O Brasil foi descrito tempos atrás por um funcionário do governo de Israel, para indignação escandalizada das esferas oficiais, como um “anão diplomático”. Doeu. Sempre dói, naturalmente, quando o ofendido ouve a verdade, sobretudo se ela bate de frente com questões de amor próprio – e é verdade, sim, que o Brasil tem muito pouca importância no mundo. Seus diplomatas, então, têm menos importância ainda. Fazer o quê? Talvez seja até melhor ficar na categoria de anão, e ser deixado relativamente em paz por este mundo mau, do que ser promovido ao status de país relevante para a geopolítica mundial e acabar como uma Síria da vida, ou uma Faixa de Gaza, Coreia do Norte e outras estrelas da primeira página do New York Times. Mas para quem fica incomodado com a nossa baixa estatura internacional as perspectivas estão abaixo de ruins, e caindo. Como poderia ser diferente, se a diplomacia brasileira faz tudo o que pode para continuar provando ao mundo que o Brasil é um anão? Os últimos esforços do Itamaraty para nos manter como um paisinho de terceira categoria aparecem, à vista de todos, com sua recusa em tomar uma atitude contra essa Venezuela que afunda cada vez mais numa ditadura grosseira e primitiva.
Uma alma otimista poderia achar que as coisas iriam melhorar com o despejo da ex-presidente Dilma Rousseff e do PT do governo. Afinal, junto com o seu antecessor, ela tinha jogado a diplomacia brasileira numa das piores fossas em que jamais esteve durante a história republicana. Deportaram refugiados cubanos de volta para Cuba, insultaram a Itália dando asilo a um homicida condenado legalmente na justiça, declararam que o Brasil tinha conseguido “a paz no Oriente Médio” e daí para baixo e para pior. Parecia impossível que as coisas não melhorassem com o novo governo, certo? Errado. Continuamos, um ano após a troca de comando, a nos comportar como uma república de bananas, sem princípios, sem ideias e sem envergadura moral. A novidade é que a política externa brasileira acrescentou mais um item à sua falta geral de virtudes – o medo. A maneira frouxa com que trata a ditadura da Venezuela é uma consequência direta do pavor que o PSDB, a quem coube mandar no Itamaraty no pós-PT, tem de ser chamado “de direita” pelos adversários. É uma doença de nascença. Não se conhece cura para isso.
Os dois ministros de relações exteriores que o presente governo já teve são aquilo que os analistas chamam de “quadros históricos” do PSDB. Ambos foram exilados durante o regime militar – ao contrário, curiosamente, dos ocupantes do cargo nos tempos do PT, um dos quais, por sinal, serviu gentilmente o governo do general Ernesto Geisel. Como praticamente todos os barões do partido, são “de esquerda” em sua origem, e vivem em pânico permanente de parecerem conservadores. Fazem questão de dizer que são “civilizados”, e têm certeza que nada pode lhes acontecer de pior do que serem confundidos com o antipetismo que está aí. Têm medo de ofender o ex-presidente Lula, os sindicatos, as ONGs, a OAB, a UNE, as greves, os “movimentos sociais”, os padres, os bispos, as em presas estatais, as cracolândias, os quilombolas, os “sem terra”, os jovens, os velhos e o companheiro Nicolás Maduro. Não dá para falar mal do regime da Venezuela, não é mesmo? Eles são gente “de esquerda”. Não podemos ficar com cara de “anticomunistas”. Não podemos ficar parecidos “com o Bolsonaro”. Etc., etc., etc.
O PSDB, cada vez mais, firma sua reputação como um dos partidos mais medrosos do mundo.
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