Bolsonaro adota o estilo galinha, como Lula. Ambos cacarejam em palanque, acusam, usam símbolos populares, exageram no mau gosto e no “baixo-calão”. Há dias, indagado sobre como preservar o meio ambiente, o presidente sugeriu “fazer cocô dia sim, dia não para reduzir a poluição”. Ou então, “basta um cocozinho petrificado de índio para barrar licenciamento de obras”.
Lula também tinha das suas. No Rio Grande do Sul, em alusão a um túnel na BR-101, mandou:“Não podemos parar tudo por causa de uma perereca, como em Osório. O País não pode ficar a serviço de uma perereca. Nem que eu tiver que me atarracar com aquela perereca, vou andar nesse túnel. E peça para a perereca sair de perto, porque eu vou vir meio nervoso".
Para compreender a importância do cacarejo na política, convém lembrar nossa indentidade. Os estudiosos do ethos nacional apontam imprecisão, adjetivação excessiva, individualismo e exagero em linguagem destemperada, indeterminada, misteriosa. Assim o Brasil balança na gangorra, ora como o melhor dos mundos, ora como o pior. Nesta verborragia, fica fácil pôr um aditivo no verbo e exagerar seus feitos.
Na era moderna, governantes e políticos sobem ao palco do Estado-Espetáculo para acrescentar palmos de altura ao seu tamanho. No Estado Novo, a imagem do Brasil foi lapidada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) getulista. No ciclo militar, mergulhamos no Brasil-Potência. Na volta à democracia em 1986, ouvimos cacarejos de glórias aos planos econômicos do governo Sarney.
Falácias frustraram o povo. Perplexos, assistimos ao marketing do furacão Collor, as extravagâncias de Itamar, as falas elaboradas do schollar Fernando Henrique e o palanque armado de Lula. Sem esquecer o dilmês incompreensível de dona Rousseff. Todos soltando recursos e amarrando apoios.
Na antiguidade, conta-se sobre Temístocles, o ateniense, que não era de cacarejar. Convidado para tocar cítara numa festa, o general declinou:“Não sei tocar música, o que sei é fazer de uma pequena vila uma grande cidade”.
Já os governantes das nossas três esferas federativas manejam cítara, clarineta ou trombone. Como Bolsonaro, que fala pelos cotovelos, atira forte e xinga todo mundo, inebriado pelo poder. Gogol dizia: “Não é por culpa do espelho que as pessoas têm uma cara errada”.A ruína provocada pela pirotecnia inspira o exagero dos governantes.
O governo tem o dever de prestar contas, o que exige boa comunicação. Mas há de usar o canal legítimo, com mensagem apropriada para públicos adequados. É certo mostrar propostas e desapropriado subir em palanque para vender ilusões em troca de aplausos. O Brasil precisa de menos Estado-Espetáculo e mais Estado-Cidadão.
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