Onde está o Ernesto? O figurante sumiu, transferindo a condução de nossas relações com a Argentina ao Bolsonaro pai. E o 00 inovou radicalmente, rompendo as relações diplomáticas com um governo que ainda nem existe. No ato inicial, proclamou que o provável triunfo eleitoral de Alberto Fernández e Cristina Kirchner converterá o Rio Grande do Sul em “uma nova Roraima”. No seguinte, qualificou os líderes da favorita chapa de oposição como “bandidos comunistas”. Qual é a diferença substancial entre as retóricas de Bolsonaro e de Maduro?
Os bárbaros que nos governam são governados por suas próprias redes (anti) sociais. Adianta dizer-lhes que, ao contrário da Venezuela, existem eleições livres na Argentina? Que a vontade popular merece algum respeito? Ou, ainda, que Fernández, o candidato presidencial, um peronista moderado, é antigo desafeto de Kirchner, a candidata a vice? Ou, finalmente, que a Argentina é nossa circunstância geográfica e geopolítica, o vizinho incontornável na estação de trânsito da bacia platina, como constatamos já nos idos do Império?
A arrogância beija a testa nua do ridículo. Paulo Guedes ofereceu-nos uma aula de lógica cartesiana ao explicar que o Brasil crescerá mesmo sob uma hipotética recessão mundial porque, nos últimos anos, retrocedeu em pleno ciclo de expansão global. Na sequência, em genuflexão imotivada, lustrou as botas presidenciais antecipando que, “caso a Argentina feche”, sairemos do Mercosul. Adianta dizer-lhe que o Mercosul não é a União Europeia e o Brasil não é o Reino Unido? Que o Mercosul é o nome da parceria entre Brasil e Argentina? E que, portanto, atingido pelos desaforos do 00, estará virtualmente morto na hora da eventual vitória de Fernández e Kirchner?
Amazônia em chamas — a notícia, oriunda das imagens do Inpe, fez seu caminho até as manchetes dos veículos de imprensa do mundo, junto com a negativa original de Bolsonaro, que a classificou como fake news, demitiu o mensageiro e deflagrou uma onda de agressões gratuitas contra as nações contribuintes do Fundo Amazônia. Agora, depois das invectivas sobre as florestas alemãs e as baleias norueguesas, o 00 reconheceu a amplitude do incêndio, mas apontou um irresponsável dedo acusador às ONGs.
Pária ambiental. O percurso até essa condição exigiu meros sete meses, pontilhados por exposições de ignorância de Ricardo Salles, o ministro do Desmatamento, sobre as mudanças climáticas, e pela explicitação de suas “soluções capitalistas” de abertura das terras indígenas e unidades de conservação à sanha de garimpeiros, mineradores e madeireiros. “Se plantamos em área desmatada, eles não compram”, explicou didaticamente Blairo Maggi, um capitalista que conhece o tema e não milita em nenhuma ONG, concluindo com um alerta sobre a soberba: “Não tem essa de que o mundo precisa do Brasil. Somos apenas um player – e, pior, substituível.”
Logo mais, o Senado sabatinará o 03. Nesse dia, os senadores deveriam ignorar os atalhos de Randolfe Rodrigues e cia., sempre propensos a substituir o debate político por alguma muleta jurídica. Cumpram seu dever, senadores: esqueçam a ladainha ilusória do nepotismo. Perguntem ao chanceler de fato o que ganha o Brasil com o isolamento esplêndido ao qual nos condena a doutrina ideológica emanada de seu mestre místico, o Bruxo da Virgínia.
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