segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Cinismo dos poderosos

Estamos vivendo num país de podres poderes, como já observou Caetano Veloso do alto de seu eclético saber. Modestamente, acrescento: podres poderes em mãos de poderosos ou parceiros do poder, cujo cinismo constitui hoje galardão de premiadas delações. Delações que, se favorecem o processo judicial, beneficiam antes de tudo os próprios delinquentes, réus confessos de ilícitos penais que já produziram prejuízos aos cofres públicos da ordem de trilhões de reais.

E o cinismo predomina a partir de donatários dos Três Poderes da nossa República, transformados em verdadeiros alcaguetes, delatores de malfeitos de que participaram ativamente mas que, de uma hora para outra, quando se veem encarcerados ou com o risco de ter até seus parentes presos, denunciam com o claro intuito de usufruir de premiação que vai da redução à prescrição de penalidades.


O instituto jurídico da delação premiada, que poderia sim estar sendo usado para o desmantelamento de quadrilhas, está sendo banalizado e servindo para garantir a impunidade de poderosos da política e da economia. Ao que parece, o Estado não consegue êxito nas investigações policiais e do Ministério Público e acaba se aliando aos criminosos para chegar à cúpula das máfias de plantão. O pior é que nem sempre se chega a algum lugar.

Nesse contexto, nem mesmo a magistratura consegue nadar incólume em meio à onda de corrupção que se espalha pelo país. Os juízes que descobrem como e por que condenar são os mesmos que absolvem até mesmo quem já haviam condenado. Seja em primeira ou segunda instância do Judiciário, julgamentos e sentenças contraditórios são uma constante nos tribunais. Não existe lógica nem coerência processuais. O mesmo juízo que condena é aquele que reduz e depois amplia penas já definidas com base em denúncias do Ministério Público.

Juízes, desembargadores e até ministros da alta corte disputam espaços na mídia, mergulhados em enfadonhas discussões que se espalham por membros de poderes igualmente podres ou em estágio de putrefação pelo inevitável contágio pelo vírus da corrupção.

E diante desse quadro atual, como será o amanhã? Será que continuaremos vivendo de espasmos de promessas de reformas salvadoras da pátria? Será que as reformas defendidas com tanta ênfase pelo governo conseguirão anular ou ao menos neutralizar os efeitos deletérios da desigualdade social, cujo ranking tem o Brasil figurando como um dos campeões? Estamos todos em busca de respostas, enquanto se agigantam o caos, a insegurança jurídica e a corrupção.

Gessy Rangel

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