domingo, 9 de julho de 2017

A inexorável agonia do rio São Francisco

Publiquei, nove anos atrás, uma crítica ao projeto de transposição do São Francisco, argumentando que ele estava morrendo; portanto, a dispendiosa obra estaria fadada ao fracasso. Baseava-me em minha vivência e em informações de primeira mão do que estava acontecendo na margem direita do rio, desde Lagoa da Prata até Belo Horizonte, Alto São Francisco. A mídia ignora essa porção da bacia, exceto quando enfoca a nascente, na serra da Canastra. Não divulga, então, sérios problemas, justamente na região com maior densidade populacional.

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Na semana passada, obtive novas informações em Lagoa da Prata e observei que a situação piorou muito nos últimos anos. Infelizmente, o Velho Chico está agonizando, sem que haja um projeto consistente para sua revitalização na área onde havia muitos pântanos, córregos, ribeirões e lagoas que contribuíam para o vigor da mais importante bacia hidrográfica inteiramente brasileira.

Houve muitas causas para essa agonia. A ocupação desordenada do espaço gerou desmatamento, extinção de nascentes, atividades agropecuárias de alto impacto ambiental, assoreamento e poluição intensa por esgoto doméstico e industrial. A ausência do Estado para o planejamento adequado da economia, a fiscalização e a educação dos habitantes mantém-se ainda hoje, como se a água não tivesse qualquer importância para a sobrevivência de todos. Lagoa da Prata é um exemplo desse descaso, a 328 km da nascente. Os extensos canaviais têm comprometido muitos córregos e demandam volumosa irrigação a partir do leito principal. A área do município é de apenas 442 km², e, mesmo assim, mais de cem pântanos e lagoas foram drenados nesse território. Os rios Jacaré e Santana perderam muito volume. Felizmente, existe agora uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) que assegura água limpa oriunda dos poços artesianos e de vários córregos após abastecer a cidade. Há também muitos jovens fiscalizando e exigindo solução para os problemas ambientais.

Os problemas da bacia hidrográfica são maiores em relação aos três principais afluentes pela margem direita. Há denúncia frequente em relação ao rio das Velhas, que corta a porção norte da região metropolitana de Belo Horizonte, recebendo o esgoto in natura de grande parte de sua população. O Paraopeba, entretanto, é mais castigado porque atravessa a área industrial, sendo assoreado pelos resíduos da mineração e das empresas e poluído pelos dejetos humanos. Quanto ao rio Pará, parece que sua situação é ainda pior, porque o descaso é generalizado por onde ele passa desde Resende Costa. Ele está coberto de aguapés na barragem do Gafanhoto, próximo a Divinópolis, e, logo à frente, ele recebe grande parte do esgoto de uma cidade com mais de 230 mil habitantes, conduzido pelo subafluente, Itapecerica. O rio São João, que corta Itaúna, encontra-se também em situação deplorável. O Lambari está praticamente extinto na altura da BR–262.

Vamos assistir passivamente à morte do Velho Chico?

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