Podem estar cometendo um tremendo erro de cálculo. O vulcão não está morto, no máximo está adormecido. A qualquer hora pode acordar e explodir.
Para os que têm dúvidas, aconselhamos a leitura atenta da pesquisa do Instituto Ipsos, onde salta aos olhos a profunda repulsa dos brasileiros à classe política e a um modelo calcado no divórcio absoluto entre representantes e representados.
O descontentamento é também com a qualidade da democracia brasileira, que para 86% dos entrevistados é desrespeitada tanto pela crise de representatividade como pelos desvios éticos. A ideia de que a lei não é igual para todos e que a corrupção impede o Brasil de ser um país do primeiro mundo é compartilhada por nove entre cada dez eleitores.
Nas camadas subterrâneas desse vulcão estão dois anseios: o fim da impunidade e a renovação política. Nunca foi tão forte no Brasil a busca pelo novo.
O desejo dos cidadãos é varrer o Parlamento em 2018, mandar para casa aqueles que ali estão - muitos há vários mandatos -, sem que tenham servido aos seus eleitores. Deles, só se lembram de quatro em quatro anos, quando precisam de votos.
As ruas já deram este recado nas jornadas de 2013 e no impeachment de Dilma Rousseff. O brasileiro deseja serviços públicos de qualidade, não aceita o desvio de dinheiro público para interesses privados ou partidários, e quer o fim de uma classe política que só pensa e age em função de seus interesses particulares.
De lá para cá, tais sentimentos não arrefeceram, continuam latentes. Não se sabe como e quando explodirão, mas que isso acontecerá não cabe dúvidas. É uma questão de tempo.
A erupção é previsível porque em vez de absorver a demanda da sociedade, de canalizá-la para o aprimoramento das instituições, de elevar a qualidade da nossa democracia, a classe política radicaliza na direção contrária. Pretende tornar o atual modelo mais impermeável à renovação, por meio de regras eleitorais mais engessadas e capazes de assegurar sua reeleição, criando, assim, reserva de mercado eleitoral para os atuais detentores de mandato.
Desgraçadamente, o mundo político transformou-se em uma corporação renitente a qualquer sopro renovador. Ameaçado pela Lava Jato, mandou às favas os pruridos e passou a mirar exclusivamente na sua sobrevivência, num jogo de vale-tudo. E não deu outra: está em rota de colisão com a opinião pública.
Como esse conflito se manifestará nas urnas ainda não é possível prever. Mas, certamente, a sociedade não ficará debruçada na janela esperando a banda passar.
Se os parlamentares pensam que vão escapar com essas manobras, não perdem por esperar. A viralização contra as propostas da reforma política de ocasião bombou nas redes sociais. E olhe que isso é apenas um aperitivo do que os aguarda.
A hiperconectividade democratizou as informações permitindo o exercício da cidadania em tempo real. Esta e outras ferramentas estão hoje disponíveis a qualquer cidadão, por mais remoto que seja o seu rincão. Existe hoje uma constelação de movimentos horizontais que se articulam a partir das redes sociais. Eles já demonstraram seu poder de fogo. É previsível que travem uma batalha aguerrida em torno da ideia da renovação.
Hoje é plenamente possível mapear o desempenho de cada parlamentar e disseminá-lo em sua base eleitoral. Já se foi o tempo em que deputados e senadores podiam cometer seus pecadilhos no escurinho do cinema, e tudo bem.
Talvez o vulcão só acorde em 2018, quando as urnas forem abertas. E aí veremos quem escapará de suas lavas.
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