"Não nasci para ser presidente, nasci para ser militar", disse Bolsonaro nesta sexta-feira, discursando para servidores do Planalto. O Exército discordou da segunda parte da frase, pois expurgou o orador dos seus quadros quando ele ainda era um capitão encrenqueiro. E o brasileiro, tomado pelo resultado do Datafolha, parece preferir que Bolsonaro seja mais presidente da República do que capitão.
É como se o brasileiro, ao tomar conhecimento dos festejos do golpe, indagasse para os seus botões: O que isso tem a ver com o meu café com leite? O problema da ordem que Bolsonaro deu às Forças Armadas é a distância que separa a agenda militar do presidente das aflições do brasileiro. Com o desemprego a pino, 13,1 milhões de patrícios no olho da rua, Bolsonaro imita o avestruz, enfiando a cabeça em 1964. E o Brasil lá longe, atormentado com 2019.
No discurso aos servidores do Planalto, Bolsonaro disse que às vezes pergunta ao Todo-Poderoso: ";Meu Deus, o que eu fiz para merecer isso? É só problema". Muita gente acha essa descontração simpática. Bolsonaro parece humano. Sorri, diz piadas, é informal. Mas tudo isso tende a ser esquecido se o presidente se distancia do café com leite dos brasileiros.
Desemprego uma tragédia? Saúde pública um escândalo? Educação uma tristeza? Não é com Bolsonaro. Ele demorou três meses para notar que as caneladas no Congresso não ajudam na tramitação das reformas que tirarão a economia do freezer. Não há vestígio de novidade capaz de atenuar o descalabro hospitalar. Ricardo Vélez, a piada que foi nomeada para comandar a pasta da Educação, envergonha o país.
Contra esse pano de fundo, o negócio de Bolsonaro é trombetear a tese segundo a qual o golpe não foi um golpe e a ditadura jamais existiu. O capitão ainda não se deu conta. Mas, na condição de presidente, deveria cuidar dos segundos, porque as horas passam. Presidente que mata o tempo comete suicídio político.
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