segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Sem noção e sem nação

Não chega bem a ser novidade. Desde que a gente se auto desobrigou de fazer sentido, qualquer coisa é possível. A pesquisa só confirmou o que já desconfiávamos ou sabíamos. O Brasil é país onde a realidade não importa.

E isso é grave. Na pesquisa “Perigos da Percepção” (“Perils of Perception 2017”) realizada pela Ipsos Mori, o Brasil foi apontado como o segundo pais em que a percepção da população é mais distante que a realidade.

Também explica muita coisa. Não dá mesmo para esperar que boas decisões fluam de percepções equivocadas. Ignorância não constrói. Sem conhecimento baseado em informação, nada positivo vem. Só o engano é o engodo florescem. O sofrimento é a simples manifestação física da ignorância aparentemente crescente, que continua alargando (ou talvez simplesmente mantendo) a distância oceânica entre realidade e percepção.

Ignorância é poderosa. Enquanto conhecimento demora para ser construído, ignorância destrói rapidamente. A boa notícia é que ignorância é condição, não estado. Tem cura simples. Basta uma boa dose de conhecimento diário, voluntariamente consumida pelo paciente. Todos nascemos ignorantes. Mas permanecer assim é escolha.

A má notícia, é que sua cura depende exclusivamente da vontade do paciente. E este, talvez, não deseje ser curado. Ignorância pode não ser solução, mas as vezes ajuda a dormir. E gera autoconfiança, dispensando a necessidade de reexame de posições e pensamentos. E este talvez seja seu aspecto mais perigoso. Ignorantes estão sempre grávidos de certezas.

Não é por acaso que. de acordo com a pesquisa da Ipsos Mori, países onde a percepção é mais próxima da realidade, tem populações com menos certezas sobre a extensão de seu conhecimento, ou a precisão das informações a sua disposição. Sabem que combater ignorância é exercício diário de reexame de ideias e posições. Sem qualquer coincidência, estas são também as nações mais desenvolvidas.

Por outro lado, países onde a percepção da população é mais distante da realidade, prevalece a certeza. Em outras palavras, a população tem mais convicção em suas informações, ainda que estejam erradas. Não é também por acaso, que estas nações estejam no bloco das menos desenvolvidas.

Acesso a cidadania depende e acesso a informação e disposição a rever posições e evoluir. Estas são as bases para a formação de uma verdadeira nação.

Ignorância não forma cidadania. Apenas gente sem noção. E sem nação.

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