Mesmo que a situação tenha atingido tal gravidade, o chefe do governo não deveria assustar os empresários e alarmar a população, que tanto confia nele.
O pior é que não oferece qualquer solução, não cita nenhuma alternativa. Apenas diz que já falou com o ministro Paulo Guedes, como se isso significasse alguma coisa.
Já afirmamos aqui na Tribuna da Internet que o Brasil se tornou uma espécie de laboratório do sistema financeiro internacional. É um país gigantesco, com a quinta maior população e um enorme mercado interno, que pode ser considerado um modelo reduzido do mundo, pois em nenhuma outra nação a miséria absoluta convive com a riqueza total em tamanha promiscuidade.
Pelas riquezas naturais e condições climáticas, é potencialmente o país com maiores condições de se desenvolver sustentavelmente, no entanto a economia está sempre emperrada. A única coisa certa a dizer é que há algo de errado no país, tipo enigma da Esfinge de Delfos – “Decifra-me ou te devoro”.
Delegar a Paulo Guedes a função de recuperar a economia foi uma decisão primária e perigosa de Bolsonaro, porque se trata de um economista totalmente ligado ao mercado financeiro, como ex-banqueiro, consultor e corretor de valores.
Além de ter dado carta branca a Guedes, o presidente Bolsonaro errou também ao aceitar que não se fizesse uma auditoria na dívida interna. Trata-se de uma necessidade óbvia. Quando um executivo assume uma empresa em dificuldades, sua primeira providência é fazer uma auditoria, que não se destina a preparar um calote nos credores nem nos investidores, apenas serve para ter real conhecimento da situação e evitar possíveis brechas de escoamento de recursos.
No caso da dívida brasileira, que é a causa da falta de dinheiro no país, a auditoria iria concluir que o maior problema é que a economia brasileira foge ao padrão internacional. Todos os países minimamente desenvolvidos só operam com juros simples, aplicados ao ano, sistema muito mais vantajoso do que o esquema brasileiro de aceitar juros compostos, também chamados de juros sobre juros, aplicados mensalmente. Esta é a diferença.
Até a gestão do grande brasileiro Itamar Franco, a dívida interna era inexpressiva, o governo pedia mais empréstimos ao exterior, com juros baixos e simples. No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso é que começou a farra do boi dos banqueiros, que não sofreu interrupção.
Se fosse feita a auditoria, seria possível calcular quanto o Brasil estaria devendo hoje, se pagasse juros em padrão internacional, aplicados ano a ano. E assim se saberia também o valor pago a mais com juros compostos, calculados mês a mês.
Para demonstrar a irresponsabilidade do sistema brasileiro (que praticamente só existe aqui), os bancos cobram juros de 322% ao ano nas dívidas dos cartões de crédito, num país cuja inflação não passa de 5% ao ano.
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