eles se vendem como patriotas. Como religiosos, incorruptíveis e fortes. Estou falando de políticos populistas da extrema direita que não têm papas na língua. Abrem tanto a boca que depois mal conseguem dar conta das frases envenenadas e ignorantes que saíram dela. As consequências são drásticas: vão do soluço político até a morte política por asfixia.
Além do presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Interior e vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, é um dos mais recente exemplos desse tipo de comportamento. Ele rompeu com o movimento Movimento Cinco Estrelas (M5S) e causou uma crise de governo na Itália. O objetivo de Salvini são eleições antecipadas. Ele conta com com uma grande aprovação nas urnas e pretende aumentar seu poder.
Mas esse plano pode não dar certo. O presidente italiano, Sergio Mattarella, em vez de convocar novas eleições, determinou que o M5S tentasse formar uma nova base de governo com outros partidos no Parlamento. Um novo pleito também não garantiria a vitória de Salvini, que está perdendo apoio nas pesquisas.
Outro exemplo é a crise de governo recente na Áustria. Devido a um escândalo de corrupção, o então vice-chanceler federal, Heinz-Christian Strache, teve que renunciar em maio. O político do populista e ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) governava junto com os conservadores.
No Reino Unido, o premiê Boris Johnson causa grandes temores apostando num Brexit sem acordo. Com medo do caos político e econômico, muitas empresas já transferiram suas filiais para a Europa continental. E os escoceses ameaçaram realizar um novo referendo sobre sua independência.
Será que Johnson será o último premiê do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte? Se, depois do Brexit, os escoceses decidirem mesmo por sua independência, a grande Grã-Bretanha passaria a ser minúscula.
Britain first, America first, Brasil acima de tudo – me parece que todas essas frases vazias, mais cedo ou mais tarde, tendem a se voltar contra o próprio país ou o próprio governo. Será que o presidente Donald Trump confunde o "America first" com Trump first?
Ainda na sexta-feira passada, em sua conta no Twitter, Trump disse que os Estados Unidos não precisavam da China. Para o espanto de seus próprios aliados, ordenou que as empresas americanas saíssem da China e voltassem a produzir no mercado americano.
Na cúpula do G7 na França, Trump mudou de ideia, dizendo que não tinha a intenção de exigir que empresas americanas saíssem da China. Ficou evidente: se celulares, televisões, roupas e sapatos ficarem bem mais caros devido a taxas ou maiores custos de produção, eleitores desiludidos poderiam atrapalhar a reeleição de Trump em 2020.
De repente, o autoproclamado patriota se revelou antipatriota ao colocar a própria carreira politica acima de tudo. O risco de uma guerra comercial contra a China, que pode desacelerar não somente a economia americana, mas afetar a economia global, é minimizado até passar a ameaçar um possível segundo mandato. Que revelação maquiavélica!
Parece que esse estilo errático e barulhento de governar está chegado à sua fase da autodestruição. As mentiras, o ódio, a ignorância e as ofensas são como as queimadas na Amazônia, que primeiro são estimuladas, depois minimizadas, e por fim se tornam incontroláveis.
O fogo do caos político que os populistas e ultradireitistas acenderam produz tantas chamas e fumaça que eles podem acabar queimando a si mesmos. No Brasil, as chamas que destroem a Amazônia já chegaram ao Congresso, ao Planalto, às ruas e ao agronegócio.
O governo Bolsonaro, que sempre diz que a "Amazônia é nossa", terá que assumir que a "Amazônia queimada é nossa" também. Provavelmente, ele não verá o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia entrar em vigor, pois a ratificação desse pacto pode se dissolver nas chamas que consomem a Amazônia, assim como a aprovação de seu governo.
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