O meu jururu é estar acabrunhada. Não chego a considerar-me macambúzia, que seria uma espécie de 100% jururu (ei, isso dá camiseta, hein?). Só não estou entendendo como é que as coisas podem acontecer tão sorrateiramente que quando percebemos já nos empurram porta afora, nos impõem limites, censuram, combatem. Proíbem; e proíbem com todo o peso que esse verbo carrega, sempre parecendo estar armado para impor sua ordem, seu veto.
O avanço do ranço disfarçado de patriotismo, que se esgueira ligeiro, como piada por estradas serpentuosas, deve ser percebido e interceptado a tempo. Não é para rir ouvir o barulho de coturnos, falar em marchas, já não mais em caminhadas. Marchas são solenes – é preciso diferenciar uns passos de outros.
Não tem graça. Bolsonaro e os bolsonarinhos não têm graça nenhuma.
Ficar patrulhando se o Caetano segurou uma faixa com vírgula ou sem, ou se o Chico, sim, ele envelheceu, nós também – mas a arte não. Se os Tribalistas voltaram mais discursivos é porque acham que o recado agora deve ser assim, já que a sensibilidade não tem mesmo mais tempo para poesia.
Não é a novela que faz mal, que ensina ninguém a nada. É a falta de escola, a falta de saúde, de saneamento básico, de lógica nas decisões prioritárias que ensina que parece que a população não vale nada.
Não bastasse assistir, também perplexa, diante do silêncio geral da Nação, a tantas aleivosias, tantos tiros, tantas mortes, tantos acidentes, tantos ataques à nossa inteligência e sentimentos. Só nessa semana duas dezenas de mortos em águas doces e salgadas jogados de embarcações inseguras. E empresários combinando – e nós ouvimos as gravações – como economizar em segurança, como roubar, além de dinheiro, as nossas vidas, quando percorremos as estradas em pandarecos.
São perturbadores cúmulos da caminhada retrógrada. Um evento aberto ao público, no tropical Rio de Janeiro, um concerto musical, traz escrito no convite um imbecil dress code: proibido usar saias dez centímetros acima dos joelhos, transparências, decotes, bermudas. Ah, por quê? Por que o evento será na Vila Militar.
– Estás boa, santa? – perguntaríamos anos atrás. Agora parece que estamos com medo. Parece, não. Estamos. Andam muito preocupados com o que vestimos, com quem transamos, quem beijamos. Se ocupam em impor regras pelas réguas deles. Mas não estão medindo o mal que fazem para o futuro que bloqueiam.
Não é normal.
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