Temos um olho clínico crítico e certeiro para apontar e atirar contra os que são diferentes de nós. Estranho, pois, ao mesmo tempo, achamos determinados aspectos diferentes, exóticos bem atraentes. Mas, no geral, formamos grupos que combatem outros que consideramos uma ameaça a nossos estilo, cor, crença, status social ou coisa que valha.
A globalização, o universo internáutico, as redes, os multimeios interligaram tribos impensáveis décadas atrás: supremacistas, coprofílicos, fazedores de explosivos, clubes de leitores de línguas mortas e outras excentricidades que, incrivelmente, são universais.
Mas, nestes tempos em que cada um cuida de si e ninguém por todos, respeitando sem entender a hipnose das telas e as cavernas dos quartos, vejo-me observando um artigo raro e que dará muito Ibope lá na frente. Eu me refiro à capacidade de ser comum. É um dom incrível conseguir sê-lo em tempos de tanto tribalismo e de tanta radicalização. Sem esquecer a especialização, é lógico.
Por exemplo: ter coisas em comum com filhos adolescentes, com pessoas de todas as idades, conseguir conversar animadamente com qualquer tipo de pessoa, contar um caso numa festa familiar e ser ouvido pelo avô, pela filha, pelo neto e pelos convidados sem ninguém usar o smartphone, conviver bem com todas as pessoas do trabalho, independentemente da função, da idade, da formação.
Esses desafios só podem ser superados por pessoas incrivelmente comuns! Vejam: comunicação, comunhão de ideias, vida comunitária têm exatamente a palavra comum em sua composição. A receita é tão óbvia que chega a ser constrangedora: respeitar as diferenças e buscar o que temos em comum são o que mais precisamos para resgatar um mínimo de convívio humano. Pois a doença mais comum é afetiva. Somos carentes de alegria, afago, relaxamento, carinho, compreensão, escuta, prazer. Desperte e pratique o jeito comum de ser. O extraordinário deixe para sonhar ou aplaudir.
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