sábado, 27 de maio de 2017

Para onde vamos?

Os brasileiros se sentem no momento sem chão. Perplexos. Dias atrás viviam tempos de retomada. A inflação refluía. Bem como os juros. A atividade econômica ensaiava uma volta, ainda que tímida. O desemprego caía. As reformas, trabalhista e da previdência, estavam encaminhadas.

As expectativas de mercado eram as melhores possíveis. A Nação começava finalmente a entrar nos trilhos após um longo e tenebroso período nas mãos petistas. Como que por uma hecatombe, tudo mudou. Ou quase. A delação dos irmãos Batista impôs uma nova agenda de crise. Parou o ciclo virtuoso. Embalados pela ideia do quanto pior, melhor, tubarões da ladroagem, oportunistas da pior espécie e arruaceiros de plantão aproveitaram para sabotar o País. Nas ruas, a baderna tomou conta.

Os agitadores promoveram quebra-quebra, tocaram fogo em ministérios, invadiram prédios públicos, impuseram o caos, numa selvageria espantosa. Movimentos ditos de esquerda, como CUT e MST, braços radicais vinculados ao Partido dos Trabalhadores, financiados durante anos por subvenções federais nas gestões Dilma e Lula, empunharam suas bandeirolas vermelhas e palavras de ordem inflamadas para reclamarem, indignados, dos erros de Temer.

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Indignação que faltou quando seus próprios líderes deixaram jorrar bilhões em desvios da Petrobrás, em esquemas de Mensalão e para a corrupção institucionalizada. No Congresso, protagonizando espetáculos ainda mais deprimentes, parlamentares de oposição tentaram impor na marra a tese de só votar projetos de interesse nacional após a retirada de cena do presidente.

Como se a discussão de mudanças vitais e urgentes para todos os cidadãos pudesse ser usada como moeda de troca, na base da chantagem. Estavam se lixando para o melhor em prol do Brasil. Os espertalhões planejaram travar a pauta de qualquer maneira até a obtenção do intento almejado. A retaliação como forma de gerar mais incerteza política, econômica e administrativa movia a patota.

Ao fim e ao cabo a minoria ruidosa e ensandecida dos petistas pretende impor – em afronta aberta à Constituição – eleições diretas antecipadas para, se possível, recolocar seu timoneiro Lula de volta no Planalto, mudando o curso dos julgamentos que devem levá-lo à cadeia. Suprema desfaçatez, mesmo a deposta Dilma, denunciada por caixa dois, entre outros crimes, e acusada de receber milhões dos irmãos Batista, apelou à Justiça para reassumir o cargo. Diz o provérbio que quando o caldo entorna, os ratos são os primeiros a aparecer.

No Senado, o congressista Randolfe Rodrigues deu chiliques. Queria ir às vias de fato com os demais, evitar a leitura de um relatório da comissão que propunha mudanças na Lei Trabalhista. Seus colegas de parlamento, os petistas Lindbergh Farias e Gleisi Hoffmann, investigados por improbidade e comprometidos até o pescoço na Lava-Jato, usaram do mesmo expediente e aos berros, provocando e sem senso de responsabilidade, tumultuaram o quanto podiam. Hoje são esses mesmos aloprados que querem, a qualquer custo, assumir o poder para manter funcionando as maracutaias de outros carnavais.

A forma como o sistema político fará uma reciclagem é a grande discussão que se segue. O presidente Temer prevaricou. Recebeu na calada da noite um empresário e escutou dele relatos absurdos de práticas de gatunagem. Deve ser investigado e, se comprovado seu envolvimento, punido na letra da lei. Isso não necessariamente significa condená-lo antecipadamente.

Apeá-lo do posto na marra e colocar na vaga um aventureiro, pretenso “salvador da pátria”, como muitos arvoram o papel, pode, ao invés de sanar a crise, agravá-la. Não devemos ser indulgentes com o malfeito, mas também não podemos ser alheios aos interesses ocultos. E eles são muitos. Dizem que Temer perdeu as condições de governabilidade. E é bem possível que sim.

Mas a dúvida maior é quem hoje, nesse carcomido cenário político que aí está, reúne as condições para tamanha tarefa? A conversa gravada em áudio está decerto repleta de trucagens. Na denúncia, a principal prova não foi sequer periciada. A frase que induziria ao entendimento de uma anuência do presidente para com um crime não está no contexto. As chances de adulteração não estão descartadas. E nesse caldeirão de incertezas, o presidente recusou renunciar.

Sabe que um processo de impeachment se alongaria por meses e mesmo a alternativa de cassação de sua chapa (ao lado de Dilma), por questões alheias a essas que estão pesando contra si, poderia ser contestada no Supremo, arrastando o assunto por anos – enquanto a Nação sangra sem trégua. Temer ainda tenta convencer os compatriotas, mesmo aliados, que possui condições de seguir no cargo.

Foi de fato o fiador das reformas, como hábil negociador e conhecido traquejo político. Seus eventuais substitutos, boa parte deles cogitados a varejo nas rodas de Brasília, ou descartam a possibilidade ou estão com algum nó para desatar. Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, e natural sucessor, responde a três inquéritos e seria, como Temer, um presidente no cargo submetido a investigações.

O jurista Nelson Jobim, que também disse não, já foi conselheiro de empresas flagradas na Lava-Jato e é visto como preposto de Lula, o que gera ressalvas a seu nome. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, teve passagem como funcionário da J&F e muitos poderão levantar a suspeita de que os irmãos Batista fizeram a delação para derrubar um governo e colocar no lugar alguém de sua confiança. E por aí vai a novela que celebra mais um triste capítulo de nossa história. Nesse momento delicado o Congresso tem que fazer sua parte e os brasileiros precisam estar atentos ao risco de virarem massa de manobra, seguindo como cordeiros para o curral de criminosos contumazes.

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