair ofereceu a Sergio o Coaf, o vigia das transações financeiras. Na do estranhamento, cedeu facilmente a agência à Economia e agora, na da asfixia, prepara sua entrega ao Banco Central, com a degola do servidor que Moro havia colocado na chefia do órgão.

Ocorreu algo parecido com as medidas legislativas preconizadas pelo ex-juiz para combater o crime e a corrupção. O presidente vendeu apoio prioritário antes da largada, mas entregou desdém pouco depois.

A “paz curitibana”, que prometia reger a relação entre o ministro da Justiça e o comando da Polícia Federal, também foi perturbada pelo mandonismo do Planalto. O efeito foi como criptonita para o Homem de Aço.

Tanto maquiavelismo, convenha, não combina com as faculdades intelectuais de Bolsonaro. Mais plausível é que uma combinação de fatos, nem todos sob o seu domínio, tenha estimulado adaptações na sua conduta presidencial, o que concorreu para o esmagamento de Moro.

Nesse processo, Bolsonaro descobriu que a autonomia de órgãos de fiscalização como a PF, a Receita e o Coaf ameaça o seu círculo familiar. Encontrou aliados circunstanciais, caso do presidente do Supremo Tribunal Federal, interessados em podar as asas de agências de controle.

O escândalo das mensagens da Lava Jato escancarou abusos de autoridades investigativas e do próprio Moro. O ministro, no contra-ataque aos hackers, enfiou o pé na jaca dos procedimentos não republicanos.

Sergio Moro beijou a lona, de onde dificilmente vai se reerguer. Resta saber até onde chegará o colossal consórcio que bolina as organizações estatais de fiscalização, agora reforçado pelo presidente da República.

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