Não por acaso, a população está descrente do modelo tradicional de se fazer política. Tudo o que as pessoas veem pela frente é corrupção e roubalheira. A visão popular é de que os políticos estão mais preocupados em garantir seus nacos no poder mesmo que, para isso, seja preciso apear do governo aqueles de quem, até bem pouco tempo, eram aliados de primeira hora. É o que se vê com Temer. Enquanto ele se mostrou útil para os interesses das bancadas que lhe davam suporte no Congresso, manteve uma força incontestável. Mas, ao ser atingindo em cheio por denúncias de corrupção, foi abandonado.
A fragilidade de Temer é tamanha que, mesmo no seu entorno, já começou a contagem regressiva para que ele seja deposto. O primeiro passo para a chegada de Rodrigo Maia à Presidência da República deve ser dado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com a possível aprovação da denúncia contra o presidente feita pela Procuradoria-Geral da República. O peemedebista é acusado de corrupção passiva. Poucos no Palácio do Planalto acreditam que ele conseguirá evitar uma derrota. Temer está cada vez mais parecido com Dilma Rousseff às vésperas de ela cair.
A constatação do derretimento de Temer pode ser medida pela quantidade de dinheiro liberada pelo Planalto para garantir apoio no Congresso. Em junho, pelo menos R$ 1,8 bilhão foi empenhado em emendas parlamentares, quase 20 vezes o comprometido no acumulado dos cinco meses anteriores. Ou seja, em vez de manter aliados na base do governo, a montanha de verbas foi acompanhada de uma debandada de políticos, inclusive de integrantes do partido do presidente, o PMDB. Não há liberação de emenda que garanta apoio a alguém que está caindo de podre. Dilma provou desse veneno.
No mercado financeiro, o pragmatismo também fala mais alto. Nos últimos dias, assessores de Temer mantiveram intensos contatos com investidores para medir até que ponto vai o apoio ao governo. A constatação foi clara. O peemedebista praticamente virou carta fora do baralho. Os donos do dinheiro só querem saber quando Maia tomará posse e qual será o time que comandará o país. Bancos e corretoras querem tirar do presidente da Câmara dos Deputados o compromisso de que manterá Henrique Meirelles à frente do Ministério da Fazenda e de que tocará as reformas, especialmente a da Previdência.
Maia, inclusive, já foi procurado por vários pesos-pesados do mercado. Os donos do dinheiro querem garantir uma transição tranquila até o fim de 2018 e evitar que o vácuo político de hoje seja ocupado pelo PT ou por alguém de extrema direita, como o deputado Jair Bolsonaro. “A saída de Temer já não nos preocupa mais. O que realmente importa é saber se o seu sucessor terá força suficiente para manter o país na linha e fazer as reformas necessárias. Até agora, todos os sinais que Maia nos deu é de que, caso empossado, vai trabalhar pela unidade do país e para corrigir distorções no sistema de aposentadoria”, diz um banqueiro. “É o que temos para o momento. Ninguém aguenta mais a sangria de Temer”, acrescenta.
Entre os investidores, ninguém aposta em uma onda de pânico nos mercados nos próximos dias. “A saída de Temer já está precificada. Daqui por diante, a bolsa de valores e o dólar serão movidos pelas declarações de Rodrigo Maia. Ele se tornou o centro das atenções do mercado”, assinala um executivo de um banco estrangeiro. Para ele, demorou um pouco para os investidores absorverem a possibilidade de mais uma mudança de governo. “Os fatos, contudo, se impuseram. Podem acreditar: com Temer cambaleante, o tiroteio sobre ele vai aumentar muito. Ele não resistirá”, acrescenta.
Resta saber como o presidente se comportará até que chegue o ato final. Por enquanto, ele tem mantido a sobriedade na economia. Todas as iniciativas populistas do governo foram abortadas. A inflação está sob controle, a atividade, mesmo fraca, dá sinais de que está respirando sem aparelhos, o desemprego parou de piorar e os juros continuarão em queda. Se essa rota for mantida, como diz um dos mais respeitados gestores de recursos do país, Temer já irá tarde.
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